Alexandre Lucas – Fale da sua trajetória:
Alysson Amancio - Considero o Grupo de Teatro Expressões Humanas da Herê Aquino e a Companhia de Dança Janne Ruth como sendo minhas primeiras experiências profissionais nas artes cênicas. Depois disso trabalhei na Adão

Companhia de Dança e posteriormente no Rio de Janeiro na Cia de Dança da Cidade e na Esther Weitzman Companhia de Dança. Entretanto, creio que o divisor de aguas na minha trajetória sem dúvida foi o Colégio de Dança do Ceará e a minha graduação em dança no Rio de Janeiro. Estreitar os laços entre a minha dança e o pensamento acadêmico me impulsionou a querer ser mais que um bailarino. Projetou-me para coreografar, pesquisar e escrever sobre dança. Entendendo que essa linguagem artística é extremamente poderosa e capaz de transformar a sociedade de forma avassaladora. É com esse pensamento que desde que retornei para Juazeiro do Norte em 2006, que procuro desenvolver minhas atividades, difundindo e aplicando a Dança com todo o potencial que ela aglomera.
Alexandre Lucas – A dança no Cariri é marcada pela diversidade de estilos?
Alysson Amancio - Existe uma ideia muito cristalizada que o Cariri é o celeiro da cultura popular. Temos realmente uma cultura popular riquíssima e que precisa ser valorizada e reconhecida, todavia essa não é a única possibilidade de arte produzida na região. Esse imaginário, lamentavelmente, contribui para que outras manifestações da dança que não seja o reisado, a lapinha e a banda cabaçal não sejam vistos também como representantes da dança caririense.
Aqui nós temos reisados, lapinhas, banda cabaçais, coco, mas também temos balé clássico, dança contemporânea, dança de rua, quadrilhas juninas, dança do ventre, dança de salão, danças sagradas, dentre outros. Enfim, são muitos os estilos para o nosso deleite.
Estou escrevendo um livro sobre a história da dança cênica caririense que será lançado ainda no primeiro semestre de 2012. Espero que a partir dessa publicação novas pesquisas sejam feitas para documentar a dança local, pois, até hoje não existe nada que eu conheça que tenha esse foco.
Alexandre Lucas – Como é trabalhar dança contemporânea na região do Cariri?
Alysson Amancio - Ninguém gosta daquilo que não conhece. O grande trabalho atualmente na região do Cariri é estimular o maior número possível de produções e circulação de espetáculos de dança contemporânea. Quanto mais grupos ou artistas independentes produzirem trabalhos contemporâneos, mais ampliaremos o número de apreciadores e consequentemente o mercado de trabalho. Quando voltei, em 2006, era tudo muito mais difícil, todas as pessoas que produziam dança contemporânea estavam paradas. Felizmente ao longo de varias ações, criou-se um circulo ativo nessa área. Seis anos depois, eu enxergo com muita alegria mudanças concretas no que se refere a produção de dança contemporânea caririense, inclusive em relação ao olhar de fora sobre a nossa fomentação. Os profissionais de dança mais renomados do Brasil me enviam currículo e propostas para vir dançar ou ministrar oficinas em Juazeiro do Norte.
Alexandre Lucas - Qual o papel social do artista?
Alysson Amancio - Essa frase soará um tanto clichê, mas não vejo como escrever outra coisa. O principal papel do artista é transformar o mundo em algo melhor.
Alexandre Lucas - Qual a contribuição social do seu trabalho?
Alysson Amancio - Não trabalho sozinho, eu trabalho com uma equipe que busca cotidianamente ampliar essa rede e agrupar mais pessoas nesse coletivo. Pensamos grande: queremos projetar a dança do/no cariri para o mundo inteiro. Produzir e fortalecer a dança cênica caririense é a nossa grande motivação. Por isso iniciamos esse trabalho exatamente aqui. Toda grande mudança acontece de dentro para fora. Queremos que o garoto do Bairro João Cabral aprecie os espetáculos de dança locais, e num futuro próximo os Cariocas e depois os Parisienses.
Alexandre Lucas - O que representou e representa para você o trabalho de pesquisa?
Alysson Amancio - Não existe arte sem pesquisa. O artista não pode ser medíocre e acomodado. A curiosidade e coragem devem ser os motores da sua arte. Por isso a minha grande luta é para a criação do Curso Superior de Dança no Cariri. Nós já temos as três linguagens da arte. Música na UFC – Cariri e Teatro e Artes Visuais na URCA. Por que não temos dança?
Em 2008, a Associação Dança Cariri fez um abaixo-assinado com os artistas da dança caririenses e recolhemos mais de 2600 assinaturas, entre estudantes e profissionais da dança reivindicando a criação desse curso.
Em 2011, o Centro de Artes Reitora Arraes de Alencar Gervaiseau aprovou o projeto para a criação do Curso Superior de Dança. Agora falta apenas o Conselho Superior da Universidade Regional do Cariri aprova-lo e o Governador Cid Gomes assinar o termo de criação. Infelizmente isso será o mais difícil, pois a sua politica tem demonstrado pouquíssimo interesse em fortalecer nem o ensino, a extensão e a pesquisa no âmbito acadêmico.
Alexandre Lucas – No Ensino Básico do Estado do Ceará existem profissionais habilitados para trabalhar a dança no Ensino de Artes?
Alysson Amancio - Em Fortaleza sim, já que lá existe o Curso Técnico de Dança e o Curso Superior de Dança da Universidade Federal do Ceará. Além disso, o Vila das Artes, da Prefeitura Municipal de Fortaleza através da Secretaria de Educação financia o Projeto “Dançando na Escola”, proporcionando profissionais capacitados atuarem nas escolas formais de ensino.
Nos interiores cearenses a realidade é completamente diferente. No Cariri, por exemplo, são raríssimas as escolas que oferecem dança além das montagens coreográficas em datas comemorativas. As poucas que se arriscam nessa empreitada desconhecem profissionais realmente qualificados para tais funções e acabam empregando profissionais de outras áreas, que muitas vezes fazem um desserviço no que se refere ao ensino de dança.
Alexandre Lucas – O que representa a dança na sua vida?
Alysson Amancio - A dança é a minha vida. Paixão, razão e profissão. Tenho a grande felicidade de trabalhar com o que eu amo. Portanto, defendo e luto diariamente para a valorização e reconhecimento dessa linguagem artística. A dança pode ser utilizada como entretenimento, terapia, atividade física e profissão. São tantas e possibilidades e benefícios, que eu acho muito triste o homem que nunca se permitiu essa vivencia na sua vida.