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quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Jornal do Cariri homenageia uma das mulheres mais importantes da educação de Juazeiro do Norte

Por Nina Luiza Carvalho

Dona Assunção Gonçalves é um ser plural com vivências na arte, educação e cultura da cidade de Juazeiro do Norte. Educadora não só das letras e artes, foi para muito de seus alunos, um exemplo de mulher e determinação.
Maria Assunção Gonçalves, de 93 anos, foi batizada por Padre Cícero, em 1916. O pai, que era fumeiro, curtia os rolos de fumo dentro de casa, o que acabou intoxicando toda família. Seu tio e padrinho, José Xavier de Oliveira, muito amigo do Padre, aconselhou a família de dona Assunção a ir batizá-la com o Padre Cícero. Como ela mesma gosta de mencionar, sua família saiu dos troncos e raízes de ‘Joazeiro’ e pertence a 13° geração de Caramuru.

Quando ela nasceu, o Padre não podia mais celebrar, mas dava seus sermões em casa. Acabou sendo batizada com ele, mas sua unção foi com o vigário Esmeraldo, em 1917. Segundo ela, foi por causa do milagre do batismo que sobreviveu.

Moça de vida simples e órfã muito cedo, Assunção iria morar com uma das trabalhadoras que cuidava da casa, dona Zifinha. Mas sempre teve o apoio do seu tio José Xavier, tendo em sua prima Amália Xavier, um ícone de mulher. Declara que ela foi mais que prima, foi irmã e mãe. Precisou trabalhar desde muito cedo, surgindo dessa necessidade, o dom para as artes e a docência.

Lecionava canto, renda em bilros, retalhos, pintura, português e literatura. Foi através dessas interdisciplinares que cativou e cativa até os dias de hoje jovens e adultos pelo seu empenho à educação. É autodidata na arte de pintar. O quadro mais conhecido do Juazeiro antigo foi retratado pela mesma.

Com o diploma de Professora Rural nas mãos, ela já podia lecionar na Escola Normal Rural. Para ela, o tempo em que foi professora na Escola Normal foram seus melhores anos de vida. “Foi um tempo de muita atividade, que me entreguei inteiramente ao trabalho, que gostava porque tinha consciência do que estava fazendo. Me sentia a maior, dada a vibração de minhas alunas com os desenhos que fazia”.

Nunca foi casada e nem possui filhos naturais, mas para ela, todos os seus alunos e as pessoas em que cativas, tornam-se todos os seus filhos. Até os dias de hoje, dona Assunção nunca está só, sempre há amigos que lhe visitam todos os dias.

Afilhada de padre Cícero, lia para ele as orações e a bíblia. Para ela, foi um privilégio viver com ele. “Ele adorava crianças, era muito atencioso e simpático. Contava histórias, geralmente, sobre as coisas do evangelho, tentava sempre deixar coisas nas cabeças das pessoas que falavam de nosso Senhor”, afirma Dona Assunção. Sua morte já era esperada por ela, devido ao estado em que o mesmo se encontrava.

“Doutor Mozar já tinha desenganado. E todos os médicos que estavam na cabeceira dele diziam que ele tinha poucas horas de vida. Às 22 horas, meu pai mandou me chamar. Às 5 horas, acordei com o badalar dos sinos anunciando a morte dele. Saí pra lá, fiquei lá o dia todo”. Monsenhor Murilo também era um amigo muito especial. Afirma que ele sempre ia a casa dela e que conversavam sobre tudo.

É chamada pelos íntimos de ‘Nega’. Para a ex-professora Mundinha Paiva, Dona Assunção é uma amiga muito especial, querida pelos alunos e colegas de trabalho. “A Nega adorava ensinar, não tinha preguiça de passar o que sabia adiante, muito caprichosa e talentosa”, afirmou dona Mundinha.

Quando perguntada sobre o que mais gosta de fazer nos dias de hoje, afirma: “Gosto de receber meus amigos, de conversar, apesar da memória falha. De relembrar o passado, cuidar do meu gatinho e rezar”.

Fonte: site do Jornal do Cariri

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