Seja colaborador do Cariri Agora

CaririAgora! é o seu espaço para intervir livremente sobre a imensidão de nosso Cariri. Sem fronteiras, sem censuras e sem firulas. Este blog é dedicado a todas as idades e opiniões. Seus textos, matérias, sugestões de pauta e opiniões serão muito bem vindos. Fale conosco: agoracariri@gmail.com

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Uma lição de civilidade – Por Carlos Eduardo Esmeraldo

Vivíamos no Crato, em outubro de 1958, eleições disputadíssimas. Concorriam ao cargo de prefeito o senhor Pedro Felício Cavalcante pelo PSD e José Horácio Pequeno pela UDN. Os comícios eram concorridíssimos de cada lado. Os udenistas chamavam os pessedistas de “gogó”, e eu nunca soube o porquê, e estes replicavam que os udenistas eram os “carrapatos”, talvez numa referência a esse partido ter vencido várias e sucessivas eleições. O meu pai concorria ao cargo de vice-prefeito na chapa da UDN. Era a primeira vez que esse cargo, desnecessário ainda hoje, era disputado.

Gerson Moreira, um dos meninos mais udenistas que conheci, desde criança um líder natural, organizou um comício dos meninos que a cada dia ganhava mais adeptos. À medida que as eleições se aproximavam mais gente acorria ao comício dos futuros políticos da nossa cidade. Surgiram palanques, sistema de som, todo requinte que os comícios dos políticos de verdade tinham.

Pedro Felício concorria pela quarta vez e compuseram uma paródia musical cujo refrão eu guardo na memória: (“hei Pedro Felício, hei seu teimosão, hei esta será a quarta decepção...”).

Certa noite, houve um desses comícios dos meninos defronte a casa do senhor José Honor de Brito, na Rua José Carvalho, bem perto de onde eu morava. Gerson, quando me viu, me convidou para o palanque e após alguns oradores falarem muito bem, me surpreendeu dizendo: “Agora vamos ouvir o filho do futuro vice-prefeito do Crato!” E de súbito, eu me vi engasgado, com o microfone nas mãos, todo trêmulo e sem saber o que falar. Então cochichei para o Gerson: “O que é que eu digo?” E alguém não identificado respondeu: “Diga que Pedro Felício é um ladrão!” Repeti como uma marionete esse recado, sem ao certo imaginar o que estava dizendo e fui muito aplaudido pela platéia que enchia a rua defronte do palanque.

Ao final daquele comício mirim que se encerrava cedo, provavelmente às oito horas da noite, voltei para casa satisfeito, crente que havia colaborado para eleição do meu partido. Mas por cerca das dez horas daquela mesma noite, eu fui bruscamente acordado pelo meu pai. Após a aplicação do corretivo usual para a educação daquele tempo, uma expressão que meu pai usou ficou para sempre no meu íntimo: “Pedro Felício é um homem de bem, é muito honesto e meu amigo. Eu não admito que você volte a falar o que falou dele! E está proibido de ir a esses comícios.” Realmente observava que papai se dava bem com todos os políticos do PSD e com seus eleitores também. Certa vez ele viajou com Pedro Felício, Jósio Araripe e outros amigos a Minas Gerais para comprarem gado da raça gir e nelore, ainda não existentes na nossa região. Muitos dos primos e primas do meu pai, da família Pinheiro eram do PSD e jamais houve inimizade entre eles.

Terminada a apuração da cidade, naquela época apuravam-se em primeiro lugar os votos das urnas da cidade e depois a votação dos distritos, Pedro Felício vencia o pleito com uma boa maioria, algo em torno de mil votos, se não me falha a memória. Para vice-prefeito, votava-se em separado, meu pai tinha quase a mesma votação que seu Pedro. Os “pessedistas” já comemoravam a eleição como certa. Diziam que aquela diferença não daria para os currais udenistas desfazerem.

Assistíamos ansiosos os resultados dos distritos e zona rural. Estávamos nas últimas urnas e a diferença cada vez mais sendo desfeita. Encerrada a apuração registrou-se a vitória do prefeito José Horácio Pequeno por uma pequena maioria, creio que 58 ou 63 votos, não lembro ao certo, só que foi por um valor muito pequeno. Eu estava presente ao encerramento daquela apuração, observando de longe a reação dos derrotados. Pedro Felício colocou o chapéu na cabeça, desceu humildemente as escadas da antiga prefeitura, onde hoje fica o museu do Crato, e se dirigiu à Rua Nelson Alencar, residência de José Horácio Pequeno.

A molecada acompanhava cantando o hino do “teimosão”. Vi quando ele entrou na casa do prefeito eleito, cumprimentou-o efusivamente, desejou os maiores êxitos para sua administração, bebeu o que lhe foi oferecido pelo anfitrião, participou da alegria dos vitoriosos por alguns minutos e, em seguida rumou para nossa casa para cumprimentar meu pai. Aquela atitude foi uma das maiores demonstração de urbanidade que eu já presenciei num homem público.

Quatro anos mais tarde, a UDN foi derrotada, e o Senhor Pedro Felício elegeu-se prefeito do Crato, na quinta tentativa.
Em 1972, candidatou-se uma segunda vez e mais foi reconduzido à prefeitura.

Por Carlos Eduardo Esmeraldo

ÚLTIMAS NOTÍCIAS - Artista Internacionalmente reconhecido, Bruno Pedrosa recebeu o título de Cidadão Cratense no Teatro Municipal Salviano Saraiva


George Macário condena o DESCASO da Imprensa do Cariri em divulgar informações culturais e reclama do pouco público presente

Image1

Acima: Bruno Pedrosa posa para fotos ao lado do Pres. da Câmara Florisval Coriolano

Aconteceu ontem ( 2 ) às 19 horas, no Teatro Municipal Salviano Saraiva, uma sessão especial da Câmara de vereadores de Crato, que concedeu o título de cidadão Cratense ao artista internacionalmente reconhecido Bruno Pedrosa, nascido em Lavras da Mangabeira, que há muitos anos reside e tem mais de 200 exposições com seus trabalhos na Europa e em outros continentes, e é dos principais artistas cearenses a brilhar no mundo.

Bruno Pedrosa está no Crato também por ocasião da exposição dos trabalhos restaurados do Museu de Arte Vicente Leite, que acontece de 30 de janeiro até o dia 03 de Fevereiro. A idéia do título de cidadão cratense foi proposta pelo ex-vereador "Tutu", que também se fez presente na solenidade. Após uma Sessão do ICC - Instituto Cultural do Cariri, presidida por Manoel Patrício de Aquino ( Nezim ) , que criou a cadeira Bruno Pedrosa e empossou o então Presidente da Fundação J. de Figueiredo Filho, George Macário ( foto abaixo ), como seu primeiro ocupante, a câmara de vereadores do Crato, presidida por Florisval Coriolano outorgou o título de cidadão Cratense a Bruno Pedrosa, que agora o é de fato e de direito.

O Pres. da Fundação J de Figueiredo Filho George Macário, reclamou em seu discurso, da escassez de público no teatro, e do DESCASO com que a imprensa caririense, principalmente o Rádio e a TV dão aos eventos culturais da região, questionando que o título "Crato, Capital da Cultura" não é um título outorgado pelo poder Público, mas uma consequência das manifestações do povo. George lamentou profundamente a falta de interesse do público em frequentar os museus, em interessar-se por arte em geral, e enfatizou a própria decadência tão apregoada pelo mau gosto musical das estações de Rádio não só do Cariri, mas do Ceará.

Na solenidade, alguns vereadores da oposição criticaram a escassez de representantes do governo Municipal, alegando que a administração não estaria dando a seriedade necessária aos eventos culturais, muito embora estivesse presente representando o prefeito Samuel Araripe, o seu vice Raimundo Bezerra Filho, que em discurso, rebateu todas as críticas sozinho, já que a bem da verdade, não haviam secretários de governo na reunião, justificado pelo vice-prefeito pelo fato de esta coincidir com outra reunião a acontecer no mesmo dia e horário promovida pelo Prefeito do Crato Samuel Araripe, a fim de tratar de assuntos relativos às últimas chuvas e à enchente do canal do Rio Grangeiro.

Já em seu discurso emocionado, Bruno Pedrosa disse entre outras coisas, que desde cedo aprendeu que quando se falava em Cultura e Arte no Cariri, estava associado à palavra Crato, e que o valor desta comenda era incomensurável. Visivelmente emocionado, confessou não saber fazer discursos, muito embora seu discurso foi um dos que mais emocionou a platéia. O artista Bruno Pedrosa se revela um ser humano de grande inteligência e excepcional humildade. Segundo o Vice-Prefeito Raimundo Bezerra Filho, é o tipo de solenidade em que o valor da pessoa supera em muito o valor da própria comenda recebida. A cerimônia foi conduzida pelo memorialista Huberto Cabral. Estiveram presentes na mesa de honra, a restauradora Edilma Rocha, o escritor Emerson Monteiro, e diversos vereadores do Crato.

Mais informações, logo mais aqui no Blog do Crato, inclusive com a cobertura fotográfica completa e parte transcrita dos discursos dos vereadores e do próprio Bruno Pedrosa. O Blog do Crato gravou toda a solenidade em áudio e parte em vídeo.

Edição: Dihelson Mendonça