Xilogravura de Carlos Henrique para composição do cenário da peça A DONZELA E O CANGACEIRO, de Cacá Araújo, que estreará em maio de 2011, com a Cia. Cearense de Teatro Brincante
Seu Jefrésso:
(Fora de cena. Misterioso, com voz de velho, macia, cheia, sombria e grave)
Quem istá chamando a isfinge?
Quem ousa mi dispertá?
(Aparece solenemente com música condizente com sua realeza. É uma versão sertaneja das esfinges gregas: um velho magro, semblante terno, alto, apoiado num cajado, calçando sandálias de couro, roupas e longas barbas brancas, duas asas de trançados de palmeiras verdes)
Edimundo Virgulino:
(Humilde)
Sô um simples cangacêro
Eu só vim li consutá
(Levanta-se, mas continua em posição de reverência. Convicto. Com serenidade)
U sentido da mi’a vida
É a conquista da cura
Pru mal qui sofre uma flô
Inucente, bela i pura...
Tombém quero a liberdade
Dus vivente da floresta
Pois aqui a crueldade
Ambição, prevessidade
Matô muito i pôco resta
Seu Jefrésso:
(Simpático)
Percebo tua bondade
Porém num posso mudá
U rumo da umanidade
(Levanta o cajado e soam trovoadas com raios incandescentes. Sons de cantos e pisadas em ritual. Canta em tom de mistério)
Proporei u meu enigma
Morre si num decifrá
Istauta di barro i lata
É u qui vô ti transformá
(Sonoro e firme)
Decifra ô ti condena:
(Compassado)
Di manhã tem quato pé
É criatura terrena
Mêi dia passa a tê dois
Tem fecundidade plena
Máis us pé, di tardezinha
Pode sê quato di novo
Seno dois iscundidinho
Du jeito du pinto im ovo
I di noite vai tê trêiz
U tipo di criatura
Mi diga di uma só vêiz
(Nota: Trecho da peça A DONZELA E O CANGACEIRO, de Cacá Araújo)
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