
A amizade entre os dois casais brotou nesses breves dias em que traçaram uma rotina comum. Banho de sol e mar aos primeiros raios solares, almoçavam juntos e repartiam um animado carteado durante a tarde, estendendo-se até quase meia-noite. Ambos eram exímios jogadores de canastra.
No domingo à noitinha, os dois casais se despediram, retornaram para Recife
com promessas de trocarem visitas e planos de retornarem àquela praia nas férias do final de ano.
Algumas semanas depois, Gilda caminhava pela calçada da Praça Treze de Maio, para retirar algum dinheiro na agência da Caixa Econômica da Rua do Hospício. Qual não foi o seu espanto quando encontrou Roberto. Pararam e começaram a conversar animadamente defronte a um banco da praça, no qual estava sentado um senhor já bastante idoso que observava a conversa dos dois.
Gilda estranhou que as pessoas que passavam pela mesma calçada se viravam para ela e começavam a rir. E mais gente passava rindo da cara dela e parava a pouca distância formando um grupo que a observa, e ria dela sem parar. Ficou muito intrigada com aquela atitude das pessoas. Tão logo se despediu do amigo Roberto, indagou de alguns adolescentes que faziam parte desse grupo que dela ria: “Por que vocês estavam rindo tanto da minha conversa com aquele meu amigo?” “Xi, pessoal, a coroa tá pirada! Conversava com um amigo invisível?” Exclamou e em seguida indagou um deles. “É, a senhora estava falando sozinha. E aquele velhinho sentado no banco de frente foi o único que não riu de coisa tão estranha.” Disse-lhe outra adolescente. “Eu não estava falando sozinha. Aquele senhor que está sentado naquele banco ouviu toda nossa conversa. Vamos lá para provar isso.” Respondeu Gilda.
Retornou sozinha e indagou do velho: “O senhor viu se eu estava falando sozinha aqui na sua frente?” E o senhor respondeu: “Não senhora. A senhora estava conversando com um senhor de óculos, bigode, vestido numa camisa azul. Ao se despedir enviou lembranças para Lia, a mulher desse seu amigo”.
Intrigada com o fato, Gilda, tão logo retirou o dinheiro da Caixa, resolveu ir até a casa da amiga Lia para contar o que sucedera e saber se Roberto havia saído naquela tarde. Então entrou no primeiro táxi e rumou para os Aflitos.
Ao chegar no endereço que o casal amigo lhe fornecera, foi surpreendida com a saída de um caixão de defuntos. Chegou a tempo de ver a amiga Lia abraçada por uma mulher ainda jovem. Ao vê-la, Lia, em prantos, disse-lhe: “Eu pensei em lhe avisar da morte do Roberto, mas fiquei tão sem planos... Ainda bem que você veio.” E se abraçaram por algum tempo, dividindo aquela imensa dor.
Presença do sobrenatural? Reencontro com o amigo morto que veio avisar da sua partida definitiva? Essas indagações povoavam a cabeça de Gilda e as deixaram várias noites insones. Antes que enlouquecesse, procurou um médico amigo e este lhe recomendou uma consulta com frei Joaquim, um frade português, residente no Recife, que era parapsicólogo.
O parapsicólogo frei Joaquim explicou a Gilda que, ela, a amiga Lia e o velho que estava sentado no banco da praça possuíam uma percepção extra-sensorial e receberam uma comunicação telepática da amiga Lia, quando esta pensou em lhe comunicar a morte do marido. Nós, indivíduos ditos humanos, somente conhecemos dez por cento da nossa capacidade mental. Há nela poderes que para nós são ainda inexploráveis.
Nota: A história é real e os nomes dos casais são fictícios. O parapsicólogo Frei Joaquim esteve em Crato há mais de 20 anos e narrou esse fato no Auditório do Teatro Rachel de Queiroz.
Por Carlos Eduardo Esmeraldo
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