Existem polêmicas que, por critérios pessoais, desistimos. As vezes revela-se o que se pensa e se dar por satisfeito, até porque o assunto tomou outro rumo. No entanto, refletindo mais, tem dois assuntos, um derivado do primeiro que gostaria de abordar. O primeiro é uma postagem de Valdetário Siebra sobre a história de uma criança em situação de risco na cidade do Recife. Fiz um breve comentário sobre a necessidade de se trazer para o universo político (a polis aquele que por vezes as pessoas saltam da sua individualidade para uma pluralidade transformadora) a questão da pobreza e da fome das crianças no Brasil. Mas não foi nesse o sentido que os demais comentários vieram. Migraram para o ceticismo em relação ao relato do médico e para uma ácida crítica a uma certa "inconsciência social" dos médicos e a voracidade por ganhar dinheiro. A segunda foi, em resposta a este enfoque, de que havia por trás disso um certo "udenismo" nos comentários. Aí passamos à postagem em defesa do udenismo tendo como tese a listagem das pessoas de bem que praticaram o poder na cidade do Crato por este ideário político.
Pelo fim. O "udenismo" é uma categoria histórica reconhecida pela literatura, dicionarizada como os filiados ao antigo partido da UDN e até mesmo faz parte de uma categoria ideológico política. Como categoria histórica o udenismo se criou como uma forte oposição ao governo Getúlio Vargas, combateu este político até a sua morte e com certeza, não por medidas exatamente democrática, tentou o golpe contra Getúlio e depois contra Juscelino Kubitscek. A liderança de um político de renome dos quadros da UDN, Carlos Lacerda, junto com militares da Aeronáutica (o ícone da Aeronáutica, Brigadeiro Eduardo Gomes fora derrotado por Getúlio) esteve por trás das pressões políticas que levaram ao suicídio de Getúlio. Do ponto de vista ideológico o udenismo era uma mistura de defesa das classes médias com a defesa dos grandes proprietários de terra. Por isso mesmo que pendulavam, por vezes, suas posições. Foram a favor do monopólio do petróleo e votaram contra a cassação dos comunistas, mas ao mesmo tempo eram contra a intervenção do Estado na economia, denunciavam a infiltração comunista e contestavam os resultados eleitorais quando perdiam eleições. Perderam as eleições para a presidência nos anos de 1945, 1950 e 1955, ganharam com Jânio Quadros e apoiaram o Golpe Militar de 1964.
Sendo o udenismo uma colcha ideológica, dada a diferença da raiz social do partido, nas suas teses políticas coexistiam ideais liberais, autoritários, progressistas e conservadores. O estilo de fazer política do udenismo era exuberante, denuncista, apegado ao liberalismo, ao bacharelismo, ao moralismo e um horror quase patológico aos chamados "populismos". O interessante é que a UDN na sua representação no Congresso Nacional tinha maior representação de proprietários de terra e funcionários públicos que qualquer outro partido, inclusive o PSD. A UDN sempre foi aliada dos empresários nacionais associados aos capitais estrangeiros e até por isso e em razão da guerra fria era adesista contumaz dos EUA. No embate político daquela época os inimigos da UDN a classificava como o "partido dos golpistas", "partido dos cartolas" e o seus aliados como o "partido do lenço branco" e "partido da aliança liberal". A UDN nunca foi apegada a determinadas formas de governo, especialmente a do voto secreto, como uma instituição essencialmente moralista já abria seu programa com a frase: "de nada valem as formas de governo, se é má a qualidade dos homens que nos governam".
Em síntese o Udenismo evoluiu historicamente numa radicalização já entranhada no seu ideário e nas suas práticas. A primeira fase do udenismo é essencialmente antigetulista e contra a política social e a intervenção do Estado na economia. A segunda fase é essencialmente moralista, combatia a corrupção do governo da aliança PSD-PTB. A terceira fase é a do anticomunismo radical que se aproxima de Adhemar de Barros e protagoniza o golpe de 64 com a deposição de João Goulart.
Agora, todos nós, sem exceção, vejamos que este mesmo ideário, com um certo ajuste histórico se encontra presente na realidade contemporânea. Por outro lado não podemos deixar de prestar a atenção que este ideário se adere precisamente na intimidade de todas as localidades. Especialmente o Crato que teve uma tradição política extremamente conservadora e udenista. Isso sem contar que as lideranças do velho clero do Crato migraram remotamente do integralismo para um udenismo de resultado junto às famílias que dominavam a região.
Quanto à questão da conta médica. Em primeiro lugar para se aceitar a ordem econômica vigente é preciso que toda pessoa de boa fé critique-a em sua raiz, pois desejar que os médicos virem sacerdotes, quando nem isso é realidade no seio das igrejas, especialmente as neo-pentecostais, é um exercício de mero desabafo. Ele, por mais sincero e contundente que seja, não mexe nem uma palha numa ordem cuja matriz é o lucro e o progresso material desbragado. Querer a ordem capitalista para seu progresso pessoal e criticar os médico por tal, é meia crítica e como não existe meia crítica, não se vê crítica alguma. Mas é claro, existem as críticas pessoais e estas apesar de provincianas vigem até na cultural mundial da imprensa americana.
Pelo fim. O "udenismo" é uma categoria histórica reconhecida pela literatura, dicionarizada como os filiados ao antigo partido da UDN e até mesmo faz parte de uma categoria ideológico política. Como categoria histórica o udenismo se criou como uma forte oposição ao governo Getúlio Vargas, combateu este político até a sua morte e com certeza, não por medidas exatamente democrática, tentou o golpe contra Getúlio e depois contra Juscelino Kubitscek. A liderança de um político de renome dos quadros da UDN, Carlos Lacerda, junto com militares da Aeronáutica (o ícone da Aeronáutica, Brigadeiro Eduardo Gomes fora derrotado por Getúlio) esteve por trás das pressões políticas que levaram ao suicídio de Getúlio. Do ponto de vista ideológico o udenismo era uma mistura de defesa das classes médias com a defesa dos grandes proprietários de terra. Por isso mesmo que pendulavam, por vezes, suas posições. Foram a favor do monopólio do petróleo e votaram contra a cassação dos comunistas, mas ao mesmo tempo eram contra a intervenção do Estado na economia, denunciavam a infiltração comunista e contestavam os resultados eleitorais quando perdiam eleições. Perderam as eleições para a presidência nos anos de 1945, 1950 e 1955, ganharam com Jânio Quadros e apoiaram o Golpe Militar de 1964.
Sendo o udenismo uma colcha ideológica, dada a diferença da raiz social do partido, nas suas teses políticas coexistiam ideais liberais, autoritários, progressistas e conservadores. O estilo de fazer política do udenismo era exuberante, denuncista, apegado ao liberalismo, ao bacharelismo, ao moralismo e um horror quase patológico aos chamados "populismos". O interessante é que a UDN na sua representação no Congresso Nacional tinha maior representação de proprietários de terra e funcionários públicos que qualquer outro partido, inclusive o PSD. A UDN sempre foi aliada dos empresários nacionais associados aos capitais estrangeiros e até por isso e em razão da guerra fria era adesista contumaz dos EUA. No embate político daquela época os inimigos da UDN a classificava como o "partido dos golpistas", "partido dos cartolas" e o seus aliados como o "partido do lenço branco" e "partido da aliança liberal". A UDN nunca foi apegada a determinadas formas de governo, especialmente a do voto secreto, como uma instituição essencialmente moralista já abria seu programa com a frase: "de nada valem as formas de governo, se é má a qualidade dos homens que nos governam".
Em síntese o Udenismo evoluiu historicamente numa radicalização já entranhada no seu ideário e nas suas práticas. A primeira fase do udenismo é essencialmente antigetulista e contra a política social e a intervenção do Estado na economia. A segunda fase é essencialmente moralista, combatia a corrupção do governo da aliança PSD-PTB. A terceira fase é a do anticomunismo radical que se aproxima de Adhemar de Barros e protagoniza o golpe de 64 com a deposição de João Goulart.
Agora, todos nós, sem exceção, vejamos que este mesmo ideário, com um certo ajuste histórico se encontra presente na realidade contemporânea. Por outro lado não podemos deixar de prestar a atenção que este ideário se adere precisamente na intimidade de todas as localidades. Especialmente o Crato que teve uma tradição política extremamente conservadora e udenista. Isso sem contar que as lideranças do velho clero do Crato migraram remotamente do integralismo para um udenismo de resultado junto às famílias que dominavam a região.
Quanto à questão da conta médica. Em primeiro lugar para se aceitar a ordem econômica vigente é preciso que toda pessoa de boa fé critique-a em sua raiz, pois desejar que os médicos virem sacerdotes, quando nem isso é realidade no seio das igrejas, especialmente as neo-pentecostais, é um exercício de mero desabafo. Ele, por mais sincero e contundente que seja, não mexe nem uma palha numa ordem cuja matriz é o lucro e o progresso material desbragado. Querer a ordem capitalista para seu progresso pessoal e criticar os médico por tal, é meia crítica e como não existe meia crítica, não se vê crítica alguma. Mas é claro, existem as críticas pessoais e estas apesar de provincianas vigem até na cultural mundial da imprensa americana.
3 comentários:
Caro José do Vale, você fez uma análise lúcida sobre a história dos partidos políticos do país.
Acho que é isso mesmo.
Precisamos, agora, escarafunchar os arquivos citadinos para saber a origem da esquerda no Crato.
Seria o PTB de Alderico de Paula Damasceno? Ou a anarquismo anti-clerical e anti-oligárquico de Chico Soares? Ou os comunistas, delatados pela banda udenista do Crato e encarcerados, como Juvêncio Mariano, Raimundo Bezerra, Geraldo Formiga, Eloi Teles e, de novo, Chico Soares?
Eis a questão!
Um abraço,
Carlos: você tem uma visão do entorno do mundo que é a mesmca com a qual o Pelé virou o grande craque que foi. Na verdade eu tenho a impressão que a esquerda cratense pós anos 70 teve grande influência dos universitários que retornaram para região após formados. Mas isso é parte, pois o Crato sempre foi muito antenado no país. O 68 teve manifestação estudantil por aí, o próprio fato de ser a terra do Arraes, atraía muita militância esquerdista. Depois a grande questão sertaneja, da terra, o próprio Juazeiro já era uma fratura com a velha estrutura agrária. Ih! Acho que estou abrindo o leque demais. Eis um assunto bom de um mestre como você. Apenas para teu controle. Ali pelos anos 58 a 60 o PTB já tinha quadros em atuação. Não sei se é do teu conhecimento, o PSD e UDN tiveram que fazer uma frente inusitada para eleger Virgílio Távora numa disputa com Adahil Barreto do PTB.
Você abriu o leque e despontou inúmeras questões ainda intocadas. É, deveras, um tema original e palpitante. Mas, não tenho muito fôlego para política, não! Principalmente a polítca do Crato.
Grande abraço!
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