Carta aberta ao reitor no aniversário da URCA
Autora: Salete Maria
Magnífico Reitor
Receba esta cartinha
E dela seja leitor
Na data que se avizinha
Da URCA, o natalício
E “por dever de ofício”
Reflita uma coisinha
A melhor coisa do mundo
É não ter o rabo preso
Não fazer papel imundo
Nem na consciência peso
É poder dizer: “discordo”
Pois quanto mais cedo acordo
Meu cérebro não fica obeso
No governo de Herzog
Eu redigi dois cordéis
Também botei no meu blog
E divulguei em papéis
As irregularidades
E muitas iniqüidades
Daqueles tempos cruéis
Agora no seu mandato
Da “URCA do jeito certo”
Não é meu desiderato
Ver o errado encoberto
Penso que ser coerente
Não é plantar a semente
E fugir para o deserto
É preciso cultivar
Aquilo que se plantou
Se for preciso arrancar
O mato ruim que gerou
Cortar a erva daninha
Fazer uma fogueirinha
E ver se o fogo pegou
Queimar as coisas erradas
Finalizando as mazelas
Não fazer vistas cerradas
Nem compactuar com elas
Tomar medida urgente
Na condição de gerente
Pra ver se dá cabo delas
É preciso tomar tento
Pra erros não repetir
Ficar bastante atento
Não cochilar, não dormir
Tampouco ser conivente
Ou mesmo ficar silente
Fechar a porta e sair
Senhor Reitor e amigo
Eu já lhe adverti
Já lhe mostrei o perigo
Dos desmantelos que vi
Mostrei-lhe a coisa ruim
Pro Senhor botar um fim
E boa-fé eu senti
Porém até esta data
Não vi profunda mudança
Nenhum registro em ata
Contra o mal que avança
Muita coisa piorou
E o Senhor não tomou
Das rédeas, a liderança
Por isto este cordel
Para que o Senhor leia
E tire da cara o véu
Ou o que lhe encandeia
E abra bem o seu olho
Botando as barbas de molho
Antes que isto dê cadeia
No seu governo de agora
Também tem corrupção
E ninguém mais ignora
Que tenha perseguição
Privilégio e nepotismo
Desmando e continuísmo
De cargo acumulação
E tem verba desviada
Pra favorecer amigo
Tem função que foi criada
Olhando só pro umbigo
Imoralidade tem
Muita maldade também
Causando choro e gemido
Tem irregularidade
A torto e a “Direito”
Em muita facilidade
Pra quem cultiva o mal feito
Redução de carga horária
Viagem e muita diária
Pra tudo “se dá um jeito”
Tem coisas nos bastidores
Mas também a céu aberto
Tem cargos de pró-reitores
Criados meio incorretos
Tem lama na FUNDETEC
Em Iguatu falta o MEC
Pra ver os erros de perto
Tem muito ad referendo
Quando a coisa convém
Muito processo perdendo
O objetivo que tem
Prazo não é respeitado
Tem parecer “fabricado”
Pra quem só disser amém
Tem rigores para uns
Pra outros, “deixa fazer”
Há proteção para alguns
Pra outros: “vão se foder”
A cartilha herzoguiana
Despótica, vil e tirana
É cartinha de ABC
A incompetência também
Faz o pacote completo
Erros crassos vão e vêm
São o hobby predileto
Dos que sem qualquer pudícia
Carregados de malícia
Contra a lei dão seu veto
E que dizer dos horrores
Que fazem pra aparecer?
Ocupando sem pudores
Funções que não podem ter
Tem professor graduado
Opinando em doutorado
De quem pede parecer
Ademais tem os conchavos
E os “acordos de paz”
Tem os “nove/doze avos”
Que com tudo se apraz
Corroborando a sujeira
Achando que é bobeira
Quando denúncia se faz
E alguém pode até dizer
Que critico porque quero
Um cargo pra “me fazer”
E deixar de lero-lero
Convites lhe recusei
Porque eu jamais lutei
Pra voltar a estaca zero
Digo-lhe que valorizo
A URCA onde estudei
E isto eu sempre friso
Ao ensinar o que sei
Esta Instituição
Mora no meu coração
E defendê-la é lei
Reconheço que você
Tem feito algum progresso
Sei que há muito por fazer
E lhe desejo sucesso!
Mas não precisa dinheiro
Para com coragem e zelo
Evitar um retrocesso
Celebro o que de bom
A URCA pôde ganhar
Isto demonstra o seu dom
De saber se articular
Mas, por favor, convenhamos
Nem só de parede e planos
Se faz um bom governar
Imagino que é difícil
Resolver tanta questão
Mas faça um sacrifício
E exija a união
Do povo que tá ganhando
E mal lhe assessorando
Sem mostrar nenhuma ação
Em prol do seu reitorado
Contribuo com projetos
Porém todos são barrados
Quando não estou por perto
Sinto na pele o problema
Acabe com este “esquema”
E faça do JEITO CERTO!
Quem avisa amigo é
E eu sou amiga sua
Por isto meto a colher
E também sento a pua
Pro Senhor ficar esperto
E a URCA DO JEITO CERTO
Não ser julgada na rua
Em breve volto pra casa
Pra continuar somando
Não pense que criei asa
Porque tô filosofando
Não vou arribar daí
Me demitir e partir
Como muitos tão pensando
Meu desejo é ajudar
E ver a URCA crescer
Cada vez mais elevar
Nosso nível do saber
Seja através da extensão
Ou na pós-graduação
Pesquisa temos que ter
Por isto, democratize
O debate e as instâncias
Pra que seu povo não pise
Com toda sua arrogância
Em quem ajudou você
A Reitor se eleger
E a plantar esperança
Por aqui eu me despeço
E lhe remeto um abraço
A única coisa que peço
É que desate o laço
Que prende sua ação
E impede a revolução
Em plenas águas de março!
Salete Maria, 2009
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sábado, 28 de março de 2009
Cordel da URCA
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Um comentário:
A Professora Salete Maria, da URCA, foi ameaçada após divulgar um cordel em que dá a sua opinião sobre a universidade. Onde é que nós vamos parar? Ameaças à liberdade de expressão da professora, incansável lutadora contra a homofobia, a violência contra a mulher e a opressão de classe. É preciso uma resposta enérgica contra essa tentativa de intimidação.
Quero ver se o reitor vai se omitir sobre este assunto também!
Ajude a divulgar.
Leia este triste e revoltante relato:
"AO REITOR DA UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI-URCA
AOS COLEGAS DE UNIVERSIDADE,
AOS MEUS COLEGAS DE DEPARTAMENTO,
AOS MEUS ALUNOS E AMIGOS,
"Mais que as idéias, são os interesses que separam as pessoas."
(Alexis de Tocqueville)
A razão deste e-mail é para comunicar um fato por mim reputado como gravíssimo e pedir apoio e solidariedade urgentes.
Em face da circulação de um cordel redigido por mim intitulado CARTA ABERTA AO REITOR NO ANIVERSÁRIO DA URCA, onde, apesar de reconhecer alguns avanços desenvolvidos no governo Plácido, chamo a atenção do mesmo para muitas irregularidades existentes em sua gestão, (cordel publicado no meu blog www.cordelirando.blogspot.com, e também remetido para o próprio Reitor, por e-mail e para algumas pessoas amigas); RECEBI HOJE, 28 de março, por volta das 16h 20 min, um telefonema que me deixou estarrecida.
Trata-se de uma ligação efetuada pelo professor RENO GONDIM do Departamento de Direito da URCA. O referido professor, com quem sempre tive, até a data de hoje, excelente relação profissional e de amizade, é, atualmente, candidato a chefe do meu departamento. Pois bem. Estou, há mais de dois anos residindo em Salvador para fins de cursar doutorado e este professor nunca me fez um contato, nem por e-mail nem por telefone, sequer, para saber se eu estou bem, se tenho o que comer ou onde morar, já que não disponho de bolsa de estudos.
No entanto, na tarde de hoje, creio que após ler o meu cordel, já que fez menção a ele, o referido professor me telefonou para (após certificar-se de que era eu quem havia atendido ao telefone) dizer que ia - palavras dele - ME COMER, ME FODER, ME ESTUPRAR, E EM SEGUIDA ACABAR COMIGO, JÁ QUE ERA ISTO QUE EU MERECIA. Disse ainda o professor que - palavras dele - SE PLACIDO NAO ERA HOMEM PARA FAZER ISTO, ELE ERA... ACRESCENTANDO QUE EU ERA PUTA E SAPATÁO PORQUE ELE AINDA NAO TINHA ME COMIDO(sic).
Sem entender o que se passava, eu lhe perguntei se ele estava louco e se por acaso ele tinha praticado alguma irregularidade tão grave que o fizesse se sentir ofendido com minha literatura. Ele disse, aos berros e, aparentemente, muito transtornado, que eu IA PAGAR PELO QUE ESCREVI, falando ainda QUE ACABARIA COMIGO TAO LOGO EU BOTASSE MEUS PÉS NA URCA. Antes que eu desligasse, o referido professor ainda proferiu muitos palavrões e expressões desconexas.
Diante de tal situação, liguei imediatamente para a secretária da URCA, Fátima Cabral, a fim de saber se ela deu meu telefone ao professor, uma vez que somente ela e a professora Cileide dispõem do meu número, além de meus familiares, já que estou sem celular. Fátima Cabral me disse que não, mas que iria perguntar a professora Cileide. Eu me lembro que o próprio professor falou no nome de Cileide.
Uma vez contactada, esta professora confirmou ter dado o meu telefone pra ele e disse que o mesmo o pediu para "se comunicar comigo”, não informando sobre o quê. Assim, sendo, pretendo fazer um BOLETIM DE OCORRENCIA amanhã cedo, pois já é tarde e a delegacia fica muito longe de onde moro aqui em Salvador.
Em face disto, esta carta também se configura como um comunicado formal ao Reitor da URCA, já que o meu cordel, embora em formato de carta aberta, tinha como destinatário o mesmo. Ademais, o professor Reno Gondim me telefonou pretendendo "fazer justiça ao Professor Plácido".
Este mesmo documento será endereçado ao Departamento de Direito, a cuja chefia o referido professor concorre como candidato único.
Devo lembrar que, ao redigir meu cordel, exercitei minha liberdade de expressão e, como manda a lei e como sempre faço, o assinei, assumindo a responsabilidade por tudo que escrevi, uma vez que tenho como provar tudo que narrei.
Deste modo, vale lembrar também que nem no governo de André Herzog, do qual eu era oposição declarada, sofri tamanha PERSEGUIÇAO. Creio que a Universidade como um todo deve repudiar tal conduta, de modo solene e formal. Bem como deve adotar as medidas administrativas cabíveis.
Ademais, em breve chego ao Cariri para ministrar aula na pós-graduação. Temo pelo que possa me acontecer. Vou pedir segurança ao coordenador de Curso e vou me acautelar porque penso que esta pessoa é capaz de tudo, uma vez que em lugar de discordar de meus argumentos no campo das idéias, escrever e assinar algo em contrário, opta por fazer terror e promover violência psicológica, por telefone, imaginando que, com isto, calo-me definitivamente.
Penso que a conduta deste professor denota e reflete um COMPORTAMENTO AUTORITARIO, PERSEGUIDOR, MACHISTA, HOMOFÓBICO, TRAIÇOEIRO E CRIMINOSO, que não deve ser olvidado nem tampouco relativizado por ninguém.
Por outro lado, não entendo sua manifestação, uma vez que eu não o citei e tampouco faço idéia do tipo de ofensa que eventualmente eu o fiz, já que o mesmo não ocupa, ainda, cargo superior neste IES. O que será que o professor Reno pensa que eu sei a respeito dele?
Indignada com tal atitude, mas percebendo que ela não é isolada, mas ao contrário, faz parte de uma política de intimidação e perseguição em curso na URCA desde há muito tempo, farei chegar às mãos do Reitor este meu relato.
Creio que a Universidade é ambiente de debate e inclusive de discordâncias. Mas as pelejas devem acontecer no campo das idéias, dos pensamentos, dos argumentos, das tomadas de posições. E tem que ser de modo claro, expresso e não sorrateiro.
Sinto-me ofendida como pessoa e como profissional que sou. PERSEGUIDA por conta de minhas posições que, na verdade deveriam orgulhar meus pares, já que não compactuo com coisas erradas e tampouco faço vistas grossas para elas.
Tenho medo de ir a Faculdade. Mas tenho coragem o suficiente para, diante do meu medo, não recuar, não retroagir, não desistir de lutar por uma URCA, UM CARIRI, UM BRASIL E UM MUNDO MELHOR.
Agradeço pela atenção e, caso entendam que mereço, também aceito, de coração, o vosso apoio.
Atenciosa e indignadamente,
Salete MARIA da Silva"
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