Ficção é criação ou invenção de coisas imaginárias; fantasia.(Dicionário Aurélio). Realidade, ao contrário, é aquilo que existe efetivamente, que é real. A realidade inspira a ficção. Esta, por sua vez, sugere a realidade. Surgem daí as paixões humanas, das quais o fanatismo é a pior. Pode levar os mais pacatos espíritos às mais violentas atitudes. Basta ligar a TV. Cada emissora que entrar no écran estará por certo em uma das duas circunstâncias, ou em ambas, tal a mistura de ficção e realidade.
Sou de um tempo quando jogar criança pela janela era coisa de história de polichinelo. Mesmo assim havia sempre uma fada madrinha no jardim, que aparava e salvava a menininha. Hoje é diferente, a menina morre na queda, a ficção vira realidade, é como dizer: “quem não quiser mais o filho, jogue-o pela janela.” Impossível aceitar! Você se aborrece e muda de canal. São outros cenários e os figurantes. As circunstâncias se repetem, cresce a dúvida e vem de novo a pergunta: “Ficção ou realidade? Essas pessoas perderam o senso ou eu estou ficando burro?”
Não dá mesmo para saber. Indivíduos se desentendem. Em vez de acenar com a compreensão, partem para agredir. Agressão oral, para começar o rolo. Chalaças, palavrões, ofensas. Conforme as circunstâncias, troca de tapas e bofetões, lançamento de objetos uns nos outros. É nos filmes e nas novelas, nos vídeos e nas TVs. Ninguém sabe mais o que é. Aparece a realidade dentro da ficção. Permanecem o exemplo e o estímulo subliminares.
Pensando bem, a discordância entre as pessoas parece ser cultural. Não se conhece as razões que levam duas pessoas a agredir-se, ato que parece decorrer do baixo nível de compreensão. A razão cede seu lugar à paixão, o estopim da explosão. Alguns agem em cima de emoções falsas, como se elas fossem verdades demonstradas. Nada, entretanto, justifica a agressão gratuita a inocentes, principalmente em se tratando de crianças indefesas, que agora de exceção passou a ser regra geral. O infanticídio este ano pintou e bordou.
Quando a ficção ameaça tornar-se realidade, é porque chegou a hora de parar para raciocinar. Nem tudo que se pensa ou se sente pode ser tomado como real, sem que seja confirmado pela razão. Ficam no ar as perguntas:
- Quem matou Isabela Nardoni?
- Quem será a próxima vítima?
Olival Honor
Cronista e escritor
Texto publicado na edição de hoje do Jornal do Cariri.
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terça-feira, 6 de maio de 2008
Ficção e realidade
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