Foto: Cacá Araújo |
Ao longo da história, desde os remotos tempos da ocupação do nosso vale pelos colonizadores se vem desrespeitando e agredindo a natureza. Ocorre que, em tempos de modernidade, não mais de tolera a ignorância frente aos riscos e necessidade de respostas diretas a ações depredadoras. E o que lamentavelmente vemos é um festival de irresponsabilidades: ocupação irregular de morros, encostas e margens do rio, reduzindo seu espaço e poluindo suas águas; desmatamento; poluição desenfreada da cidade; carência de política permanente de educação ambiental; impunidade... Soma-se a isso, que não é pouco, o empobrecimento dos municípios, que ficam à mercê de humores políticos do governo estadual e da capacidade de influência dos prefeitos junto ao poder central.
Li e ouvi muitos falarem que não há culpados no caso das enchentes etc. Eu já ouso afirmar que não há é inocentes. Todos somos culpados na medida de nossas ações e omissões. Desde a bolinha de papel jogada na praça, passando pelo voto cego em candidaturas estéreis, até o silêncio amedrontado ante os despautérios e mirabolâncias dos poderosos de plantão no Cambeba e no Planalto.
Já disse em outra oportunidade e repito: sou testemunha do esforço do prefeito Samuel Araripe em buscar soluções para os problemas de saneamento e de proteção ambiental do Crato, especialmente no tocante ao canal do Rio Grangeiro (é tradicionalmente grafado assim mesmo, com "g" ao invés de "j"). Desde o seu primeiro mandato que ele corre governo e ministérios com projetos que visam à requalificação urbana, melhoria da infraestrutura da cidade e qualidade de vida dos munícipes. Mas os recursos estaduais e federais não são fáceis de conseguir, mesmo sendo um direito do cidadão contribuinte. São os vícios da política brasileira, que favorece o sacrifício da população em vez de atender a demanda de gestões que possuam coloração partidária divergente. Isso não é democracia!
O Crato agoniza. Inicialmente com a perda de instituições importantes, agora com a catástrofe das chuvas. Merece o respeito e a união de suas forças políticas, envolvendo também a totalidade das lideranças cearenses da Assembléia Legislativa, Senado e Câmara Federal, a fim de fazer ouvir o clamor de sua gente e ter atendido seu pleito de cidadania e dignidade.
São milhares de vidas em jogo! Esqueçamos as querelas eleitorais que passaram e as que virão. Que Cid Gomes transfira, pelo menos por uma semana, seu governo para a zona do caos e do esquecimento. A itinerância que tanto foi festejada para distribuir simpatias e intenções deve agora ser retomada para distribuir ações concretas.
Nestas linhas de angústia, responderei a perguntas que todo governante realmente habituado à democracia deveria fazer: preferiria que os mais de vinte milhões que se pensa em investir na construção de um novo parque de exposições em outra área, mais os quase dez milhões do centro de convenções, fossem destinados a obras de revitalização do Rio Grangeiro e ampliação de seu canal, inclusive com a desapropriação do que for preciso para estender suas margens. Acrescente-se a isso a ação da bancada cearense no Congresso Nacional e teríamos os recursos necessários à reconstrução do Crato.
O resto é água...
Saudações!
Cacá Araújo
Professor, Folclorista, Dramaturgo
Diretor da Cia. Cearense de Teatro Brincante
Crato-Cariri-Ceará-Brasil
Um comentário:
Olá,
gostei muito do blog e do posicionamento crítico presente nos textos. Cresci ouvindo minha mãe falar das histórias da Pedra da Batateira e fico triste que tudo isso esteja acontecendo por aí!
abraço cordial
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