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terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Órfãos de Padre


Nos dias de hoje, a Igreja Católica atravessa uma “entressafra” de bons Padres. A percepção é mais latente no momento da missa onde a celebração sai de sua “rotina”, o sermão. Nesta hora é que se percebe a qualidade do celebrante. No caso do Crato, e por que não do Cariri, desde a transferência de Padre Raimundo Elias para Europa, milhares de fieis ficaram órfãos de Padre.

Particularmente, como freqüentador assíduo de suas missas, achei na época do anúncio de sua ida para o Doutorado na Espanha, muito difícil encontrar um Padre que o substituísse a altura, mas guardava dentro de mim a esperança de encontrar alguém que passasse o “básico”. Básico significa para mim: alguém com formação e estudo suficientes para ter o compromisso de previamente organizar um sermão, baseado nas leituras da missa e que através destas deixasse aos presentes, dentro de um limite de tolerável de tempo, uma palavra de reflexão de uso prático. Resumindo: deixasse mensagens que eficientemente acrescentassem algo de motivante e real na vida de cada um.

Este desabafo é de alguém que buscou insistentemente um pastor. Fui a muitas paróquias, às vezes, em horários diferentes só pra saber se havia outro celebrante. Nada! Encontrei discursos vazios, mal organizados ou desorganizados mesmo! Frases superficiais e pouco, ou pouquíssimo, acrescentadoras. Faltava até credibilidade no que era dito pelo tom de descompromisso com o qual por algumas vezes se “jogavam” os trechos bíblicos. Comecei a achar que o problema era comigo! Não estava sendo tolerante o suficiente ou estava buscando uma cópia que simplesmente não iria aparecer do dito Padre. Comecei então a perguntar aos amigos e conhecidos onde eles assistiam a missas e se haviam encontrado um bom Padre. A resposta era sempre: “estamos indo a missa, mas os Padres...”

Neste mundo contemporâneo de tantas necessidades a maior delas deve ser a do alimento da alma. Principalmente num país em desenvolvimento como o nosso, a missa ou a celebração religiosa que seja, acaba por ser a única oportunidade de reflexão orientada de grande parte da população. Sem dúvida, a responsabilidade é enorme e os prejuízos podem ser igualmente profundos. Espero que com esse depoimento, alguns Padres procurem buscar o desenvolvimento de suas habilidades de oratória e renovar seus estudos bíblicos, filosóficos e psicológicos tão importantes na orientação de seu rebanho. Espero ainda que jovens vocacionados ao sacerdócio compreendam que seu público está mais atento ao que é oferecido, e que é preciso muito mais preparo e conhecimentos para alcançar os corações do povo de Deus.

Dimas de Castro e Silva Neto
Engenheiro Civil, Mestre em Gerenciamento da Construção
pela University of Birmingham e Professor do Curso de Engenharia Civil da UFC Cariri

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