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sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Qual a idade que vocês me dão? – Por Carlos Eduardo Esmeraldo

Semana Santa de um ano muito bom de inverno. As chuvas caiam copiosamente tornando fértil o solo antes esturricado pela inclemência da seca. A fartura reinava naquele sertão, agora renascido. A paisagem de longe lembrava esse nosso Nordeste tão escaldante. A jovem médica Marília Cruz, da Secretária Estadual de Saúde, convidara um grupo de colegas médicos, todos eles professores da Faculdade de Medicina, para passar os feriados em sua fazenda. Todos os convidados aceitaram aquela oportunidade de um excelente repouso e compareceram acompanhados das respectivas famílias.

Quinta-feira Santa, após o almoço, os convidados repousavam no alpendre em redes ricamente bordadas. De longe, a doutora Marília avistou um vulto, alguém, ainda não identificado se movendo entre a mata verde do baixio. Aos poucos a silhueta ganhava contornos definidos e ela então identificou o seu querido tio Diógenes. Não obstante a idade avançada, ele cavalgava firme sobre o dorso de seu alazão marchando a passos largos em direção à casa grande. A sobrinha nada disse sobre a idade do tio, esperando ver a provocação que ele poderia fazer aos médicos.

Ao chegar, cumprimentou a sobrinha e seu marido, um conhecido deputado estadual, saudou o grupo de doutores, sentou-se no para-peito do alpendre e começou a conversar com os médicos. A principio a palestra versou sobre o bom inverno e a fartura que ele representava para o sertão.

Depois de aproximadamente meia hora, o tio Diógenes conduzia a conversa para o rumo que desejava. Os médicos se deliciavam com a palestra do sertanejo, cheia de sabedoria aprendida com os mais antigos, linguajar um tanto quanto arcaico, herdado dos antepassados, herança de um tempo colonial. A certa altura da conversação o tio Diógenes perguntou:
– Doutores, qual a idade que vocês me dão?
– Oitenta anos – responderam uns.
– Setenta e cinco anos – diziam outros.
Depois de muitos palpites, todos eles errados, o velho Diógenes falou com a sinceridade própria do nosso sertanejo:
– Senhores doutores, vocês precisam estudar mais! Eu tenho 98 anos e ainda trabalha na roça!
Diante da admiração geral, o velho emendou outra pergunta:
– Agora doutores, eu quero que vocês me expliquem por que é que uns morrem tão cedo e outros vivem tanto, assim como eu?
– É por causa de uma vida saudável aqui no campo. Alimentação regrada, sem preocupações. O senhor naturalmente dorme cedo, acorda cedo, nunca bebeu e nem fumou! – exclamaram os médicos a uma só voz.
– Num já falei que vocês precisam voltar à escola? Vão estudar mais! Eu só me alimento de comida forte, buchada, sarapatel, panelada, rabada e mucunzá com torresmo. Fui o maior farrista dessa ribeira. Era o maior namorador que por aqui existia. Bebia e ainda hoje eu bebo e fumo e, não dispenso um bom forró todo fim de semana!
Com essa resposta, os médicos concluíram que o tio Diógenes era uma rara exceção à regra, além de um mau exemplo para se alcançar a longevidade.

Por Carlos Eduardo Esmeraldo
Nota do autor: Esse fato aconteceu e me foi contado pela sobrinha do sertanejo. As identidades dos personagens são fictícias.

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