Italiana morre após disputas
Roma. A italiana Eluana Englaro, 38, morreu ontem, às 20h10 locais (17h10 de Brasília), após 17 anos em estado vegetativo e um longa briga na Justiça para que permitissem sua morte.
´Sim, ela nos deixou. Mas não quero dizer nada. Só quero ficar sozinho´, afirmou Giuseppe Englaro, pai de Eluana.
A mulher esteve no centro de uma longa batalha judicial que se tornou política nos últimos dias. O primeiro-ministro Silvio Berlusconi tentou proibir a suspensão da alimentação e da água da italiana, enquanto o presidente Giorgio Napolitano considerava a medida do premiê inconstitucional.
Sua morte ocorre após meses de manobras políticas de Berlusconi para tentar evitar o cumprimento da decisão da máxima corte de Justiça italiana, que em novembro passado deu ganho de causa à família de Englaro e autorizou o desligamento, iniciado na última sexta-feira, do processo de alimentação e hidratação artificial que a mantinha viva.
Berlusconi chegou a ameaçar mudar a Constituição e tentou, na sexta, passar um decreto-lei vetando o procedimento autorizado pela Justiça. No entanto, o presidente Napolitano, de cuja assinatura a lei dependia para ter validade, considerou no entanto que a iniciativa era inconstitucional. Berlusconi manifestou ontem ´profundo pesar´ por não ter conseguido salvar a vida de Englaro.
Repercussão
A morte de Eluana foi anunciada no Senado italiano, enquanto se discutia o projeto de lei ordinário apresentado por Berlusconi depois do fracasso da tentativa de decreto que, com texto idêntico, proíbe a interrupção da alimentação em pacientes incapazes de expressar sua vontade.
Depois de ter sido feito um minuto de silêncio, o senador Caetano Quagriello, aliado de Berlusconi e vice-líder da ala conservadora do Senado, afirmou que ´Eluana não morreu, foi assassinada´.
Em resposta, a senadora Ana Finnochiaro, do Partido Democrata, acusou os conservadores de estarem ´fazendo o enésimo ato de carniça política sobre a morte de Eluana´. Outro parlamentar, Maurizio Gasparri, adisse se tratar ´claramente´ de um caso de eutanásia.
A aprovação do projeto de lei de Berlusconi deve voltar a ser discutida hoje no Senado.
A oposição acusa Berlusconi de ter tentado se valer do sofrimento de Englaro para aumentar seus poderes, desrespeitar a Justiça e desvirtuar a democracia italiana. Ontem, o ministro da Saúde italiano, Maurizio Sacconi, pediu que o país aprove o projeto de lei que proíbe interrupções de alimentação ´para que o sacrifício de Eluana não seja inútil´.
No Vaticano, o ministro da Saúde, Lozano Barragán pediu ´que o Senhor acolha Eluana em seu seio e perdoe a quem a levou deste mundo´.
Eluana sofreu um acidente de carro em 1992 que a deixou em estado vegetativo. Há quase dez anos, os familiares pleiteavam na Justiça uma autorização para deixá-la morrer. Na Itália, os pacientes podem recusar tratamento, mas não existe uma lei que lhes permita dar orientações sobre qual tratamento gostariam de receber no caso de um dia ficarem inconscientes. Foi graças a essa brecha que a Justiça aceitou o pedido de eutanásia.
ALIMENTAÇÃO SUSPENSA
Políticos pedem que morte seja esclarecida
Roma. O porta-voz dos senadores conservadores da Itália, Maurizio Gasparri, afirmou ontem que a morte de Eluana Englaro precisa ser esclarecida.
Gasparri disse ainda que é preciso saber que aconteceu na clínica La Quiete , em Udine, onde ela estava internada. O senador chamou o local de ´clínica da morte´.
A equipe médica havia previsto a redução inicial de 50% dos elementos nutrientes que eram fornecidos para manter Eluana com vida. Com isso, ela deveria morrer em 15 dias.
No entanto, após o premiê Silvio Berlusconi propor uma lei contra a eutanásia, os médicos aceleraram o procedimento e interromperam completamente a alimentação artificial.
O neurologista da Universidade de Udine, Giangluigi Gigli, também exigiu o esclarecimento da morte de Eluana, e pediu que a clínica La Quiete seja fechada. Gigli solicitou ainda um exame toxicológico para esclarecer se alguma substância externa pode ter provocado a morte da italiana.
O neurologista do caso, Carlo Alberto Defanti, disse que Eluana morreu ´de forma inesperada´ e a causa será determinada por uma autópsia.
Diário do Nordeste
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terça-feira, 10 de fevereiro de 2009
Giro pelo mundo
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