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terça-feira, 13 de setembro de 2011
Madre Feitosa: A Dignidade Humana - José do Vale Pinheiro Feitosa
A dor e o menestrel - Emerson Monteiro
Lemos em algum lugar a história de um palhaço que perdeu a esposa e viu-se na condição de comparecer, no mesmo dia, ao picadeiro do circo e fazer rir a platéia que lotava o espetáculo onde tantas outras apresentações ali levara a efeito em condições satisfatórias.
No momento em que todos gargalhavam com desempenho magistral nunca antes presenciado pelo distinto público, dentro dele fervilhava a mais pungente amargura e desciam lavas amargas de dor, disfarçadas com maestria pela máscara que lhe cobria o rosto banhado de lágrimas.
Naquela hora, enquanto alegria sem igual contagiava os espectadores, no peito do homem ardia crise sem precedentes, propósito de quem conduz a vida aonde quase nada pode exprimir da veraz realidade que na alma impera, por força de produzir emoções nos outros humanos universos lá de fora.
A situação descrita, mudando o que merece ser mudado, caberia feita luva numa circunstância que se verificou em Crato, na madrugada de 28 de abril de 2001, quando, no Espaço Navegarte, assistíamos a uma apresentação musical.
No palco, o cantor pernambucano Geraldo Azevedo, voz e violão, que oferecia à numerosa platéia a bela música do seu repertório, boa parte de própria autoria. Aplausos efusivos animavam o clima ameno do lugar, evidenciado nos flashs constantes dos fotógrafos que registravam o acontecimento, entremeados de relâmpagos insistentes que clareavam o céu escuro, à distância, cenário detrás do palco para as bandas da Ponta da Serra.
Isso se manteve ao ritmo das letras e cordas afiadas do instrumento bem praticado daquele artista popular, nas sombras chuvosas da noite caririense.
Duas ou três canções antes do término da cena, porém, numa das falas com que ilustrava os intervalos das canções, o músico comunicou aos presentes que, na véspera daquela data, ocorrera a passagem de sua genitora desta vida para a outra, pondo-se, logo depois, a interpretar uma composição de autoria dela, refletindo na voz o sentimento que se pode imaginar de um filho em situação semelhante.
Ao lembrar os detalhes disso que contamos, vemo-nos também emocionado, a refletir quanto à condição de vida dos artistas e sua proximidade com as multidões, vínculos que se estabelecem no decorrer da existência do trabalho. Enquanto dentro de si lhes sacodem o peito um coração quantas vezes macerado pelas guantes imprevistas do destino, repassam, igualmente, a imagem de quem habita os condomínios da mais pura felicidade.
Missão semelhante, o exemplo do palhaço de que falamos no início. Uns dançam, riem, se divertem. Outros padecem, representam, dissimulam. De íntimo transtornado pelos ardores do sofrimento de perder a mãe querida, o músico prosseguiu com a função até o fim, desfolhando versos e notas, solitário, ausente das convenções deste mundo; isso tudo em nome do amor ao sonho da arte, herói sobranceiro da magna inspiração, porquanto o show haverá sempre, de manter seu curso ininterrupto para o centro dos corações em festa.
Uma ode para os cratenses! - Por Carlos Eduardo Esmeraldo

"Na primeira noite eles se aproximam.
Roubam uma flor do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
Pisam as flores, matam nosso cão,
E não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil deles
Entra sozinho em nossa casa,
Rouba-nos a luz,
E conhecendo o nosso medo
Arranca-nos a voz da garganta.
E porque não dissemos nada!
Já não poderemos dizer mais nada!"
Todas as flores dos nossos jardins foram despetaladas ao longo dos anos em que nossas lideranças foram sepultadas pelo voto que destinamos a candidatos de outras terras. De que adiantou aos cratense ajudar a eleger tantos deputados sem nenhuma preocupação com o Crato?
Somente sabemos choramingar quando perdemos melhorias ou entidades que poderiam vir para o Crato. Mas precisamos reconhecer que existe em cada um de nós cratenses, um comodismo sem igual. Ou uma alienação geral. Como que, esperamos que os benefícios caiam do céu como a chuva que molha toda uma região, indistintamente. Se nada vem para o Crato, nada também pleiteamos porque não escolhemos pessoas comprometidas com a terra, que nos representem e lutem pelo Crato junto aos governos federal e estadual.
Choramos porque os benefícios vão para o Juazeiro. Mas lá não há acomodação, o povo trabalha. Há mais de dez anos que ouvíamos notícias de que os deputados federais daquela terra lutavam para conseguirem uma Universidade Federal.
Quando prestei meus serviços ao governo estadual, fui testemunha de um fato que poderia servir de exemplo aos cratenses. Vi uma comitiva de lideranças juazeirenses: todos os deputados federais e estaduais daquela terra, lideres comerciais e representantes da sociedade nas pessoas dos dirigentes de clubes de serviços, todos juntos saindo do gabinete do Secretário de Estado para reverterem para cidade do Juazeiro a sede regional do DETRAN que estava prometida ao Crato.
Se não houver uma conscientização do eleitor cratense, principalmente daqueles que trocam seu voto por favores, continuaremos sendo fim de linha. Dentro de breve tempo, nem quem tem negócios a fazer com o Crato, porá os pés nessa cidade, pois os retornos já se encontram fechados.
Por Carlos Eduardo Esmeraldo