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quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Ergue-se uma Esperança de Luz - José do Vale Pinheiro Feitosa

Aos pedaços a cada dia. Guindastes imensos, homens suspensos entre as águas e o chão de cimento da beira da lagoa. Uma traquitana imensa de pequenas peças a serem montadas umas as outras. Parafusos, pinos, arrebites. Fios quilométricos entremeando a estrutura cônica da construção.

Pelos gritos dos que estão em partes distantes da imensa estrutura dando notícias da articulação de partes tão separadas. Já se percebem espirais metálicas sobre a superfície em etapas que se afila para os céus. Os olhos não têm dúvida: ali se edifica aquelas luzes que atrairão milhões de pessoas por força do natal.

A orla da Lagoa Rodrigo de Freitas se tornará num grande berçário de gentes. E gentes e seus automóveis estacionados de qualquer modo, da fieira incontrolável de engarrafamentos sem que os apitos dos guardas de trânsito nada possam. Os guardadores ganharão o seu terceiro mês de pobreza, igualmente as barracas, as pipoqueiras, tanto coco que o coqueiral do nordeste se esvaziará.

A árvore de natal da Lagoa, estamos observando, é uma paulatina construção. Uma montada de partes e eventos distintos a cada passo. Um esforço tão descomunal que logo se imagina quão importante ali se monta um grande símbolo. Um símbolo salvador. Um símbolo, quem sabe, de esperança. Um quê de alegria que contaminará as tristezas da dura realidade.

Uma festa materializada neste esforço descomunal de tantos homens pendurados. De tanta gente no interior de vigas, nas entranhas como uma trama digestiva que parece tornar aqueles seres frágeis num trânsito fisiológico. Um paradoxo entre eles e os mineiro aprisionados das minas assassinas do mundo. Os homens digeridos por alguma coisa que não se sabe bem qual a razão.

Mas é inegável que sobre esta infra-consciência do hoje observado se ergue uma grande festa. Um grande espírito do tempo, dos cursos cotidianos numa grande apoteose de liberdade e opções. Ali se erguerá a alegria com substrato, um riso provocado por algo efetivo.

E toda esta imensa construção, materializada na estrutura da árvore de Natal da Lagoa, se esparramará como um leite de rosas no coração das pessoas no dia solene de sua inauguração. Adoçará a virtude do dia e esquecerá o fel dos idos e dos acontecidos. Como uma excelência a substituir tantas coisas detestáveis no cotidiano.

Um símbolo de amor. De agradecimento. Um símbolo completando as falhas de tantos poentes. Um sinal de luz e amplitude a céu aberto muito além das paredes apertadas dos domicílios hodiernos. Como se tudo que se martela o tempo todo se esquecesse por causa deste símbolo de luzes.

Afinal, a edificação da árvore é o maior neon do comércio. Esta festa de esperança que todos cultuam em cada prateleira. Nos papéis especiais de embrulho. Sob árvores das salas humildes. Da cidra gelada a lembrar champagne. Na rabanada que engorda mais estas vidas adiposas.

As dívidas, como um cordão de rosário, a amarrá-los na trama que não permite rupturas na corrente. E no ano seguinte, repetirão os mesmo passos.

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