Sei que vou mexer, outra vez, num vespeiro...
Quando os portugueses chegaram ao Brasil, em 1500, encontraram aqui povos indígenas, dóceis, respeitadores da natureza, limpos e amistosos. Certo? Errado.
Ao contrário de certas visões idílicas e falseadas de hoje, historiadores do porte de um Varnahagen ou de um Pe. Serafim Leite nos mostra, em suas obras, a face real dos primitivos índios brasileiros.
Ao contrário de certas visões idílicas e falseadas de hoje, historiadores do porte de um Varnahagen ou de um Pe. Serafim Leite nos mostra, em suas obras, a face real dos primitivos índios brasileiros.
O objetivo dos povos indígenas, segundo eles, era: comer, beber, caçar, combater e matar. Eram nômades. Exploravam a agricultura rudimentar até o esgotamento do solo. Então iam para outras paragens, onde prosseguiam dizimando a flora e a fauna. Não tinham laços sociais e as tribos se fragmentavam a cada dia. A promiscuidade em que viviam era total. Eram seres humanos totalmente rudes, astutos mentirosos e traiçoeiros. Muitos eram canibais, como os caetés que mataram e comeram o bispo de Salvador, Dom Pero Fernandes Sardinha. Nas lutas fratricidas os índios comiam os inimigos por vingança.
Nas ocas onde moravam, apesar do pouco espaço, viviam esparramados de cem a duzentos índios, em meio a um odor nauseabundo, pois eles eram tão preguiçosos que nem se levantavam das pútridas redes, onde dormiam, para satisfazer suas necessidades naturais.
Em muitas tribos, além do canibalismo, eram comuns o homossexualismo, o alcoolismo e o infanticídio. Uma criança que nascesse com defeito físico era de pronto assassinada. Às vezes matavam até recém-nascidos do sexo feminino, quando entendiam que a população de mulheres já estava no número ideal. Afinal a mulher não servia para a luta com as tribos rivais.
Hoje só se dá ênfase ao caráter exploratório dos portugueses, sugando as riquezas da colônia. É verdade que isso também aconteceu. Mas, diferente dos Estados Unidos – que dizimaram impiedosamente populações indígenas no seu território – os portugueses foram responsáveis pela ação missionária e civilizatória dos índios no Brasil. Muitos portugueses se casaram com índias dando início a numerosas famílias que ainda hoje possuem descendentes espalhados pelo Brasil.
Hoje, diferente do início da colonização portuguesa, o governo federal vem criando reservas indígenas (algumas maiores do que alguns países europeus) trancafiando ali os poucos milhares de índios aculturados existentes no Brasil. E tudo sob o argumento da preservação da “cultura indígena" e incentivando o retorno deles à barbárie de uma vida nômade, longe do progresso e das conquistas científicas dos tempos atuais.
Nas ocas onde moravam, apesar do pouco espaço, viviam esparramados de cem a duzentos índios, em meio a um odor nauseabundo, pois eles eram tão preguiçosos que nem se levantavam das pútridas redes, onde dormiam, para satisfazer suas necessidades naturais.
Em muitas tribos, além do canibalismo, eram comuns o homossexualismo, o alcoolismo e o infanticídio. Uma criança que nascesse com defeito físico era de pronto assassinada. Às vezes matavam até recém-nascidos do sexo feminino, quando entendiam que a população de mulheres já estava no número ideal. Afinal a mulher não servia para a luta com as tribos rivais.
Hoje só se dá ênfase ao caráter exploratório dos portugueses, sugando as riquezas da colônia. É verdade que isso também aconteceu. Mas, diferente dos Estados Unidos – que dizimaram impiedosamente populações indígenas no seu território – os portugueses foram responsáveis pela ação missionária e civilizatória dos índios no Brasil. Muitos portugueses se casaram com índias dando início a numerosas famílias que ainda hoje possuem descendentes espalhados pelo Brasil.
Hoje, diferente do início da colonização portuguesa, o governo federal vem criando reservas indígenas (algumas maiores do que alguns países europeus) trancafiando ali os poucos milhares de índios aculturados existentes no Brasil. E tudo sob o argumento da preservação da “cultura indígena" e incentivando o retorno deles à barbárie de uma vida nômade, longe do progresso e das conquistas científicas dos tempos atuais.
Tornando, enfim, esses índios semelhantes a animais que vivem num zoológico pré-histórico.
7 comentários:
Armando: como você disse iria futucar o vespeiro. Em primeiro lugar porque textos de Europeus são naturalmente contaminados com visão etnocêntrica de cada. As análises antropológicas das culturas indígenas, tomando estes como os narradores, mostram exatamente ao contrário. O problema é se ver o outro como se ele devesse sujeitar-se aos preceitos de nós mesmos. Nisso é, por exemplo, que um certo estilo de jornalismo, muito comum na Revista Veja de hoje, tem se especializado. Condenar o outro a partir do próprio umbigo. Mas convenhamos, o mundo é muito mais complexo, muito mais múltiplo, agora as amarrações ideológicas estão mais frouxas e todos comemoramos a derrocada do pensamento totalitário. O problema é que muitos, mesmo que conscientes destas mudanças que iluminam o pensamento, teimam em tratar a divergência como se o problema estivesse sempre no outro. A história indígena brasileira, a interpretação da colonização do Brasil, as questões indígenas brasileira atuais vão, certamente, muito além desta visão Europeinizante que apontaste. Acho que quando tocas nos vespeiros tens um certo dom de levantar boas questões de debates. O problema é que nem sempre temos o fôlego de seguir com o debate adiante.
Abraços
José do Vale
Ps. Armando pelo menos de uma coisa você me desculpa na divergência: eu leio os blogs da nossa região.
Caro José do Vale,
Mesmo quando nossas opiniões são divergentes, gosto de ler seus pensamentos contraditórios aos meus.
Você diverge sem agredir.Diria até que expõe a antítese de forma leal. Expõe com franqueza, mas com elegância, suas opiniões.
Escreve de forma suscinta,mas com clareza.
Vale a pena, vez por outra, "futucar o vespeiro" para conhecer opiniões que agregam como as suas e que contribuem para chegarmos a síntese.
Grande abraço,
Armando
Caro Armando
“Tá legal, eu aceito o [seu] argumento,
Mas não me altere o samba tanto assim”...
Acredito que para se discutir a questão indígena hoje, há um prejuízo muito grande se nos pautarmos pelos escritores/historiadores que você referenciou. Sem dúvida, não podemos deixar de destacar o valor de um Vanhargen e do Pe. Serafim, este último testemunha ocular de grandes batalhas de brancos contra os índios, e vice-versa, notadamente os índios do Ceará. Este capítulo da descrição dos povos indígenas como sub tudo na história, há muito anda deslocado e não é mais digno de reflexão.
Desde “A Visão do Paraíso”, obra do ilustre historiador Sergio Buarque, e antes o grande tratado de Gilberto Freire, passando por Darcy Ribeiro, e atualmente, a obra de Roberto Da Matta, Florestan Fernandes, Egon Schaden, Roberto Cardoso de Oliveira, para ficar em alguns cientistas sociais que refletem tanto a subordinação quanto a integração indígena, a historiografia tem buscado compreender o processo civilizatório europeu tendo como foco da discussão o choque interético e toda a carga predatória das formas de ser e de fazer das populações indígenas. E aqui entra a questão da cultura. O europeu, do alto do seu aguçado etnocentrismo, desqualificou o quanto pode o outro selvagem, justamente como justificativa para impor o seu modo de vida. Os argumentos da inferioridade desses povos foram usados como forma de abrandar o espírito de conquista e escravização. A chamada “guerra justa” foi uma arma ideologicamente bem apontada para varrer o indígena da face da terra. Inclusive isto começa lá pela Grécia antiga, nos escritos de Aristóteles. Ele escreveu: “ Existem, na espécie humana, seres tão inferiores a outros quanto o corpo o é em relação à alma, ou a besta ao homem; são aqueles para os quais a utilização da força física é o melhor que deles se consegue. Segundo nossos princípios, esses indivíduos são destinados, por natureza, (grifos nossos) à escravidão(...) Deste modo – conclui o eminente estagirista – entre os homens, uns são livres, outros escravos; para eles é proveitoso e justo viver como servos”( Aristóteles. A Política. São Paulo:Hemus, s,d, p.10). Foi com este raciocínio que Juan Ginés de Sepúlveda confrontou-se com as idéias atualíssimas de Padre Bartolomeu de Las Casas, num acirrado debate acerca da conversão indígena, lá pelo idos de 1560, em pleno período colonial das Américas. Olha só o que o Dr. Sepúlveda escreveu em seu “Tratado sobre lãs justas causas de la guerra contra los indios”: “É por isso que as feras são domadas e submetidas ao império do homem. Por esta razão, o homem manda na mulher, o adulto na criança, o pai, no filho: isto quer dizer que os mais poderosos e os perfeitos dominam os mais fracos e os mais imperfeitos. Constata-se esta mesma situação entre os homens; pois há os que, por natureza, são senhores e outros que, por natureza, são servos. Os que ultrapassam os outros pela prudência e pela razão, mesmo que não os dominem pela força física, são, pela própria natureza, os senhores (...) e é justo e útil que sejam servos, e vemos que isto é sancionado pela própria lei divina. Pois está escrito no livro dos provérbios: “ O tolo servirá o sábio”. Assim são as nações bárbaras e desumana, estranhas à vida civil e aos costumes pacíficos. E sempre será justo e de acordo com o direito natural eu essas pessoas sejam submetidas ao império de príncipes e de nações mais cultivadas e humana, de modo que, graças à virtude dos últimos e à prudência de suas leis, eles abandonam a barbárie e se adaptam a uma vida mais humana e ao culto de virtude (...) Concluindo: é justo, normal e de acordo com a lei natural que os homens probos, inteligentes, virtuosos e humanos dominem todos os que não possuem estas virtudes”. E vai por aí. De Las Casas rebateu com toda a força usando magistralmente o que hoje se compreende por natureza humana, onde os princípios de respeito e tolerância para com o outro sejam os instrumentos para a convivência pacífica entre os homens. Concluindo, às vezes eu acho que nós estamos tão endoculturados nessa vidinha sem futuro que levamos, que é preciso de vez em quando deitar nosso olhar para outra forma de vida social – no caso, a dos índios – e num exercício de comparação, encontrar um melhor caminho para nós mesmos, enquanto senhores da civilização. E assim pensando, eu acho que devemos lutar pela garantia das terras para populações indígenas. Pelo menos, meu caro amigo Armando, quem sabe a gente olhando para eles, morra de inveja de sua humanidade fraterna, igualitária e liberta que ainda não alcançamos, apesar de muitas revoluções. Ah, comecei falando de samba. Pois não é que a origem do samba, ledo engano, não vem do Morro, da Bahia, da África: vem dos índios, e dos índios Cariris.
Um forte abraço.
Zé Nilton
Caro Zenilton,
Li con atenção seus argumentos. Acato-os pois parte de um antrópologo sério e respeitado. Sobre algumas de suas opiniões tentarei - noutro artigo - justificar meus pensamentos...
Chamou-me, particulamente, a atenção a informação de que o samba teve origem na cultura dos índios Cariris.
Alias, eu já tinha ouvido falar sobre isso. Ou seja, que a origem do samba se deu entre os Cariris daqui do Nordeste, em um período anterior à colonização portuguesa. Disseram-me que foi o Bernardo Alves, um pesquisador pernambucano, já falecido, que defendeu essa tese no livro "A Pré-História do Samba".
Tem fundamento?
Embore eu acredite que o samba atual é uma contribuição das três raças que formaram o povo brasileiro, deixo uma sugestão para você aprofundar o tema da origem do samba dos Cariris e transformar sua pesquisa num artigo.
Acho que só temos a ganhar com um estudo seu sobre isso.
Grande abraço,
Armando
Caro Armando,
Não posso ficar de fora desse "vespeiro"! Li com atenção os comentários dos amigos. E parabenizo-os todos pela conversação dialogada e polida neste Blog.
Sobre a questão indígena, eu que não tenho a leitura antropológica do mestre Zé Nilton, nem o olhar clínico social e profundo de José do Vale, cabe-me apenas recuperar dois olhares para a cultura indígena: a geográfica e a cinematográfica.
Pela perspectiva geográfica, não podemos negar que praticamente todo o continente americano, no séc. XIX, período das explorações marítimas no Novo Mundo, estava ocupado pelas mais diversas culturas indígenas, desde as mais "civilizadas" até as mais bárbaras. Não podemos negar que os antigos Maias, Astecas e Incas chegaram a um gênero de vida ímpar. Esses povos pré-colombianos desenvolveram inclusive calendários astronômicos, equipamentos urbanos (cidades, templos, dutos de abastecimento d'água etc) e se apresentavam em uma estrutura social muito bem definida e organizada. Quanto aos nossos índios, sobretudo os do tronco linguístico tupi-guarani, possuiam uma cosmovisão e tradições muito complexas sobre o sobrenatural. Daí que a Tradição Xamânica entrou em colisão com a Tradição Cristã neste momento da chegada do colonizador. Este é um ponto.
Agora, pelo viés do cinema, o que se mostrou na telona nos primeiros tempos a partir dos filmes das décadas de 1950 e 60 foi principalmente o subjugo do índio pelo branco europeu. Isto chegou ao paroxismo com o filme de Mel Gibson, intituldo "Apocalyptico". Neste filme, que creio será de gosto do amigo, finda com a cena da chegada dos espanhóis na península de Yucatán -- território dos antigos Maias na Guatemala. Os espanhóis como redentores da barbárie maia.
Bem. Pelo exposto, deixo apenas algumas reflexões finais para que a interlocução continue construtiva:
(1) Há duas formas principais de ver a questão do índio hoje: uma que advoga o relativismo cultural, tese que defende o valor de cada cultura, ou seja, cada gênero de vida justifica-se por si mesmo; de modo que se deve respeitar cada foma cultural de forma endógena, livre de comparações e de referências externas. A outra, a visão mesma "eurocêntrica" que tem na matriz "civilizatória" dos povos ocidentais europeus, sobretudo, o modelo que justifique um processo civilizatório em povos ditos "inferiores" que, do ponto de vista da lei natural todos os índios seriam "bárbaros"; ou do ponto de vista da Tradição Cathólica e do Protestantismo, portanto matrizes cristãs e morais que o explorador europeu houve de aculturar os povos do Novo Mundo, todos os índios estariam "condenados" à expiação eterna caso não fossem catequizados.
(2) Em parte divido a preocupação da delimitação um tanto em moda dos ditos "territórios indígenas". Penso, a partir de reflexões contemporâneas de muitos estudiosos de calibre acadêmico, que existe hoje o fenômeno da "reinvenção da cultura indígena" e de outras "reinvenções" pós-modernas. Este é outro tema polêmico. Como lutar hoje por terras "indígenas" se vivemos num mundo globalizado, quando praticamente a cultura indígena fora absorvida pelos descendentes de colonos no processo "civilizatório"? E mais, poucas são as tribos que ficaram isoladas e conservaram seu dialeto. A língua dos Cariris, por exemplo, era uma das mais difíceis, que até tribos co-irmãs tinham dificuldade de compreender. Então, como falar de uma cultura que já se perdeu a alma linguística? Como poder "reinventá-la"? Mas ir ao Congresso Nacional vestido de índio virou moda, ou no mínimo uma resistência inconsistente ou talvez anacrônica.
Concluindo, penso que os índios brasileiros não devem se "reinventar", melhor seria que se atualizassem num debate consistente sobre o que há ainda de essencial lutar: condições de vida, de trabalho e de estudo etc.
E os "brancos" não venceram porque o projeto iluminista da liberdade, igualdade e fraternidade nunca resultou bem sucedido. E os "índios" não perderam completamente porque o exemplo de comunidade social integrada à Natureza é algo ainda distante "modus de vita" contraditório a que chegou os homens do planeta Terra!
Abs
Glauco
Glauco:
Não resisto em cutucar de novo o vespeiro. A ver.
Alfred Métraux no livro "A religião dos tupinambás", Companhia Editora Nacional, São Paulo, 2ª edição, 1979, escreveu: " Devido à completa amoralidade e promiscuidade sexual em que se encontravam os guaranis, era permitido aos prisioneiros, enquanto eram engordados(para serem comidos) ter relações com as mulheres da aldeia. Os filhos nascidos dessas uniões, chamados "cunhambiras" eram destinados a ser devorados quando alcançassem um certo desenvolvimento. Sacrificavam-nos então "na presença do pai, que também era morto no mesmo dia. A mãe era a primeira a consumir a carne da vítima" (páginas 122-123).
Von Martius, no livro "Natureza, doenças, medicina e remédios dos índios brasileiros(1844), Companhia Editora Nacional, SP, 1979, descreve em detalhes a iniciação nos segredos da feitiçaria quando o menino-aprendiz era entregue para ser deflorado pelo pajé, no que ele intitula "da homossexualidade à cópula com o demônio".
A revista "Veja" (edição de 24/05/2000) página 149, traz matéria sobre o livro "Bárbaros na Floresta: o Mito do Nobre Ecosselvagem" do sociólogo inglês Robert Whelan, onde o mesmo afirma:
"As pessoas têm uma visão idealizada de como os índios vivem. Com este livro, ofereço um enfoque mais realista". O sociólogo inglês mostra os números do "estrago" promovido pelos índios antes da chegada do homem branco. Entre tantos cito apenas dois: " Os maias destruíram 75% das florestas da Península de Yucatán "; No Hawaí estudos recentes mostram que 80% das espécies nativas de pássaros foram dizimadas no período que antecedeu o desembarque dos europeus no arquipélago".
Diante de tudo isso, para mim, a ação civilizatória dos portugueses e espanhóis teve grandes méritos e trouxe inúmeros benefícios!
CONCORDO EM GENERO E GRAU,principalmente quando se coloca o exagero de hoje em dia em enaltecer o indio como santos, injustiçados,expropriados....afinal em que cultura vivemos?Vivemos numa sociedade cristã, democratica..onde todos são iguais,
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