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quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Equilíbrio ecológico - Emerson Monteiro

Durante bom tempo me imaginei conhecendo a Floresta Amazônia, o que povoava os meus sonhos brasileiros desde que me entendo de gente, do início dos primeiros estudos, digamos assim. Lá um dia, há pouco mais de cinco anos, veio essa oportunidade. De malas e cuias, segui ao lado de alguns companheiros de pesquisa, rumo à hiléia brasileira, percurso de dois dias, com intervalo para dormir já em Araguaína, no estado de Tocantins, após cruzarmos o Piauí e o Maranhão. Na bela cidade maranhense de Carolina, dos tempos do Império, atravessáramos as águas caudalosas do Rio Tocantins, largo e volumoso, o mais largo dos até agora que conheço.
No dia seguinte, logo cedo, passado o Araguaia, chegamos às terras do Pará, estabelecendo-nos em uma fazenda às margens do rio por dez longos dias, para conhecer o ecossistema amazônico, orgulho da raça, com isso presenciando diversos momentos da floresta e da ação do homem no que respeita à sua devastação.
Vimos de perto a agressão indiscriminada que caracteriza o sistema de posse do modelo desenvolvido para estabelecimento da criação extensiva do gado bovino. Movidos no afã de tornar produtiva a área, visando o criatório da raça nelore, centenas e centenas de estabelecimentos em dimensões a perder de vista, empresários do País inteiro, fixam bases em regiões planas e chuvosas, eliminando a constituição florestal primitiva através da força de tratores e queimadas, no sentido de plantar capim e construir currais. Vastidões lunares do reino vegetal somem em pouco tempo, deixando espaço aos tapetes de pastos, administradas pelos peões vindos de fora. Nisso trabalham sob os olhos oficiais das normas, assistidos de órgãos competentes do País. Produzem a carne que alimentarão largas faixas de consumidores do mundo inteiro, a peso de ouro. São manadas e manadas de reses criadas em trechos próprios para manejos, a remoer silenciosas das pastagens em uso.
Vimos de um tudo no que tange aos estragos impostos ao patrimônio das matas nativas. Tiradas as árvores maiores, madeira de lei e custo inestimável em termos da natureza primária dos séculos que lhes deu vida, o que resta em pouco tempo calcina mediante a ação do fogo, revirado a correntes vigorosas arrastadas por tratores descomunais. O quadro corta corações. Onde antes só havia o verde frondoso do mistério milenar e escuro, altivo caules esfacelados dão conta de troncos enegrecidos, parecidos aos vestígios das lindas bocas tornadas em dentes cariados e feios, eliminados ao furor das chamas. Aconselho não aos que nunca visitaram o paraíso amazônico a conhecê-lo nesses pontos entristecidos pela façanha dos matadores de floresta.
Idênticas práticas avistamos, também, no Tocantins e no Maranhão, estados vocacionados à implantação das fazendas de soja, moda e febre continuada que sacode os planaltos do Norte por meio da agroindústria e maravilha os resultados positivos das balanças do Brasil no exterior.
Quando ouço, pois, as declarações anuais dos funcionários de governo que contiveram a devastação amazônica em tanto e tanto por cento, desconsolado sacudo a cabeça por saber de perto que o gigante é maior muitas vezes do que contavam as distantes lendas trazidas no vento.

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