O menino Tomé morava com os pais e sete irmãos no Sítio Riachão em Milagres, na parte oriental do Cariri cearense. Em fins de 1912, a família resolveu mudar-se para o Crato, passando a residir no início da atual Rua Senador Pompeu, que na época denominava-se mui apropriadamente de “Fundo da Maca.” Por trás da casa se estendia imenso matagal no qual a criançada pegava passarinhos com arapucas.
Com a morte da mãe, uma tia de Tomé, de nome Inês, que todos chamavam tia Badêz, passou a cuidar com muito rigor da educação da criançada. Todos lhe devotavam profundo respeito. E ela correspondia orientando os sobrinhos da melhor forma possível, não dispensando a correção de nenhuma pequena traquinagem.
Por essa época, uma das irmãzinhas de Tomé tinha o péssimo hábito de chupar o dedinho polegar. Num dia de domingo, após o almoço, a menina dormia numa rede armada na sala de visita com a mão direita estendida por fora da rede. Todos pareciam dormir naquele inicio de tarde quente de verão. Tomé era o único ser movente naquela casa, tamanho era o silêncio que reinava. Ao ver a irmãzinha sem o dedo na boca, brotou-lhe do cérebro uma terrível idéia, logo colocada em prática.
Tomé dirigiu-se, então, ao quintal da casa, onde vicejava um robusto pé de pimenta malagueta, com bastante carrego. Colheu um punhado de pimenta vermelhinhas de tão maduras, previamente esmagado entre suas mãos e esfregou no dedinho da irmã. Feito isso, ganhou o bredo, somente retornando, ao ouvir o choro da criança.
A tia Badez reuniu os irmãos defronte para ela e perguntou a cada um: “Foi você?” “Não,” respondiam os meninos olhando nos olhos da tia. Quando chegou a vez de Tomé, ela perguntou: “Só resta você. Responda: foi você que passou pimenta no dedo da menina?” “Não!” Respondeu Tomé, sem coragem de encarar a tia. Como resposta a sua negativa, Tomé foi agraciado com umas merecidas chineladas no traseiro, e a voz da tia: “Você não respondeu me olhando nos olhos! E era o único ausente de casa quando a menina acordou chorando. Está mentindo!” Estava, mas insistiu na mentira. “Não, não estou mentindo!” Disse-lhe Tomé esfregando os olhos com os dedos das mãos. Estes, impregnados de pimenta denunciaram a peraltice, pois Tomé com os olhos ardendo recobrou o choro com maior intensidade e as palmadas se repetiram também com maior vigor. Castigo dobrado, ou multiplicado, porque se esquecera de lavar as mãos, como narrou ele anos depois.
Tomé cresceu, foi exemplar funcionário do Banco do Brasil e depois de aposentado transformou-se no talentoso escritor Tomé Cabral. Escreveu os deliciosos livros: "Patuá de Recordações", cujo prefácio é da escritora Rachel de Queiroz; "A Europa é bem ali" e o "Dicionário de Termos e Expressões Populares". Vale a pena lê-lo!
Adaptado por Carlos Eduardo Esmeraldo de “Patuá de Recordações” (Memórias de Tomé Cabral) pág. 150, capítulo: “E o feitiço virou mesmo contra o feiticeiro.” Edição do Autor: Campinas – SP: 1978
Com a morte da mãe, uma tia de Tomé, de nome Inês, que todos chamavam tia Badêz, passou a cuidar com muito rigor da educação da criançada. Todos lhe devotavam profundo respeito. E ela correspondia orientando os sobrinhos da melhor forma possível, não dispensando a correção de nenhuma pequena traquinagem.
Por essa época, uma das irmãzinhas de Tomé tinha o péssimo hábito de chupar o dedinho polegar. Num dia de domingo, após o almoço, a menina dormia numa rede armada na sala de visita com a mão direita estendida por fora da rede. Todos pareciam dormir naquele inicio de tarde quente de verão. Tomé era o único ser movente naquela casa, tamanho era o silêncio que reinava. Ao ver a irmãzinha sem o dedo na boca, brotou-lhe do cérebro uma terrível idéia, logo colocada em prática.
Tomé dirigiu-se, então, ao quintal da casa, onde vicejava um robusto pé de pimenta malagueta, com bastante carrego. Colheu um punhado de pimenta vermelhinhas de tão maduras, previamente esmagado entre suas mãos e esfregou no dedinho da irmã. Feito isso, ganhou o bredo, somente retornando, ao ouvir o choro da criança.
A tia Badez reuniu os irmãos defronte para ela e perguntou a cada um: “Foi você?” “Não,” respondiam os meninos olhando nos olhos da tia. Quando chegou a vez de Tomé, ela perguntou: “Só resta você. Responda: foi você que passou pimenta no dedo da menina?” “Não!” Respondeu Tomé, sem coragem de encarar a tia. Como resposta a sua negativa, Tomé foi agraciado com umas merecidas chineladas no traseiro, e a voz da tia: “Você não respondeu me olhando nos olhos! E era o único ausente de casa quando a menina acordou chorando. Está mentindo!” Estava, mas insistiu na mentira. “Não, não estou mentindo!” Disse-lhe Tomé esfregando os olhos com os dedos das mãos. Estes, impregnados de pimenta denunciaram a peraltice, pois Tomé com os olhos ardendo recobrou o choro com maior intensidade e as palmadas se repetiram também com maior vigor. Castigo dobrado, ou multiplicado, porque se esquecera de lavar as mãos, como narrou ele anos depois.
Tomé cresceu, foi exemplar funcionário do Banco do Brasil e depois de aposentado transformou-se no talentoso escritor Tomé Cabral. Escreveu os deliciosos livros: "Patuá de Recordações", cujo prefácio é da escritora Rachel de Queiroz; "A Europa é bem ali" e o "Dicionário de Termos e Expressões Populares". Vale a pena lê-lo!
Adaptado por Carlos Eduardo Esmeraldo de “Patuá de Recordações” (Memórias de Tomé Cabral) pág. 150, capítulo: “E o feitiço virou mesmo contra o feiticeiro.” Edição do Autor: Campinas – SP: 1978
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