Maria Roxa
A personagem deste artigo, que eu me lembre, não cheguei a conhecer pessoalmente. Mas, por outro lado, o seu nome era por demais conhecido no bairro onde vivi a minha infância. Ela morava, junto com uma grande família, entre parentes mais próximos e agregados, na Rua André Cartaxo. Eu morava na Rua Teodorico Teles, também conhecida como Rua da Cruz.
Maria Roxa, eu sabia, era piauiense e adepta da umbanda (ou candomblé), mas que, sob o forte preconceito e intolerância, bastante arraigados numa cidade de raízes católicas como o Crato, principalmente há trinta ou quarenta anos atrás, - era sinônimo de macumba, pura e simplesmente. Macumba era, ainda, sinônimo de magia negra, feitiço, pacto com forças ocultas e malignas. Portanto, Maria Roxa era conhecida, pejorativamente, como A Feiticeira. Dizia-se, inclusive, que o casarão onde ela residia, dispunha de um porão onde eram realizados os rituais da primitiva religião, heranças da etnia afro que para o Brasil foi transplantada na época da colonização lusitana, obrigada à prestação de trabalho escravo.
Ouvia todas essas histórias, com bastante interesse e tomada por aquela impressão própria da infância cheia de imaginação. Não sentia a repulsa que percebia existir nas pessoas adultas. A minha aguda curiosidade, ao contrário, atraia-me para aquela mulher diferente, difamada por preservar suas raízes negreiras (o apelido Maria Roxa era um sintoma da cor de sua pele) e aquele imenso e misterioso casarão, de primeiro andar e de um suposto porão. Contentou-me, pois, quando fui colega de escola de Cival, neto de Maria Roxa. Era a oportunidade de adentrar aquela dimensão desconhecida.
E a oportunidade se deu, quando Cival me chamou para ir até a sua casa. Para minha surpresa, além do tamanho desta (enorme, principalmente sob a perspectiva de uma criança que comumente superdimensiona as coisas), não havia nada de diferente por lá.
Resgatar, mesmo que sob a etérea perspectiva infantil, personagens marginalizadas por conta de um padrão diferente do comportamento dominante, é, da minha parte, uma maneira de fazer justiça, ainda que tardia.
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sábado, 20 de junho de 2009
Tipos populares do Crato (1)
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