
Havia no TG 205 do Crato um atirador conhecido por Janjão da Mata, um jovem da nossa zona rural, muito desinibido e brincalhão. Apesar de completamente analfabeto, Janjão demonstrava ser bastante vivo. Uma turma do Colégio Diocesano ao perceber a inteligência e espontaneidade desse jovem, colocava em sua boca muitas coisas engraçadas para quebrar a dureza do preparo físico e das constantes broncas do sargento. Aos dias de domingo, a jornada era maior e, os atiradores eram obrigados a percorrem em marcha uma distância mínima de vinte quilômetros. Entretanto, o sargento instrutor normalmente não observava tal requisito. Próximo do final do ano era realizada uma correição pelo comando da 10a Região Militar. Então o sargento instruiu a turma: “Se o coronel perguntar a vocês quantos quilômetros vocês marcham por semana, vocês respondam: vinte.” Alguém ao lado do nosso Janjão soprou em seu ouvido. E ele imediatamente interrompeu o instrutor: “Sargento, nós num vai dizer isso não!” “Por que, posso saber?” Perguntou-lhe o sargento. E Janjão emendou: “O senhor disse que nós num deve mentir.” A essa insinuação, o sargento não perdeu tempo: “Muito bem TG, em forma! Vamos agora marchar até a Ponta da Serra e voltar de lá correndo!” E Janjão não perdeu tempo: “Precisa não sargento: nós diz, nós diz.”
Certa vez, eu li em algum lugar que, no TG de certa cidade, a mãe de um atirador sofreu um ataque cardíaco, vindo a falecer numa manhã de domingo, justamente na hora em que todos os atiradores estavam reunidos na instrução dominical. Alguém da família pediu ao capitão comandante do TG para que ele desse a notícia ao jovem atirador. Este não tendo jeito para dar esse tipo de notícia, convocou o sargento e pediu que ele desse a notícia com muito jeito. O sargento disse ao seu superior que sabia como fazer e não se fez de rogado. Imediatamente deu as ordens: “TG, sentido!” Todos ficaram de pé em posição de sentido voltados para o sargento. Então o sargentão falou: “Quem tiver a mãe viva dê um passo à frente!”. Todos deram um passo à frente. “Você não, atirador 56!” “Que é isso, sargento, a minha mãe é viva!” Protestou o jovem. E o sargento emendou: “Era! acabou de morrer!”
Por Carlos Eduardo Esmeraldo