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segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Eduardo Campos precisa ser mais Arraes - José do Vale Pinheiro Feitosa

O Governador Eduardo Campos de Pernambuco, eleito no primeiro turno com uma proporção muito alta de votos, neto de um político progressista histórico, Miguel Arraes, precisa ouvir opiniões mais políticas sobre a questão da saúde pública. Uma coisa que destacou Miguel Arraes foi justamente o compromisso com a sociedade. A universalidade dos direitos sociais e uma visão progressista da economia e do bem estar geral.

Eduardo Campos não pode se tornar uma nova marionete do pensamento conservador brasileiro. Jovem, talentoso e um líder bem forjado, não deveria cair neste discurso classe média da saída de alguns sobre a desigualdade geral. Eduardo Campos tem de acordar para o verdadeiro papel de líder nordestino uma vez que seu partido é hegemônico ali e ele tem que se confrontar com a dupla familiar dos Gomes no Ceará. Uma grande oportunidade para quem tem um lado e uma herança histórica.

O primeiro tropeço de um líder político, ou, melhor, o primeiro degrau conservador, é querer tratar a política como uma gerência de empresa ou mera economia doméstica. Ora a questão dos custos crescentes da saúde não é apenas uma questão das contas do Estado. Ela, mesmo nos EUA, com base no negócio privado dos Planos de Saúde, é um problema amplo da sociedade e, portanto, da saúde. O problema da relação de gastos com saúde (pública e privada) e valor do PIB é uma questão política nacional. Os EUA já marcham para 15% do PIB e com resultados absolutamente perdedores em ampla generalidade.

Quem pôs na cabeça de Eduardo Campos que a gestão privada da saúde é mais eficiente, ou é incompetente para assessor um jovem político ou tem má fé e esconde as agruras dos planos de saúde se defrontando com gastos crescentes, margens de lucros decrescentes e os prestadores de saúde o tempo todo insatisfeitos. Qualquer beneficiário de Plano de Saúde reconhece a limitação dos médicos credenciados, as consultas de 10 minutos, as dificuldades de realizar exames, de internar-se e ser atendido pelo seu médico.

O Brasil efetivamente precisa aumentar gastos com saúde e se for pelo direito universal só poderá ser feito com impostos. Igualmente o líder político tem de se preocupar com o equilíbrio social das várias funções do Estado e da sociedade: obras, saúde, educação, segurança etc. Do mesmo modo é preciso regular e dar melhor função de melhor aproveitamento à incorporação e uso das tecnologias sempre caras em saúde. Em terceiro lugar, como um líder que tem vôo para ser nacional, o jovem governador tem de vir para o debate da ganância dos produtores de tecnologia, com contas em Bolsa de Valores e que têm de remunerar capitalistas com grandes margens de lucros. Para isso é preciso uma política de C&T com apoio da sociedade e do Estado para que a tecnologia de saúde barateasse, inclusive com a produção pública de muitos insumos.

Eduardo Campos abandonará a bandeira de Arraes se quiser ocupar o vazio do neoliberalismo. Ele é de um partido socialista e como tal, não deve acreditar meramente na teoria do pêndulo: contra Estado e a favor do Estado. Isso não existe, mas uma sociedade desigual, precisando direitos universais continua sendo um grande e histórico desafio para as lideranças políticas. Eduardo, em que pese o orgulho de ser “Campos”, precisa ser mais “Arraes”. Não pode meramente incursionar nos corredores atapetados que recebem os passos dos prestadores de serviço da velha e arcaica elite brasileira.

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