Os grandes jornais brasileiros, além das televisões, estão fazendo campanha aberta contra a contribuição para a saúde, aprovada por margem apertada ontem na Câmara Federal. É uma campanha clássica, ao estilo das centrais sindicais, expondo o nome dos deputados que votaram a favor, mas não os que foram contra. No final uma tabela de como votaram os partidos. Sem dúvida nenhuma quem andou vendo manchete ou lendo jornais hoje no Brasil está contra o imposto e de algum modo contaminado contra do Sistema Único de Saúde. E aí é que se encontra a grande questão.
Os liberais brasileiros continuam firmes em suas fortalezas ideológicas. Eles compreendem o mundo como a livre iniciativa, a grande concorrência e a justiça para os vencedores. Como vivem em sociedades de massa, apontam o raciocínio marginal que afinal todos ganharão. Não é verdade, seguramente em relação à saúde pública. E neste setor esta verdade só se acentua à proporção de que novas e caras tecnologias são incorporadas ao cenário médico. A saúde pública se tornou um indicador das desigualdades sociais e econômicas (muitos outros existem) e este efeito, com as caras tecnologias, apenas se acentuam. A verdade é que estas tecnologias promovem a longevidade.
Estes jornais estão vivendo num ambiente democrático. Mas não fazem jornalismo, não informam, não confrontam, não debatem. Apenas acusam e como acusam. O mais paradoxal deste conteúdo ideológico é que eles dizem que não existem classes sociais e nem lutas de classe, mas não têm como negar: o jornalismo brasileiro fomenta a luta de classe. Fomenta mais do que qualquer socialista, qualquer membro do MST ou da Via Campesina. Agora mesmo estes jornalistas a soldo de ideologias violentas estão fomentando o ódio da classe média contra o sistema público de saúde.
E é fácil a classe média ser pegue em processo irracional. Lembremos do nazifascismo que a história foi exuberante nisso. Acontece que a classe média que paga plano de saúde, paga imposto mas teve uma renúncia fiscal que se estima em R$ 20 bilhões, mas só vê esta conta pelo lado pagador. Se considerarmos as despesas dos planos de saúde com assistência de saúde e esta renúncia fiscal, as classes médias cuidaram de sua saúde com dezenas de vez mais dinheiro e mais tecnologia e mais desigualdade em relação ao resto.
Os jornais fazem um discurso de revoltados. Ainda não organizaram piquetes e nem quebra-quebra, mas preparam os espíritos para isso. Acontece que a classe média brasileira é protegida com ações de vigilância sanitária e epidemiológica, tem seus planos de saúde regulados, recebe vacinações, têm emergências à sua disposição, sistemas de ambulância e no mais remoto município algum serviço de saúde pública. Isso se faz com recursos públicos e no sentido universal da promoção, prevenção e recuperação da saúde. Não se pode imaginar, como alguns argumentos marginais espalham, que seja o Sistema Único de Saúde um mero prestador de assistência médica. Quem faz isso são os serviços de saúde, o SUS é o próprio dever do Estado com a saúde dos cidadãos brasileiros como apregoa a Constituição.
Finalmente eis o grande partido contra a saúde pública. Antigamente se dizia partido sanitário aquele segmento de militantes que lutava por uma saúde pública. O partido anti-sanitário é formado por: grandes jornais, redes de televisão, PSDB, DEM, PSOL, PPS em total unanimidade. Os demais partidos se dividiram entre o sim, não e não votou. O mais safado de tudo: o presidente do PT não foi à votação e os jornais que fazem campanha contra expuseram ainda mais suas vilanias, destacando este fato no adversário. Mas ora, se é jornalismo planfetário, porque estigmatizar quem engrossou as próprias fileiras.