Num passado não muito distante, a entrega do Oscar era uma festa não apenas dos estúdios poderosos, mas também do grande público. O “glamour” dos filmes espetaculares, elenco de astros e estrelas e das milionárias arrecadações nas bilheterias que entusiasmavam fãs e cinéfilos na celebração de seus astros preferidos. Numa privilegiada visão dos principais concorrentes às diversas categorias do Oscar em sua 81ª edição, cuja entrega será hoje a noite, verifica-se o fortalecimento das duas tendências que vem modificando o caráter da premiação desde os anos 1990.
De um lado, as produções milionárias dos grandes estúdios enfrentam a concorrência cada vez mais real das modestas realizações criativas e de baixo orçamento dos pequenos estúdios. Neste ano são quatro contra um. Na outra ponta, aqueles filmes espetaculares e do “glamour” parecem ter tido uma despedida honrosa com “Titanic”, em 1997. Agora, chegou a vez dos filmes politicamente “engajados”, de visão crítica da sociedade e de reavaliação histórica. E não importa se eles estão bem ou mal nas bilheterias, se atraem ou não as grandes platéias, se seus elencos são ou não capazes de arrebatar o grande público.
Influência
Neste ano, dos cinco indicados à categoria de melhor filme, quatro são realizações modestas de pequenas produtoras. “Frost/Nixon”, de Ron Howard (Imagine Films, co-produção anglo-americana, US$ 35 milhões), “O Leitor”, de Stephen Daldry (Mirage Films, co-produção EUA-Alemanha, US$ 32 milhões), “Milk - a Voz da Igualdade”, de Gus Van Sant (Focus Films, US$ 15 milhões) e “Quem Quer Ser um Milionário?”, de Danny Boyle (Celador Films, EUA-Índia, US$ 10 milhões). E, chegamos a “O Curioso Caso de Benjamin Button”, de David Fincher, da Warner, US$ 150 milhões.
Quando lançadas entre novembro e dezembro do ano passado, os quatro pequenos, em circuito modesto e com poucas cópias, tinham rendas ínfimas. Na semana pós anúncio dos indicados pela Academia, todos tiveram uma subida impressionante no Ranking de bilheteria: “Frost/Nixon”, 351%; “Foi Apenas um Sonho”, 195%; “O Lutador”, 117%; “Quem quer ser um Milionário?”, 80%; “Milk”, 11%; “O Leitor”, 10%, e “Benjamin Button”, 8%. Prova da força e influência do Oscar.
Há uma flagrante euforia e um “já ganhou” com “Quem Quer ser um Milionário?”, o qual recebeu os principais prêmios das associações setorizadas de Hollywood - fotografia, montagem, roteiristas, produtores, diretores -, além do Bafta inglês e do Globo de Ouro. A obra de Danny Boyle, capaz de contagiar o público com a emoção, recicla o estilo do cinema de Bollywood e utiliza-se da linguagem dinâmica de “Cidade de Deus” (não dispensa sequer a galinha) para reconstituir a história real de Jamal Malik (Dev Patel), adolescente órfão e quase analfabeto que tem num programa de TV de perguntas e respostas (no Brasil, o “Show do Milhão”) a chance de sair da marginalidade e miséria levando o prêmio milionário.
“Quem Quer ser um Milionário?” trata da cruel realidade das crianças de rua da Índia com um toque de fantasia, construindo a história da conquista da felicidade por um garoto que lutou por ela da infância à adolescência. Danny Boyle faz imagens dolorosas e cruéis das crianças de rua de Mombai, na Índia, mas narra essa história com um tom de leveza impregnada por uma contagiante e vigorosa energia. Pelo conjunto dos prêmios recebidos, cujos integrantes das associações são igualmente votantes do Oscar, deve levar a maioria dos prêmios, incluindo o de filme.
“O Curioso Caso de Benjamin Button” é o grande adversário de “Milionário”. Não há dúvida de que David Fincher realizou um filme inteligente capaz de encantar e promover a reflexão sobre as razões da existência através da história de um homem que vive de trás para a frente no tempo. Para o analista, o melhor de todos, mas será surpresa caso receba o Oscar de melhor filme.
PEDRO MARTINS FREIRE
Crítico de Cinema
Diário do Nordeste
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domingo, 22 de fevereiro de 2009
Hoje é noite de Oscar....
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