Crato, cidade da Cultura. Atraído por esta referência, resolvi fazer o concurso para professor de história da URCA, em 1994. No mesmo período, estava havendo também um concurso em Sobral. Mesmo estando esta cidade bem mais próxima de Fortaleza, escolhi fazer a seleção aqui, visto que a cidade de Crato e o Cariri exerciam sobre mim uma grande atração e fascínio, exatamente em função da sua história e da cultura.
Aprovado no concurso, assumi, em agosto do mesmo ano, o cargo para o qual concorri. Logo comecei a fazer amigos e a conhecer o Cariri. Li sobre a história da região. Visitei cidades. Pesquisei sobre a festa do pau da bandeira de Barbalha. Acompanhei e acompanho as romarias de Juazeiro. Conheci e fiz aulas de campo no Caldeirão do Beato Zé Lourenço. Mantive contatos e li sobre as bandas cabaçais, reisados, penitentes, e tantos outros grupos representativos da cultura popular tradicional. Enfim, procurei conhecer o lócus que escolhi para viver, trabalhar e constituir família.
Ao longo desses quinze anos e alguns meses, percebi que o Cariri, não pode ser concebido com uma região homogênea, com uma história, uma economia e uma cultura únicas. Cada cidade tem sua história, sua cultura e seu jeito de ser. Cada cidade tem suas especificidades. E aqui quando falo cidade não estou me referindo aos prédios, às ruas e às praças, mas aos seus moradores, às pessoas que nela habitam, trabalham e constroem a sua dinamicidade nos mais diversos aspectos. Cada município tem a sua vocação, legada pela sua formação histórico-cultural. Nesse sentido, me pergunto: qual a vocação(ou vocações) do Crato?
Conforme iniciei o texto, o Crato é a Cidade da Cultura. Eis a vocação histórica do Crato. Essa vocação se deve, sobretudo, à vasta produção literária e histórica que aqui existe desde o século XIX, com a presença, por exemplo, de João Brígido que fundou o primeiro jornal do interior da Província do Ceará, O ARARIPE, em 1855, e produziu o livro: Ceará, homens e fatos, um clássico da historiográfica cearense, publicado já no século XX(1919). Ainda no século XIX, podemos destacar a fundação do Seminário São José, que representou o inicio do ensino superior no Crato e na região. Somem-se a esses eventos culturais, as lutas libertárias e republicanas comandadas pelos Alencar.
No século XX, quero destacar três grandes estudiosos. O primeiro, Irineu Pinheiro. Dentre seus diversos estudos destaco: O Cariri: seu descobrimento, povoamento e costumes(1950) e Efemérides do Cariri (publicado dez anos após sua morte, em1964). O segundo, Padre Antônio Gomes, também autor de diversas obras sobre a nossa história local e regional. Dentre suas obras enfatizo: Um civilizador do Cariri(1955) e A cidade de Frei Carlos(1971). O terceiro intelectual que faço menção é José Alves de Figueiredo Filho, grande estudioso da cultura e história do Crato e do Cariri. Dentre seus trabalhos, evidencio: História do Cariri(4 volumes, sendo o último publicado, não tenho certeza, em 1964).
No ano de 1953, esses intelectuais fundaram o Instituto Cultural do Cariri (ICC) e no ano de 1955 a Revista Itaytera, que é uma fonte inesgotável para se estudar e conhecer a história do Crato e do Cariri. Já nos anos de 1960 foi fundada a Faculdade de Filosofia do Crato, pertencente à Diocese de Crato. Em 1986, houve a criação da Universidade Regional do Cariri. Não podemos esquecer também a fundação da Diocese de Crato, em 1914, e do seu importante papel na educação da nossa cidade através dos colégios Diocesano, Santa Tereza e Pequeno Príncipe.
Ao longo do tempo, no entanto, este conceito de Cidade da Cultura foi ampliado, passando a incorporar também as manifestações da cultura popular e das artes. Hoje, quando falamos “cidade da cultura”, logo nos vem à mente esse rico legado historiográfico, cultural e literário, mas também as bandas cabaçais, os reisados, os manêro pau e tantas outras experiências populares. Mas será que todos os cratenses compreendem a importância dessa riqueza histórico-cultural? E mais: será que a atual geração está fazendo jus a ela? Quantos prédios históricos são conservados na cidade? Qual a política desenvolvida para manter os grupos da cultura popular e incentivar os mais jovens a se engajarem nesses grupos? Quantos cursos superiores foram criados nos últimos anos na cidade? Quantas faculdades aqui se instalaram?
A essa vocação cultural, artística e educacional, acrescento a vocação turística. O município de Crato possui uma potencialidade turística enorme. Aqui, podem ser desenvolvidos diversos tipos de turismo: o ecológico, o histórico-cultural, o científico, o religioso e outros mais. Deus nos deu de presente essas potencialidades. O que estamos fazendo com elas? É a pergunta, no meu entender, que todos nós nos devemos fazer.
Aprovado no concurso, assumi, em agosto do mesmo ano, o cargo para o qual concorri. Logo comecei a fazer amigos e a conhecer o Cariri. Li sobre a história da região. Visitei cidades. Pesquisei sobre a festa do pau da bandeira de Barbalha. Acompanhei e acompanho as romarias de Juazeiro. Conheci e fiz aulas de campo no Caldeirão do Beato Zé Lourenço. Mantive contatos e li sobre as bandas cabaçais, reisados, penitentes, e tantos outros grupos representativos da cultura popular tradicional. Enfim, procurei conhecer o lócus que escolhi para viver, trabalhar e constituir família.
Ao longo desses quinze anos e alguns meses, percebi que o Cariri, não pode ser concebido com uma região homogênea, com uma história, uma economia e uma cultura únicas. Cada cidade tem sua história, sua cultura e seu jeito de ser. Cada cidade tem suas especificidades. E aqui quando falo cidade não estou me referindo aos prédios, às ruas e às praças, mas aos seus moradores, às pessoas que nela habitam, trabalham e constroem a sua dinamicidade nos mais diversos aspectos. Cada município tem a sua vocação, legada pela sua formação histórico-cultural. Nesse sentido, me pergunto: qual a vocação(ou vocações) do Crato?
Conforme iniciei o texto, o Crato é a Cidade da Cultura. Eis a vocação histórica do Crato. Essa vocação se deve, sobretudo, à vasta produção literária e histórica que aqui existe desde o século XIX, com a presença, por exemplo, de João Brígido que fundou o primeiro jornal do interior da Província do Ceará, O ARARIPE, em 1855, e produziu o livro: Ceará, homens e fatos, um clássico da historiográfica cearense, publicado já no século XX(1919). Ainda no século XIX, podemos destacar a fundação do Seminário São José, que representou o inicio do ensino superior no Crato e na região. Somem-se a esses eventos culturais, as lutas libertárias e republicanas comandadas pelos Alencar.
No século XX, quero destacar três grandes estudiosos. O primeiro, Irineu Pinheiro. Dentre seus diversos estudos destaco: O Cariri: seu descobrimento, povoamento e costumes(1950) e Efemérides do Cariri (publicado dez anos após sua morte, em1964). O segundo, Padre Antônio Gomes, também autor de diversas obras sobre a nossa história local e regional. Dentre suas obras enfatizo: Um civilizador do Cariri(1955) e A cidade de Frei Carlos(1971). O terceiro intelectual que faço menção é José Alves de Figueiredo Filho, grande estudioso da cultura e história do Crato e do Cariri. Dentre seus trabalhos, evidencio: História do Cariri(4 volumes, sendo o último publicado, não tenho certeza, em 1964).
No ano de 1953, esses intelectuais fundaram o Instituto Cultural do Cariri (ICC) e no ano de 1955 a Revista Itaytera, que é uma fonte inesgotável para se estudar e conhecer a história do Crato e do Cariri. Já nos anos de 1960 foi fundada a Faculdade de Filosofia do Crato, pertencente à Diocese de Crato. Em 1986, houve a criação da Universidade Regional do Cariri. Não podemos esquecer também a fundação da Diocese de Crato, em 1914, e do seu importante papel na educação da nossa cidade através dos colégios Diocesano, Santa Tereza e Pequeno Príncipe.
Ao longo do tempo, no entanto, este conceito de Cidade da Cultura foi ampliado, passando a incorporar também as manifestações da cultura popular e das artes. Hoje, quando falamos “cidade da cultura”, logo nos vem à mente esse rico legado historiográfico, cultural e literário, mas também as bandas cabaçais, os reisados, os manêro pau e tantas outras experiências populares. Mas será que todos os cratenses compreendem a importância dessa riqueza histórico-cultural? E mais: será que a atual geração está fazendo jus a ela? Quantos prédios históricos são conservados na cidade? Qual a política desenvolvida para manter os grupos da cultura popular e incentivar os mais jovens a se engajarem nesses grupos? Quantos cursos superiores foram criados nos últimos anos na cidade? Quantas faculdades aqui se instalaram?
A essa vocação cultural, artística e educacional, acrescento a vocação turística. O município de Crato possui uma potencialidade turística enorme. Aqui, podem ser desenvolvidos diversos tipos de turismo: o ecológico, o histórico-cultural, o científico, o religioso e outros mais. Deus nos deu de presente essas potencialidades. O que estamos fazendo com elas? É a pergunta, no meu entender, que todos nós nos devemos fazer.
Não quero aqui menosprezar as possibilidades econômicas, com a aquisição de empresas e indústrias. Muito pelo contrário. Devemos lutar para trazer para o Crato mais e mais investimentos privados e públicos. Agora, as duas vocações a que me referi acima podem atrair muitos investimentos e gerar riqueza para a cidade e seus habitantes. Há muitos exemplos de pequenas cidades, sobretudo na Europa, que vivem basicamente do turismo cultural, histórico, religiosos, etc.
Nesse sentido, me pergunto (e aqui não vai nenhuma crítica ao prefeito Samuel Araripe e demais administradores): porque o Crato não tem uma secretaria exclusivamente dedicada à cultura? E quero aqui registrar o excelente trabalho que a Daniela Esmeraldo está fazendo a frente da pasta da Cultura. Mas ela tem que cuidar também do esporte e da juventude. É muita coisa pra uma secretaria só. Uma segunda pergunta: porque o Crato não possui uma secretaria de turismo, ao invés de um departamento dentro da Secretaria de Desenvolvimento Econômico? Sei que existem as dificuldades financeiras do município, sobretudo neste ano de crise. Mas, não custa nada ousar e quebrar paradigmas.
Amigos leitores, amigos cratenses, esta é uma reflexão de um cratense de coração (e sempre digo que sou um caririense, pois adoro todas as cidades da região), com o objetivo de provocar uma discussão sobre a cidade que escolhi para viver. O olhar para o passado que fiz não é numa perspectiva saudosista, mas sim numa perspectiva de se aprender com nossos antepassados e planejarmos um presente e futuro promissores. E para isto devemos cada vez mais arregaçar as mangas e trabalharmos.
Escrito por Océlio Teixeira de Souza
Publicado no Blog do Crato
2 comentários:
Meu irmão, obg por postar aqui esse meu texto. Ontem, na correria do MOVIMENTO OAB PRA VALER, acabei esquecendo de publicar aqui. Espero contar com seus comentários a respeito do texto. Vc conhece o Crato muito melhor do que e tem uma grande contribuição a dar a esse debate.
Abçs fraternos.
Pois é Océlio, um texto com tamanha lucidez não poderia ficar de forma deste blog que pretende justamente ser um forum previlegiado das questões regionais. Concordo integralmente com o conteúdo do seu texto. Precisamos de idéias arejadas e despidas de preconceitos e provincianismo para pensarmos coletivamente um projeto integrado de desenvolvimento para o Cariri, onde cada cidade deve contribuir a partir de suas própiras vocações econômicas e culturais. Parabéns pelo belo texto.
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