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segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Laura no Natal - José do Vale Pinheiro Feitosa

Laura nasceu neste domingo do dia 19 de dezembro de 2010, menos dois dias em que, há 62 anos, nascera o avô. Naquele final de década dos anos quarenta, o mundo era só esperança, mesmo com a Bomba Atômica e o veneno da Guerra Fria já sendo inoculado, uma era de progresso humano começava.

Laura sentiu a luz do mundo pela primeira vez vindo das fontes artificiais da maternidade, dos flashes da fotografia digital, foi para uma incubadora que lhe deu calor a partir da eletricidade. Ela está num mundo muito mais complexo, muito mais avançado e que se pergunta todo dia como resolver as dores dos incertos dias.

Laura e o mundo: o quanto Laura é o próprio mundo e ele é o quantum de Laura, não se precisa responder. A resposta já é da natureza mesma do nascer. Não se nasce por acaso, é uma necessidade, um impulso de futuro, uma mutação contínua, com a qual jamais se encontrará um ponto final na sentença do que seja o mundo e Laura.

Para contabilidade dos que já estavam no mundo antes de Laura, resta um haver por multiplicar, como acréscimo do cotidiano. Sempre que imagino o 25 tios que a herança nordestina do avô de Laura lhe deu, não me veio o amor dividido dos pais, mas a imensa capacidade de multiplicar que tem o amor que tantas vezes o tratamos com o meloso banal de algumas frases de algibeira.

Isso posto que Laura, irmã de Sofia, é uma frase que se basta e diz tudo, mas não diz o que comumente pensamos como natural. Não existe uma ordem entre Laura e Sofia, esta primeiro e Laura depois. Não é um ranking de preferências ou particularidades. Em outras palavras a ordem cronológica entre as duas é apenas isso, não leva a maiores diferenciações que não seja apenas que Laura e Sofia, como de restos todos, somos parte únicas do mundo.

Quando se explica o que foi dito no parágrafo anterior, se revela a preocupação da longa tradição ocidental e até mesmo oriental: o primogênito. A ordem de herança e poder não cabe mais no mundo de Laura e Sofia. A primogenitura foi ultrapassada há muito, resta em algumas mentalidades apenas como o comum dos retalhos de arcaísmo que se pregam no corpo do presente.

Laura, neste exato momento que escrevo completa 24 horas no pleno do ambiente, tem uma calma de transição que não parece “chocada” com o salto qualitativo em sua vida. Dorme, muito raro faz um breve choro e ainda não tem a volúpia oral, mas os olhos se abrem e examinam a luz desconhecida por alguns momentos. Um parecer para sua mente universal, uma breve impressão sobre uma nova realidade.

Laura não é uma tela em branco pronta para receber a escrita do mundo. Há muito que ela é algo de existência, de vida, de experiência, uma imensidão de novidades que já havia mesmo antes dos nossos olhares a vista nua. Pois é verdade que já a víramos por ultrassonografia, mas agora tudo parece o primeiro momento. É que ela está, bem ali, com seu breve respirar e ruídos orais que já denotam a voz do infinito mundo.

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