“Pachelly Jamacaru mora mais lá à frente. Pode subir que ele mora pertinho do topo da serra”, explicou a moradora da localidade de Belmonte, à cerca de 6 km do centro de Crato. Há mais de 24 anos, o compositor, fotógrafo e escritor que arrancou diversos elogios dos críticos, mudou-se para lá e descortina diariamente a paisagem exuberante da Chapada do Araripe. Ele se vê tão acimentado por estas terras que sua trajetória contundente incide com a história artística da região.
“As letras são inteligentes, o ritmo é marcante e bem diverso”, diz Francisca Silveira, que há três anos mantém uma banda de garagem.“Me inspiro nele ao tentar levar o Cariri no que produzo”. “Eu nasci com a sinfonia das reboadas dos trovões, numa noite de clarões no céu e sons dos atabaques dos Índios Cariris ressoando na Floresta do Araripe”, conta ele, revelando a ária de poesia que penetra desde as fotografias que cria ao seu comportamento.
Segundo Jamacaru, algumas vivências e imagens da infância já revelariam um legado de 400 composições. “O meu pai foi um seresteiro e comerciante. Dentre os produtos comercializados em seu armarinho, os instrumentos musicais eram os de vitrine. Nos dias de feiras, sanfoneiros, zabumbeiros e toda sorte de cantores populares, compravam e fazia cantorias no recinto, um prato cheio para os ouvidos de um menino descobrindo o universo dos sons”.
A face que mais ele se permite revelar é a multiplicidade, ou a qualidade de ser caleidoscópico, diria Clarice Lispector. Jamacaru ressalva que existem dois seres nele. O da arte e a pessoa comum. Ambos se reprocuram a todo instante, constroem valores e destroem os falsos valores. “Ora aprendiz, ora transmissor de conhecimentos. Um capricorniano estrito, vírgulas e ponto. Quanto ao artista, a crítica constituída, aqueles que conheceram o meu trabalho que tirem suas conclusões”, desafia.
Difícil ser ao menos indiferente à sua obra, visto que a própria arte dele parece açoitar o espectador. Suas músicas se enquadram em “tribal, urbano, rock rural, samba, baião, côco, canções ao vento, sons dos córregos, cascatas, da chuva, trinar de pássaros e canto de gia”, diz. A turnê Musicaminhos, no Centro Cultural Banco do Nordeste – Cariri às 19h30 da sexta-feira (30), mostrará composições inéditas em versões adaptadas à voz e violão.
Fonte: Jornal do Cariri
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