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domingo, 7 de setembro de 2008

Leia abaixo o editorial do jornal O POVO deste domingo


Legado da Monarquia

Quase duzentos anos depois da Independência é preciso reconhecer a contribuição da Monarquia ao regime democrático brasileiro

O aniversário dos 186 anos da Independência encontra o Brasil mais esperançoso quanto ao seu futuro. Não só a economia está crescendo - embora ainda aquém do desejado -, mas o anúncio da descoberta do petróleo do pré-sal renova auto-estima dos brasileiros. Trata-se da vigésima comemoração da Independência dentro dos marcos constitucionais democráticos, desde a promulgação da Constituição de 1988. Isso significa que vivemos o mais longo período de democracia contínua de nossa história republicana. No Império, é verdade, também vivemos 67 anos sob regime constitucional democrático, com as limitações vigentes do Estado Liberal. Quando um golpe de Estado derrubou a Monarquia Constitucional Parlamentarista, só os que estavam com mais de 50 anos de idade tinham lembrança de alguma intervenção militar na vida do País.
Durante todo o reinado de Dom Pedro II, vivêramos um regime de liberdades democráticas - só comparável, no continente, à República estadunidense (ambos tinham também o mesmo defeito: o regime escravista comum). Havia ampla liberdade de imprensa, revezamento no poder de dois partidos respeitáveis - o Liberal e o Conservador - e o País era respeitado, internacionalmente, graças, principalmente, à fama intelectual de seu imperador. Aliás, a transferência da família real portuguesa para cá - cuja chegada (200 anos atrás) está sendo comemorada - representou o lançamento dos fundamentos que permitiram a autonomia nacional, menos de uma década e meia, depois.
Mais: o Brasil surgiu como nação sob a égide da revolução liberal, na Europa, que punha fim às monarquias absolutas. Dom Pedro I encarnou as contradições da época: ora se apresentando na pele de autocrata, ora se distinguindo como um filho dos novos tempos liberais. De qualquer maneira, foi graças à opção pela forma de governo monarquista que foi possível manter a integridade territorial do país. Por falta desse centro visível de unidade (representado pelo monarca local) a América espanhola fragmentou-se em vários pequenos países autônomos (quando dos movimentos independentistas). Infelizmente, quase todos regidos, a partir daí, por ditaduras caudilhistas presidencialistas.
O Brasil, no entanto, escolheu o modelo institucional inglês, adotando o sistema de governo parlamentarista (na verdade, semi-parlamentarista, pois havia o Poder Moderador, exercido pelo Imperador). Mesmo assim, criou um regime de mais liberdades do que o da maioria dos países vizinhos. Assim, nesta data da Independência, é um ato de justiça reconhecer essa contribuição da Monarquia ao Brasil, pois, no regime republicano que se seguiu, a democracia só funcionou plenamente em breves interregnos entre uma ditadura e outra.
(Editorial de "O Povo", 7 de setembro de 2008)

POLÍTICA NÃO É CRENÇA

Uma sociedade revolucionária e uma outra conservadora. Ambas intervêm na reprodução humana então existente. Ambas com impacto demográfico. Uma, a revolucionária, de natureza explícita, objetivava reduzir a fertilidade e com isso o crescimento populacional. A outra, andou mais por uma plataforma de ordem moral, num ambiente em que o rumo, também, era a redução da reprodução humana.

Na sociedade revolucionária, a China dos anos 60 e 70, através do planejamento nacional e com uma ação direta sobre as famílias foi limitado o número filhos que cada família poderia ter. Os métodos de redução incluíam as pílulas anticoncepcionais então já produzidas em escala, educação sexual, o uso de contraceptivos mecânicos e, claro, o aborto numa escala sem precedente anterior.

Na sociedade conservadora, a dos EUA, havia dois movimentos em choque, mas o ambiente, então, do ponto de vista da cultura da fertilidade já era outro. Os EUA já eram uma sociedade urbana, a dinâmica demográfica totalmente distinta da sociedade rural. As famílias nucleares, não se precisava, nem no campo, de muita mão-de-obra para produzir. Então os métodos anticoncepcionais já eram de escala ampla. Inclusive o aborto.

Quando a China marcha para as cidades numa economia capitalista de controle estatal e nacional, alguns efeitos inesperados surgiram. Um deles na confluência da nova tecnologia da assistência reprodutiva com a tradição cultural. Como o aborto para reduzir a natalidade era parte do seu programa de controle, juntou-se a tradição cultural em que os filhos masculinos eram mais desejados que os femininos com a ultra-sonografia que revela precocemente o sexo do feto e ocorreu um aborto seletivo. Resultado, em certas províncias e regiões existem mais homens que mulheres. Nesta diferença a raiz de conflitos iguais aqueles da história ocidental do Rapto das Sabinas.

Os conservadores que impuseram uma certe hegemonia nos EUA desde os anos 80 e especialmente nos anos do Bush Jr. tentaram abafar a sexualidade do jovem americano com uma espécie de retorno ao puritanismo sexual. Acontece que o casamento, a matriz conservadora da reprodução, especialmente em relação aos jovens era consoante com a sociedade rural. O casamento era quase um valor de terra, a família também o era e a reprodução apenas dentro do matrimônio tinha conexão com isso tudo. A reprodução ocorria nos primeiros anos do jovem adulto. Não agora, nas sociedades urbanas. As famílias desejam menos filhos, a reprodução pode ocorrer com mais idade.

Ao lado da reprodução, a sexualidade humana ultrapassou qualquer referência animal. A humanidade faz sexo muito além da reprodução. O ato sexual é um ato de identidade, de socialização, de prazer, até de conflito, inclusive para reproduzir. A prática sexual, com os modernos meios de anticoncepção, se tornou democrática e ampla e aí surgiram outras questões, especialmente quanto a higiene e saúde pública. Neste contexto é que passou a fazer parte da formação dos adolescentes os conhecimentos e informações sobre a prática sexual e os modos de prevenir problemas de saúde e de reprodução.

Os conservadores dos EUA puseram de ponta cabeça o que menos desejavam. O efeito inesperado de suas políticas de incentivo á abstinência sexual se tornou um cavalo de Tróia. Segundo o último censo americano, uma de cada três adolescentes americanas têm filhos antes dos 20 anos. Mais ainda, estudos comparativos entre os estados que adotaram o programa de incentivo à abstinência sexual com aqueles que não o fizeram, mostram efeito contrário. O programa ao aumentar a desinformação do jovem aparentemente os expôs a maior gravidez e maior risco de doenças sexualmente transmissíveis.

Agora compreendemos o motivo de tanto alarde para a gravidez de Bristol, a adolescente grávida de 17 anos da conservadora governadora do Alasca candidata a vice na chapa McCain. A governadora Sarah Palin, evangélica fervorosa, antifeminista, contra o aborto e o casamento gay, cortou verbas de programas assistenciais para adolescentes grávidas e as transferiu para o programa de abstinência sexual. Como todos no mundo repetem: não funcionou nem para sua filha.


CULTURA

Restauração ganha novo espaço de artes
no Cariri
Restauradora egípcia Gabriela Federico, realizou a recuperação da imagem de Nossa Senhora da Penha, padroeira da cidade do Crato. Ela chegou ao Cariri por meio de um convite do Iphan
(Foto: ANTÔNIO VICELMO)
O local vai funcionar como ateliê para exposição e espaço cultural para os artistas da Região do Cariri
Crato. Foi inaugurada, no Crato, a Casa de Artes “Olhar” que funciona na Praça da Sé. A iniciativa é da restauradora egípcia, descendente de italianos, Maria Gabriela Federico, mais conhecida por “Gabi”, e por um grupo de artistas da localidade. A Casa funciona como ateliê, exposição e espaço cultural para a apresentação de artistas regionais. As salas foram decoradas com quadros de artistas da Região do Cariri. No quintal da casa, foi construído um palco para apresentações artísticas.
Ali funciona, também, um forno para queima de cerâmicas na fabricação de objetos de barro. No mesmo espaço, funciona um bar de apoio aos eventos culturais. Em breve, será implantado um restaurante.No entanto, o projeto é muito mais amplo. De acordo com Gabi, será instalado um núcleo de turismo com o objetivo de treinar profissionais dessa área. Será a primeira casa do gênero da região. A restauradora está trazendo a proposta de um serviço refinado, exclusivo, focado na restauração e comércio de produtos com valores agregados, sejam financeiros ou sentimentais.
“Geralmente, este trabalho era feito aleatoriamente, sem o conhecimento científico”, destaca o historiador Armando Lopes Rafael, lembrando que Gabi veio para o Cariri, em 2006, por indicação do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para restaurar a imagem de Nossa Senhora da Penha, padroeira da cidade do Crato.
Em seguida, ela restaurou a imagem de São José, padroeiro de Missão Velha. Em Mauriti, também na região do Cariri, a restauradora trabalhou detalhadamente na escultura de Nossa Senhora da Conceição, que fica no altar principal da Igreja Matriz. Um trabalho de restauração que a impressionou, segundo Armando, foi a imagem de Jesus Cristo crucificado na Catedral da Sé, no Crato. Havia quatro pinturas que escondiam uma obra de aproximadamente 200 anos.
Uma peça valiosa cujos traços lembram o trabalho de Aleijadinho — escultor, entalhador e desenhista mineiro Antônio Francisco Lisboa, considerado o maior expoente do estilo barroco nas Minas Gerais e das artes plásticas no Brasil.
Enquanto retocava imagens, quadros e outros objetos antigos, a egípcia se apaixonava pelo Cariri que, segundo afirma, é uma terra diferente. “Aqui a gente consegue conviver com a modernidade e o medieval. Os grupos folclóricos, os hábitos e costumes do povo nos remetem à antigüidade” diz a restauradora Gabi.Outro ponto que chamou a atenção da restauradora foi a arte caririense, a criatividade e o talento dos artistas regionais. Gabi ressalta também que o caririense é reservado, isto é, retraído, discreto, prudente e cauteloso no relacionamento com as outras pessoas.
Universo próprio
Maria Gabriela Federico nasceu no Cairo, capital do Egito, mas morou durante muito tempo em Roma, a “cidade eterna”. Depois, Gabi deixou o velho mundo, com mestrado em Restauração de Objetos Antigos, para esculpir o seu próprio universo no Brasil. Terminou escolhendo o Cariri, mais precisamente o Crato, para montar a sua oficina de sonho, criatividade e reconstituição do passado para viver o presente. Atualmente, mora na Praça da Sé, onde um dia o frei Carlos Maria de Ferrara, conterrâneo de seus pais, fundou a cidade do Crato, em 1745, construindo a primeira capela que tem como padroeira Nossa Senhora da Penha, restaurada por Gabi.
ANTÔNIO VICELMO, Repórter
HISTÓRIA
1745 é o ano em que Frei Carlos Maria de Ferrara fundou a cidade do Crato, onde construiu a primeira capela que tem como padroeira Nossa Senhora da Penha, restaurada por Gabi
Mais informações:
Casa de Artes Olhar
Praça da Sé, 91
Crato - Ceará
Restauradora Gabriela Federico
(88) 3521.1590