Tudo neste mundo se diferencia. Eis que o nosso panorama seja tão rico.
Um senhor, dado a chistes, querendo um cruzado no adversário, já foi presidente da república do Brasil e diz que mudou a história do país. Não mudou no essencial, mas o grande enredo do papel do Estado Nacional e dos mais pobres.
Ao final do seu mandato as famílias ricas estavam mais bilionárias e os pobres uma pobreza que nem imaginavam. Este senhor quebrou o país algumas vezes e recebeu alguns cheques do amigo do Norte para descontar na praça. E se foi e os avalistas, os brasileiros, pagaram a conta.
O solado do sapato desse senhor se fricciona ao solo que pisa. Acostumou-se aos tapetes macios, aos passos silenciosos, como um anjo flutuando nas nuvens. Ontem se arrastou no piso de um hotel de luxo, carregando o senhor para uma palestra a investidores estrangeiros antecipando a fatura que o seu candidato entregará.
É solado bem conservado. Apenas tem de se atritar ao solo algumas horas do dia. Antigamente eram mais do que 14 horas das 24 que os pés do senhor tinham. Hoje se esqueceram do senhor, a aventura dos ávidos por poder se encontra em penumbra. O solado adormece no sapateiro como um gato de madame.
Mas o candidato do senhor se desmaterializou do original. Gira como biruta em vendaval. E chamaram o senhor para uma caminhada no áspero das ruas. No solo que mendigos adormecem, ali onde o crack é fumado. Tem nomes de causar suspiros aos brasileiros: viaduto do Chá, Vale do Anhaganbaú. E o senhor a salvar o mundo com os passos no indesejado espinho em que se arranham os pobres.
E o solado é o espelho do dono. Nem bem alguns cumprimentos dos políticos acima do chão. Passos no sofrimento do piso irregular. Dos buracos da prefeitura, das poças de águas impermeáveis do solo, no cocô dos cães, no lodo do mijo dos mendigos. O solado desempenhava o papel pior a que seu senhor se sujeitara.
E se foi. O solado não suportou a dor da humilhação. Separou-se do sapato e se fingiu de morto numa quina de paralelepípedo. O senhor horrorizado com aquele fujão das horas amargas, também se foi. Havia um motivo superior, não ajudaria a vitória se aparecesse na televisão mancando pela diferença de nível.
E se despediu com seu modo de repetir as frases em sinal de “touché” aos que lhe incomodam: já ganhou! Já ganhou! Já ganhou! Já! Já!
E apascentou-se do calor e das ruas fétidas no ar condicionado da sua carruagem macia.
Um senhor, dado a chistes, querendo um cruzado no adversário, já foi presidente da república do Brasil e diz que mudou a história do país. Não mudou no essencial, mas o grande enredo do papel do Estado Nacional e dos mais pobres.
Ao final do seu mandato as famílias ricas estavam mais bilionárias e os pobres uma pobreza que nem imaginavam. Este senhor quebrou o país algumas vezes e recebeu alguns cheques do amigo do Norte para descontar na praça. E se foi e os avalistas, os brasileiros, pagaram a conta.
O solado do sapato desse senhor se fricciona ao solo que pisa. Acostumou-se aos tapetes macios, aos passos silenciosos, como um anjo flutuando nas nuvens. Ontem se arrastou no piso de um hotel de luxo, carregando o senhor para uma palestra a investidores estrangeiros antecipando a fatura que o seu candidato entregará.
É solado bem conservado. Apenas tem de se atritar ao solo algumas horas do dia. Antigamente eram mais do que 14 horas das 24 que os pés do senhor tinham. Hoje se esqueceram do senhor, a aventura dos ávidos por poder se encontra em penumbra. O solado adormece no sapateiro como um gato de madame.
Mas o candidato do senhor se desmaterializou do original. Gira como biruta em vendaval. E chamaram o senhor para uma caminhada no áspero das ruas. No solo que mendigos adormecem, ali onde o crack é fumado. Tem nomes de causar suspiros aos brasileiros: viaduto do Chá, Vale do Anhaganbaú. E o senhor a salvar o mundo com os passos no indesejado espinho em que se arranham os pobres.
E o solado é o espelho do dono. Nem bem alguns cumprimentos dos políticos acima do chão. Passos no sofrimento do piso irregular. Dos buracos da prefeitura, das poças de águas impermeáveis do solo, no cocô dos cães, no lodo do mijo dos mendigos. O solado desempenhava o papel pior a que seu senhor se sujeitara.
E se foi. O solado não suportou a dor da humilhação. Separou-se do sapato e se fingiu de morto numa quina de paralelepípedo. O senhor horrorizado com aquele fujão das horas amargas, também se foi. Havia um motivo superior, não ajudaria a vitória se aparecesse na televisão mancando pela diferença de nível.
E se despediu com seu modo de repetir as frases em sinal de “touché” aos que lhe incomodam: já ganhou! Já ganhou! Já ganhou! Já! Já!
E apascentou-se do calor e das ruas fétidas no ar condicionado da sua carruagem macia.
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