FALÊNCIA DA TRADIÇÃO
Engenhos agonizam no Cariri
No Engenho Santo Antônio, o proprietário Antônio de Pedro, ainda está produzindo a rapadura, mas amarga prejuízos crescentes, em decorrência da desvalorização do produto. O quilo custa apenas R$ 0,80 (Foto: Antônio Vicelmo)
As velhas moendas estão virando sucata na bagaceira dos engenhos. Outras estão sendo vendidas para outros Estados onde servem à fabricação de cachaça e álcool
Os últimos engenhos de cana-de-açúcar do Cariri se despendem do setor, com uma produção insignificante de rapadura
Barbalha. Os engenhos de rapadura do Cariri estão com os dias contados. Dos mais de 100 engenhos que funcionaram na década de 60, no município de Barbalha, restam somente cinco que estão agonizando. O fim da agroindústria canavieira, que durante 300 anos impulsionou a economia regional, está sendo denunciado por um fato inusitado. O gado está sendo solto dentro do canavial. A cana que seria moída pelos engenhos está sendo transformada em pasto.
As velhas moendas estão virando sucata na bagaceira dos engenhos. Outras estão sendo vendidas para outros Estados para fabricação de cachaça e álcool. Recentemente, o proprietário do Engenho Padre Cícero, Antônio Sampaio, vendeu para o Estado de Sergipe, por R$ 10 mil, um centenário engenho que funcionava no Sítio Venha Ver, a quatro quilômetros de Barbalha.
Desiludido com a agroindústria canavieira, Antônio soltou o gado dentro das canas e anuncia a desativação do engenho, sob a alegação de que não compensa mais fabricar rapadura. “A falta de mercado, o preço baixo e as exigências do Ministério do Trabalho estão levando à falência uma das mais tradicionais atividades agrícolas do Cariri”, lamenta Antônio, acrescentando que tem procurado agregar outras atividades como produção de mel de abelha e fabricação de cachaça com a finalidade de melhorar a rentabilidade econômica. Mesmo assim, afirma, não tem futuro.
Hoje, o quilo da rapadura está sendo vendido a R$ 0,80 centavos. A batida, temperada com erva-doce e cravo da índia custa R$ 1,00 o quilo. Os maiores consumidores são os romeiros do Padre Cícero. “É possível que sobreviva um ou dois engenhos para atender a este mercado formado por saudosistas”, vaticina Antônio.
O rosário de lamentações é puxado também pelo proprietário do Engenho Santo Antônio, Antônio de Pedro, que também está colocando o gado para pastar dentro das canas. Antônio garante que este é o último ano de moagem. “Estou acabando com uma tradição que foi herdada do meu avô”, complementa ele.
Na área dos engenhos estão sendo construídos condomínios, casas de veraneio, pistas de vaquejadas e postos de combustíveis. Antônio de Pedro conta nos dedos os últimos remanescentes de uma aristocracia rural que dominou o Cariri desde sua colonização.
Destilaria de álcool
Depois do processo de sucateamento do setor, agravado com o fechamento da Usina Manoel Costa Filho de Barbalha, o governo do Estado pretende, agora, reerguer a atividade sucroalcooleira no Ceará, mais especificamente na Região do Cariri. O secretário de Desenvolvimento Agrário, Camilo Santana, já anunciou que o governo busca atrair investidores para instalação de destilaria de álcool na região do Cariri.
“No entanto, pelo andar da carruagem, o projeto vai chegar atrasado”, diz o industrial Rommel Bezerra, proprietário de uma destilaria de cachaça no Crato, lembrando que a cada ano diminui a área plantada de cana na região. Já foram ocupados 10 mil hectares, produzindo 500 mil toneladas. Hoje, são apenas mil hectares, gerando 50 mil toneladas do produto. Rommel destaca que o governo vai começar pelo plantio de uma variedade que se adapte às terras e ao clima da região caririense.
A pretensão de recuperar o setor canavieiro já havia sido levantada pelo governo anterior, quando lançou o Programa Renovacana Cariri. A meta era, em cinco anos, elevar em 260% a produção de cana-de-açúcar no Estado, de onde se destilaria o álcool. Entretanto, apesar de gerar um aumento na quantidade de hectares cultivados, a revitalização esperada do parque industrial ainda não foi alcançada.
SAIBA MAIS
Abrangência
A Região do Cariri, que abrange a atuação do Escritório Regional da Ematerce, é composta pelos municípios cearenses de: Altaneira, Barbalha, Caririaçu, Crato, Farias Brito, Granjeiro, Jardim, Juazeiro do Norte, Missão Velha, Nova Olinda, Porteiras e Santana do Cariri.
Integração
Com uma importância estratégica para o processo de integração nacional, o Cariri situa-se em área geograficamente central da região Nordeste, mantendo-se a uma distância média de 600km das principais capitais nordestinas.
Rapadura
Os poucos engenhos que ainda resistem no Cariri anunciam fim das atividades. Mas ainda há pequena produção de rapadura, como nos engenhos Padre Cícero, no Sítio Venha Ver (88-3532.3990) e o Santo Antônio, também no Sítio Venha Ver (88) 3532.0433, ambos no município de Barbalha.
ANTÔNIO VICELMO
Repórter
2 comentários:
o governo do estado dveria envestir mais na regiao cariri principalmente nas industrias de cana de acuçar da regiao
Gostari de entrar em contato com o Sr. Antonio do Engenho Padre Cícero.
Meu e-mail a.clc@globo.com
Postar um comentário