Tarde dessas, caririenses, molhadas, quando as matas, sonoras de passarinhos cantores, parecem prenunciar o início da temporada das chuvas, nas notícias do rádio ouve-se contar da morte de um jovem de 17 anos, assassinado com oito tiros de pistola, em Fortaleza, na Barra do Ceará. Usuário de droga, fora morto por dois homens, que fugiram em uma moto. No dia anterior, abordado por traficante, que cobrava dívida atrasada, respondera atirando. Um nome a menos, uma estatística a mais, solucionando o conflito.
Situações desse tipo viraram casos de rotina nos dias atuais, multiplicados pelos noticiários feitos erva daninha que invade a paz social, rasgando de exemplos melancólicos o tempo tumultuado de cidades inteiras.
Pessoas, as menos endinheiradas das periferias, fora das tradições patrimoniais e dos festejos, arrastam fama de alimentadoras sensacionalistas de escândalos apagados pelos rastros dos rabecões enegrecidos. Outras, possuidoras de futuro, filhas dos nobres, esperançosas, viajantes do exterior nos trens de luxo da facilidade, esperam de olhos alegres o preço do sucesso.
E as tardes silenciosas proclamam a graça deste mundo em forma de normalidade e cifras reveladoras do êxito administrativo dos gabinetes oficiais, enquanto a norma rígida dos códigos reclama vagas nas penitenciárias superlotadas de moradores inúteis jogados às traças dos eleitos da sociedade.
Qualquer coisa assim que pede resposta urgente aos pontos de vista da euforia bem vestida. Indignações estridentes, armas acesas que matam às escondidas, depois tornadas públicas nos cadernos volumosos das páginas policiais, gritos de socorro a quem, e a quantos, ninguém aceita querer responder.
Nisso, os passos fora da estrada daqueles moços, filhos como outros, netos como outros, farrapos das toalhas de mesa da casa dos pais, dos irmãos; lágrimas quentes, dores amargas. Folhas nacionais largadas ao vento das agruras familiares de mães envelhecidas lá antes da hora, restos de banquetes e confraternizações, atores rebaixados nos campeonatos da terceira divisão da juventude perdida.
Chegou aos pensamentos, devagar, meio fora de hora, o alento de saber que nas barras infalíveis do tribunal das existências todos responderão em nível de igualdade, porquanto aos que muito têm mais lhes será dado; e aos que nada têm até o que pensam que têm lhes será tirado, equação definitiva das palavras de Jesus.
Longe, pois, de imaginar houvesse apenas frieza crua na justiça eterna quanto, vezes tantas, presenciamos nas histórias dessas tardes ingratas para os simples, desvalidos, nas pontas de ruas espalhadas, neste chão marginal dos becos infectos e seus barracos sórdidos.
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quarta-feira, 5 de janeiro de 2011
Sina de marginal - Emerson Monteiro
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