Quem já ouviu falar das tertúlias que ocorriam em Crato nos anos sessenta? Qual o adolescente ou jovem da época, que não freqüentou uma tertúlia? Nesse tempo o divertimento dos jovens do Crato era animado, além de econômico. Quem viveu nessa época sabe como essa diversão era saudável, não havia bebida alcoólica, nem outras drogas. O objetivo era dançar, se divertir, flertar ou namorar. Quem tivesse uma casa com sala ampla chamava os jovens que estavam na Praça Siqueira Campos, para participarem de uma tertúlia. Ninguém sabe como, mas de repente, todo mundo sabia onde haveria tertúlia naquele dia. Depois dos jovens reunidos, a radiola era ligada com os discos mais tocados na época: Roberto Carlos, os Beatles, e todas as músicas da jovem guarda. Lembro-me bem que participei de muitas tertúlias na casa dos meus primos Jefferson Albuquerque Júnior e irmãos. Como a casa era da tia Letícia, mamãe permitia que eu fosse. Entretanto, muitas vezes tinha que fugir, pois ela me proibia de ir, dizendo que não queria que eu fosse “um piolho de festas”. Lembram desse termo? Acho bastante engraçado! Embora eu tivesse certeza que meus dois irmãos mais velhos estariam lá e, eles contariam a mamãe da minha presença na tertúlia; mesmo sabendo que ia receber uma reprimenda, valia à pena participar de tão agradável diversão. A idade de treze anos faz os pais se preocuparem com os filhos. Entretanto, nessa época esse tipo de festa, não tinha perigo nenhum. Uma vez fui a uma tertúlia na casa de seu Pierre. Dancei com Carlos e hoje ainda lembramos que não imaginávamos naquela época, que um dia, seríamos marido e mulher. Ele afirma que já simpatizava comigo. Mas ainda não era o momento de iniciarmos o namoro devido à minha pouca idade.
Outra grande diversão eram as matinais do domingo no Crato Tênis Clube. Ali também se reunia mocidade. Essa eu podia participar, uma vez que papai e mamãe gostavam de ir, levando toda a família.
Havia também as grandes festas do Crato Tênis Clube à noite, tocadas pelos conjuntos: “Hildegardo e Seu Conjunto”, “Ases do Ritmo” de Hugo Linard e do seu pai, seu Irineu, “Ivanildo e seu Conjunto”, o “Águias” e outros.
Muitas pessoas mesmo sem gostar de dançar iam às festas para apreciar os pares que dançavam muito bem. Quem não se lembra de Salete Libório, dançando com Seu Libório, Paulo Leonardo e Vanda, Mariquinha Feitosa e seu esposo, todos eles casais “Pés de Valsa” do Crato daquela época.
No carnaval havia festas no Crato Tênis Clube que eram bastante conhecidas. Muitos foliões vinham de fora para passar o carnaval em Crato. Durante os festejos carnavalescos, além das matinais do domingo e da terça-feira, à noite o clube ficava iluminado para mais um baile de carnaval. Na quarta-feira de cinzas, todos que estavam na festa saiam acompanhando a orquestra para o encerramento do carnaval na Praça Siqueira Campos. A Associação Atlética do Banco do Brasil (AABB) promovia também muitas festas e carnavais. No carnaval de rua, havia o corso. Eram vários carros desfilando com todos bem fantasiados.
Lembramos também dos cinemas que eram muito freqüentados, o Moderno, o Cassino e a Educadora.
Outra coisa que ficava lotada era a Quadra Bicentenária para as partidas do futebol de salão.
A Praça Siqueira Campos enchia-se de jovens nos fins de semana. Era de lá que os jovens marcavam encontro para irem aos cinemas, às tertúlias ou outros programas como serestas e luaradas.
A Praça da Sé era um local para os casais namorarem nos bancos, à sombra dos oitiseiros e outras árvores. Era mais sossegada do que a Praça Siqueira Campos. Em setembro, durante a Festa da Padroeira, a praça ficava toda iluminada, repleta de barracas de cachorro quente, pipoqueiros, vendedores de filhós, charutos, roletes de cana, bombons, enfim comida para todos os gostos. Uma multidão de cratenses enchia a praça, para assistir a novena e participar das atrações.
Outro evento conhecido no Crato e que já era muito animado nos anos sessentas, era a Exposição Agropecuária. A casa dos meus pais fica localizada na Rua Leandro Bezerra, subida para a Exposição. Eu e minhas amigas sentávamos em uma pequena mureta que acompanhava o jardim da nossa casa. Ficava impressionada com a quantidade de pessoas que passava em direção a Exposição. Hoje o fluxo de pessoas é muito maior.
Falar do Crato dos anos sessenta, não é tirar o mérito do Crato de hoje. É só para lembrar que os jovens ou adolescentes daquela época, que hoje estão chegando aos sessenta anos, que aquele era um tempo feliz. Podemos contar para os filhos e netos que no futuro também irão relembrar os momentos felizes da juventude deles, pois “recordar é viver”.
A infância, a adolescência e a juventude, são fases da nossa vida que servem para alicerçar a vida adulta. São essas experiências vividas na infância e juventude, que nos fizeram amadurecer para nos tornamos adultos equilibrados e felizes.
Por Magali de Figueiredo Esmeraldo