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quarta-feira, 23 de abril de 2008

E o sertão virou um mar de emoções

II Mostra Brasileira de Música Antiga, no Araripe, desperta todos os sentidos

Do som do violino à curiosa execução da viela de roda húngara, da simpatia do público local ao esforço da organização para que tudo desse certo, a II Mostra Brasileira de Música Antiga, realizada de 16 a 20 de abril, no Araripe, despertou em seus visitantes mais do que a sensibilidade de quem tem ouvidos para o erudito: o evento mexeu com todos os sentidos.

Araripe, município com pouco mais de 20 mil habitantes, recebeu artistas de vários cantos do mundo. Teve o argentino Pablo Lerner que saiu lá da Hungria – onde mora atualmente, Marília Vargas e Silvana Scarinci, brasileiras com carreiras internacionais na Europa e nos Estados Unidos, e a dupla Kristina Augustin e Mário Orlando, que exibem currículo semelhante. Além deles, o mago e mágico Hermeto Pascoal que, com sua companheira Aline Morena mexeram com as emoções de crianças de 8 meses a 88 anos.

Dos grupos que passaram pela cidade ainda vale destacar as excelentes performances do Trio Sonare e do Duo Spes, do Distrito Federal; do Cantus Firmus, de Florianópolis, e dos paulistanos Zabaione Musicale e Saga Barroca. O evento contou ainda com os anfitriões do Cariri, a Orquestra Filarmônica Chapada do Araripe, composta por crianças que freqüentam os cursos do Instituto Atos – promotor do evento; e a Orquestra de Rabecas Cego Oliveira.

A proposta da mostra foi unir o erudito com o cancioneiro regional e, para esta parte da programação, as atrações Meninos de Ouro, Fábio Carneirinho, Night Life, Forró Tapera, Geraldo Junior, Forró do Caritó, Zabumbeiros Cariris, Herdeiros do Rei e o inigualável Sebastião Tapajós fizeram o público arrastar os pés até a madrugada.

Tato

A velha máxima pode ser batida, mas todo o artista tem de ir onde o povo está. E mais, tem de deixar tocá-lo, senti-lo, provar que é real e humano. Pablo Lerner, o argentino radicado na Hungria, ficou tão, mas tão apaixonado por Araripe que decretou: “vou ficar mais tempo por aqui. Quero dar aulas para divulgar o meu instrumento entre os estudantes do Instituto Atos e aprender mais sobre a música nordestina, a minha grande paixão”. Pablo, depois de quatro dias em Araripe, circula com desenvoltura e ainda está um pouco deslumbrado com o assédio do público. “Eu nunca fui famoso em outro canto do mundo, aqui todos querem me abraçar, tocar, tirar fotos comigo”, disse, todo animado.

Carinhoso e atencioso com o público, Hermeto Pascoal deu um show de simpatia. Apesar de ter vôo marcado para quatro horas após sua performance (de Araripe ao aeroporto de Juazeiro do Norte são quase 3 horas de viagem), ele e Aline Morena não arredaram o pé da Igreja Matriz (palco das apresentações) até atender o último fã. Distribuíram CDs, instrumentos inusitados, brinquedos que compõem suas ferramentas de execução e, quando já não tinham mais o que dar aos fãs, Aline tirou os próprios brincos e Hermeto, fios de sua longa e branca barba. Inclusive, de tanto que o povo queria vê-lo e abraçá-lo e de tantas coisas que distribuiu, alguns baixinhos com menos de dois anos, sem entender nada, acabaram disparando: “ É o Papai Noel!”.

Visão

Enquanto os ouvidos ficavam atentos às execuções que são bálsamo para a alma, os olhos podiam percorrer pelo interior da Igreja Matriz e ali perceber a beleza da arte sacra que, nas noites das apresentações, dividiu a veneração com e os abençoados músicos.

Gente simples se amontoava na igreja e, estupefata, ouvia quase que como um louvor os acordes da música antiga. “Essa música foi a coisa mais bonita que vi na vida. Estou emocionado”, disse, lacrimejando, José Arruda de Sousa, um agricultor de 73 anos, que sobrevive de sua pequena plantação, após ver a exibição de Marília Vargas e Silvana Scarinci.

Senhor José é apenas um exemplo de tantos outros moradores de Araripe e região que, em sua humildade, formaram uma platéia muito elogiada pelos artistas que se apresentaram. Silenciosa, educada, respeitadora, repleta de adultos e crianças que contemplaram o evento aplaudindo cada apresentação com os olhos.

Olfato

Araripe amanhece com o cheiro de terra molhada e, ao anoitecer, o aroma da vegetação invade a música. Claro que o cheiro do jantar, sendo preparado em várias casas, também tem seu espaço nesta cidade de ar limpo e puro.

Os músicos, jornalistas e convidados de fora que vieram para o Cariri foram unânimes em uma afirmação: não imaginavam que o sertão era tão verde. Pois é assim o Cariri em abril, mês reservado para todas as edições da Mostra Brasileira de Música Antiga. De acordo com Elisando Carvalho, idealizador e promotor do evento e presidente do Instituto Atos, abril é o mês ideal, pois oferece um clima agradável, com calor durante o dia e um friozinho bom de dormir à noite. “Sem contar que não concorremos com outros grandes festivais. É um mês muito feliz para nós”, disse o multimídia do Araripe.

Elisandro mal encerrou a segunda edição da mostra e já fareja as oportunidades para a terceira edição. “Teremos mais intervenções na cidade, muito mais atividades e atrações”, revelou ele, que conseguiu realizar o evento deste ano graças aos patrocinadores Fundo Nacional de Cultura (FNC), Governo do Estado do Ceará e Instituto Atos, como realizador do projeto. Os apoiadores deste ano foram: Funcap (Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico); Coelce (Companhia Energética do Estado do Ceará) e Banco do Nordeste, com um agradecimento especial ao pároco da cidade, padre Raimundo Araújo Silva.

O evento teve uma boa repercussão na mídia, pois jornalistas que também farejam notícias saíram das capitais de Rio de Janeiro e de São Paulo para conhecer o Cariri, o que rendeu exposição nacional, reforçada com a mídia local.

Paladar

O cafezinho da dona Antônia, do Instituto Atos, e as tentadoras refeições de Dona Anália, proprietária do modesto restaurante que serviu almoços e jantares às centenas de pessoas que trabalharam no evento, conquistaram o paladar de todos. A II Mostra Brasileira de Música Antiga comprova que a música é o alimento da alma, tanto quanto o pão é para o corpo.
Ao sabor da música, de altíssima qualidade, a II Mostra Brasileira de Música Antiga, que acabou no dia 20 de abril, deixou em todos que viram, sentiram, ouviram, provaram e cheiraram, um irresistível gostinho de “quero mais”.

Criação e Criatura

A Mostra Brasileira de Música Antiga é o único evento do Brasil a unir artistas de expressão internacional, pesquisadores da música erudita, do Renascimento e Barroco, com cancioneiros regionais. E tudo nasceu da vontade de um idealizador: Elisandro Carvalho, presidente do Instituto Atos.

Nascido em Araripe, interior do Ceará, Carvalho tem 30 anos, é poeta, ator e diretor de teatro. Ex-secretário municipal de Cultura, Desportos e Turismo de Araripe/CE; ex-técnico de Cultura do Sesc Juazeiro do Norte/CE, onde criou o Projeto Aprendendo a Olhar a Liberdade, primeira ação sistemática intra-muros do Sesc no país voltada para a comunidade carcerária.

Prestou serviços como produtor e sonoplasta para o Projeto Palco Giratório do Sesc Nacional em 2003. Atuou como consultor em criação e gerenciamento de Ongs, quando criou e presidiu diversas entidades sociais: Associação dos Ambientalistas, Condutores e Guias de Turismo do Cariri (Aconguia); Instituto Atos; Conselho Municipal de Assistência Social de Araripe/CE; Núcleo de Informação, Educação e Comunicação (IEC) da Secretaria Municipal de Saúde - Araripe/Ce; Associação de Teatro de Araripe (nela, criou a Orquestra de Música Instrumental de Araripe, composta atualmente por 18 músicos); União dos Estudantes Secundaristas e Universitários de Araripe (Unesua).

É coordenador representativo e secretário do Conselho Municipal de Desenvolvimento Sustentável (CMDS) de Araripe/CE e representante do Conselho Municipal de Desenvolvimento Sustentável (CMDS) de Araripe no Conselho Regional de Desenvolvimento Sustentável em Fortaleza/CE. Atua como delegado Estadual de Cultura para o período 2006-2008, representando o Estado do Ceará, na I Conferência Nacional de Cultura ocorrida em 2006.


Mais informações:
Elenita Fogaça Comunicações - (11) 3141-1212 e (11) 9114-6289.
elenitafogaca@uol.com.br
Márcia Vaisman
vm.marcia@gmail.com
Elisandro Carvalho – presidente do Instituto Atos e idealizador da mostra - (88) 9616-0567 / 3511-4084 / 3530-1303





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