Crato-Cariri-Ceará

Foto: Heládio Duarte
Quem estudar a literatura caririense encontrará um filão de autores dos mais variados matizes, bons e férteis, às vezes solitários e até desconhecidos, que, no entanto, circunscrevem profundas e inestimáveis criações da tradição culta e popular de nossa gente. São memorialistas, historiógrafos, contistas, novelistas, romancistas, poetas, jornalistas, cientistas sociais, juristas, a formar rico material de perpetuação da cultura deste pedaço surpreendente de chão, que agasalha civilização altiva e heróica em natureza aconchegante, a se expandir para o mundo inteiro. Acervo dos melhores, reúne herança da história social das gerações e supera os limites da perecividade.
Dentre esses nomes formadores das nossas letras alguns ganham destaque pelo conjunto da obra e pela qualidade do que publicam, tamanho do que contém na utilidade futura e no intento das suas publicações. E no meio dos tais profícuos e organizados homens da escrita caririense se acha José Flávio Bezerra Morais, ora a lançar mais uma de suas obras, para gáudio de todos os apreciadores beletristas.
Caririense provindo de Milagres, Ceará, nascido a 23 de julho de 1970, filho de Francisco Ivo Morais e Maria Socorro Bezerra Morais, Flávio marca a literatura regional com trabalhos de fina valia e denso fôlego. Jovem, porém autor de um vasto acervo, cujo conteúdo revela quatro nítidas vertentes de abordagens de gêneros e estilos.
Primeiro, aos inícios de sua produção literária, enfeixou, em dois saborosos livros, os contos que escutou na oralidade sertaneja do lugar onde viveu a infância, nos rincões do Cariri. “Histórias que ouvi contar”, de 1993, e “Histórias de exemplo e assombração”, de 1997. Dois belos trabalhos escritos com o zelo acadêmico de aluno do Curso de Letras da Universidade Regional do Cariri, eles foram editados com a modéstia de nossas gráficas da ocasião, e levados às bancas para apreciação de muitos, marcos imprescindíveis do gênero fantástico da nossa literatura, agora dignos de figurar em novas edições, uma vez esgotados nas livrarias e bancas.
A seguir, sob o mesmo prisma das histórias anteriores, elaborou “Sete contos de arrepiar”, um clássico deste gênero no Brasil, publicado através de importante casa editora, a Rocco, isto em 2006, já revelando outro dos quatro víeis considerados na sua obra, o de autor infanto-juvenil que ora se consolida com esta obra lançada. O livro ganhou maiores âmbitos, rendendo ao autor participar da 44th Bologna Children’s Book Fair 2007 (44.ª Feira Internacional do Livro Infantil e Juvenil, em Bolonha, Itália, no ano de 2007), consagração digna dos bons escritores mundiais.
Ao sabor das considerações de quantos aspectos dispõe o roteiro autoral de Flávio Morais, em 1989, editou “Milagres do Cariri”, uma abordagem telúrica dirigida à sua terra natal sob pontos de vista físicos, geopolíticos, antropológicos, etc.
Daí, seguiu um outro título, “Nas veredas do fantástico”, em 2002.
Graduado em Direito pela Universidade Regional do Cariri, Flávio Morais encetou os esforços da sua intelectualidade também às hostes jurídicas, galgando com sucesso o posto de juiz do Tribunal cearense, funções que abraça com os vigores da responsabilidade. No espaço das letras voltadas ao ministério do Direito, pois também exerce cátedra na Universidade do Cariri, em 2003, publicou “Dívidas: como preveni-las ou livrar-se delas”, sequenciado, em 2004, pelo “Compêndio de Prática de Processo Penal”, e, em 2008, pelo romance de cunho jurídico “A sombra do laço”, pesquisa histórica de um episódio da existência do Padre Ibiapina, figura emblemática da Igreja Católica no Nordeste brasileiro, e que também cumpriu o papel da advocacia aos tempos do século XIX.
Destarte, no ímpeto da arte literária, nosso autor revela acuidades e aceita com afeto o fazer da inspiração, legando-nos, agora, “Daniel Alecrim e o talismã de ébano”, produção estabelecida sobre o primor das anteriores, realimentando seu público jovem dos insumos do estilo correto, da imaginação penetrante e do talento raro, demonstrações do quanto revelam seus textos das duas primeiras edições ao crivo do inesperado, do fantástico, sem, no entanto, fugir à seriedade austera decantada nas histórias da infância, nem abrir concessões ao vulgar da pura fantasia comercial.
O território que Flávio Morais permeia no seu universo criativo alimenta de satisfação os leitores, porquanto os encaminha dentro de valores sóbrios e justos, ao fragor dos bons e pródigos narradores. Esta revelação, que consolida cada vez um pouco mais nos livros posteriores, enriquece nossas letras e agrega qualidade ao gênero infanto-juvenil da literatura brasileira, portanto.
Ao me convidar a esta pequena introdução talvez Flávio Morais nem imaginasse acertaria em cheio em um dos seus admiradores desde seus primeiros trabalhos, quando, antes mesmo de conhecer a pessoa do escritor, os localizara numa das bancas de jornais de Crato, trazendo-me de volta aos universos imaginários da minha infância interiorana e suas histórias de causar espanto, contadas nas varandas de noites escuras do Sertão. Depois, aficionado, acompanho de perto os passos generosos deste expoente das letras caririenses, amigo e pessoa humana digna do nosso apreço.
Ao trilhar a senda os passos individuais, neste salão dos tesouros submersos de oportunidades intransferíveis, ainda que pretendamos fugir da responsabilidade para viver, algo cresce na raiz da gente, à medida que caminhamos. Isto são as experiências deste cinema da vida. As amostras constantes de opções e demonstrações da realização do eterno movimento nas pessoas que formam o rebanho. Multidão criteriosa de pensamentos e sentimentos fala aos nossos ouvidos segredos reveladores da missão particular desses agentes do sucesso que nós somos.
Ninguém escapa de trilhar os próprios passos. Andar em frente, cena que muda em alternativas das passadas, define bem o plano do percurso, numa estrada infinita sobre o chão comum das gerações. Esse sentido dominante envolve os aspectos da percepção humana e cala fundo na máquina de testemunhar o itinerário, propondo interpretações minhas, suas, nossas.
Durante todo tempo da jornada, os artistas espectadores do universo viajam pela vida e apresentam a si o cardápio das ações a praticar. Bem no ângulo das decisões, quando escolhemos qual caminho seguir, todos, réus e juízes das atividades, trabalham com suas próprias iniciativas. Telas e pintores fixam o gosto da criação, nos gestos que praticam, sendo, porquanto, criaturas e criadores no mesmo instante, vagando neste mar de sobrevivências diante das aparências físicas e do espaçoso desconhecido invisível.
Ditas quais palavras, grosso modo estabelecemos as culpas e elaboramos os perdões pelas faltas cometidas, aperfeiçoando o decorrer das eras no padrão definitivo que, lá um belo dia, iremos oferecer de nós às portas do Reino, dentro do processo original de tudo isto, a retornar à casa do Pai, Criador desses assuntos, causa primeira da manifestação chamada Existência, que herdamos nos lugares, papéis e produções recebidas no começo do percurso.
Por isso, querer evoluir pede efetivas providências e pulso dos que aspiram libertação do enigma continuado das histórias. A religiosidade individual, mãe de religiões dos grupos humanos em qualquer época, indica, assim, costumes bons, espíritos elevados, aspirações superiores, além da condição pura e simples de dominar as vaidades para desfazer a ilusão, no impulso libertador. Níveis amplos, conotações siderais, práticas sublimes, remédios que curam os atrasos do passado, a troco de respostas maiores e mais prudentes.
Contar essas considerações só fixadas nas plataformas da terra solicita, pois, sentimentos altivos de lutar e uma vontade forte para subir aos elevados da esperança e da fé. Espécie de técnicos da alma, os mestres falam outras linguagens; apontam renunciações e desapegos; contudo, nas ocasiões de resolver os dramas em novas tradições de si mesmo, nascem criaturas vindas do ser particular, das árvores pessoais que frutificarão durante a vida, nos dias de matéria prima e presenças permanentes em nossas mãos mágicas.
E se abandonar às palavras, assim como, irresponsavelmente, os porcos vocacionados se jogariam a fétidas lamas dos chiqueiros dos invernos extremos; e os burros a pedras esfumaçadas e quentes das bagaceiras, logo depois que largaram, ainda suados e trôpegos, cangalhas fedorentas nas quais nutriram a glória durante todo o dia inteiro, no caminho exaustivo do corte ao engenho, transportando as canas de moagem eterna. Uma disposição total e absoluta das puras evidências e circunstâncias. Um parto sem a dor inconveniente das razões, de jogar lá fora todos os fardos e entraves das limitações humanas que totalizaram as misérias da alma e encheram de rabugice o porão das pretensões do que comportaria o viveiro das fantasias.
Nesse passo constante de frases, vêm as primeiras respostas do vento, o aviso de retorno à simplicidade original perdida na civilização do universo aparente das diárias ilusões. Chamar a si o mérito dessa culpa que corrói as entranhas da multidão desenfreada, na busca da sobrevivência a qualquer preço. Uma fome geral de poder no complexo dos impérios mundiais, que só constrange quase a caravana inteira, troco do ouro encardido disputado da própria terra comum, sem dó nem piedade, na febre do desespero.
Chegar pedindo o que sabe ninguém tem a oferecer; chegar impondo caridade a quem nunca dela conheceu das mãos poderosas dos gigantes do Norte. Introduzir agulhas finas em veias secas ocidentais, espoliadas, numa salva de prata revestida com pedras dos melhores diamantes africanos sujos de sangue.
Bom, estas palavras refletem apenas inscrições nas paredes artificiais da fama. Uns trapos de notícias a percorrer imensamente os ares internacionais, no sabor das mudanças impostas aos governos das propagandas hostis. Isso de ouvir nos céus os telegramas das agências, à procura de sentido em vastas academias de homens ricos a dominar o Planeta envilecido, marca, com forte palidez, a ordem econômica constituída de pessoas a enganarem a si mesmas, quando os reis nus da história desfilam nos carros abertos pelas avenidas principais.
Querer o que, depois de guerras monumentais, se transmitiu em formato de lealdade, bondade, à hora do repasto das feras, na praça principal, aos olhos frios dos chefes de tribos e inertes personagens, comandados a custo das assembléias de um só. Já tivemos vários sonhos de união, quando o lobo pastará vizinho do cordeiro, nas luzes de amizade permanente. Quando cores simbolizarão valores e sentimentos bons de criaturas reunidas para celebrar fertilidade e o direito harmonioso das espécies, sem elites superiores.
O discurso autêntico dos corações enamorados em cerimônia de núpcias, que convida o rebanho ao cio das almas que alimentam a multiplicação dos pães sem privilégio, longes das caretas das barrigas vazias e dos braços crônicos do desânimo. A palavra das verdades eternas de justiça, amor e paz, espalhadas neste vasto laboratório das felicidades estabelecidas, na visão democrática das massas, território ideal de plantar a boa semente viva da certeza.
Pedro Esmeraldo
Nesses últimos dias lemos uma missiva animadora (Helder Macário), debatendo com muita ânsia os problemas agravantes do Crato.
Isso acontece há anos, desde os tempos dos trogloditas que sem ter condições de comandar os destinos da cidade, provocaram a acomodação do Crato, governando a cidade com enfado, perpetrando a sua queda, deixando que os infaustos acontecimentos prevalecessem ao longo dos anos e sem cessar no correr do tempo.
A nosso ver, assim interpretamos, mas não acreditamos que ocorra, que a cidade deve ser governada por pessoas cultas e que tenham amplos conhecimentos científicos, com boas maneiras para que saibam remar em águas profundas com dignidade, trabalho social e comportamento ilibado, o que pode ocorrer em fato contrário aos desígnios da população, já que observamos que uma cidade administrada por pessoas incultas, com toda certeza, trará desânimo entre seus habitantes.
Queremos afirmar e nós sabemos como falar, isto é, não sabemos que a maioria desses políticos são obtusos e semi-analfabetos. Não sabem onde possuem as ventas, por certo não trazem nenhuma melhora para a nossa cidade, já que sua população fica com o pensamento arruinado, sem esquecer as forças mentais, sem empregar os meios a fim de alcançar os objetivos que são: o equilíbrio de forças permanentes para modificar o quadro político desta cidade.
Por isso, ficamos atônitos, quando observamos uns políticos apáticos, alheios ao desenvolvimento da cidade, ficamos atônitos quando observamos o péssimo comportamento dos políticos, que no momento preciso, calam-se aos insultos provocatórios dos inimigos de nossa cidade, às vezes, batendo palmas ou pedindo clemência, meneando a cabeça com gestos afirmativos, entredizendo-se que Crato é o fim da linha e é por isso que só vem a sobra para nós.
Não senhores, não aceitamos de bom grado os seus argumentos. Todos tem de reagir, gritar com todas as forças de seus pulmões que Crato é a cabeça, é o princípio do nascimento de todas as cidades do Cariri. Neste caso, esta cidade tem de ser respeitada e elevada com objetivo de enquadrar-se aos grandes centros do país. Agora, relembrando o Crato tem de preservar a tradição dos homens passados que foram atuantes, vibradores e expansivos. Temos de afastar, em primeiro lugar, esses homens viciados de políticas, substituindo por pessoas de bem que queiram realmente trabalhar em benefício da cidade.
Infeliz é a cidade que tem o povo viciado e ignorante que açambarca o poder em torno de si mesmo, aceitando migalhas oferecidas pelos invasores que nos vem arrebatar o nosso patrimônio e que tem como objetivo colocar o Crato para escanteio e para o lado do desprezo, pois sem mais nem menos, esse digno povo cai na esparrela, enegrecida pelos seus algozes que tem como objetivo aquietar o povo a fim de força-lo a baixar a cabeça para não reagir aos insultos e ficam conversando lorotas na praça Siqueira Campos, pensando que apareça um líder de verdade para lhe dar luz que venha clarear com mais vigor o seu desejo.
Crato-CE, 15.03.2011
“Quando falhas são encontradas em alguém, você concluirá que existem deficiências em seu comportamento, isso é tudo. Não conclua que não há um Atma Divino nele. Como resultado da companhia que ele preservou ou da ineficiência da sociedade na qual ele cresceu, as falhas surgiram nele. Elas não são nativas de sua natureza, que é do Atma. Você deve fornecer-lhe boa companhia e ambiente benéfico e persuadi-lo a associar-se a eles. Você não deveria, de nenhum modo, condená-lo como um incorrigível de nascença e mantê-lo afastado.”
Sathya Sai Baba
Se há qualquer característica especial nas pessoas idosas, que sacode essa convicção irreverente que os jovens carregam de peito aberto, feita medalha de vitória colada ao peito, se trata do silêncio contundente, grave, que adorna esses senhores, essas senhoras, quietos pelos cantos à espera do farnel da derradeira viagem.
Parados, de olhares vazios presos nas extensões infinitas do espaço, eles mergulham na distância quais enxergassem de longe as portas do Reino, o porteiro e sua chave crepuscular. Às vezes, sorriem consigo, cúmplices das saudades que, presunçosas, amaciam as bordas das camas, a alvura dos lençóis e os braços gastos das poltronas puídas, nos abrigos transitórios.
Quando outros chegam, e quebram o clima sério dessas virtudes solitárias, de leve abrem o pano dos olhos baços e desprendem simpatia marota, como quem sabe para além dos saberes daqui de fora. E largam restos de sociabilidade nas poucas interrogações que lhes perseguem, atentos aos anos posteriores que ainda restam.
Pois bem, a solene presença desses avozinhos, campeões da longevidade, contempla netos e bisnetos, suas últimas relíquias preciosas. Passeiam pelo ar já rarefeito as ilusões que sumiram nas esquinas do passado, dança de cadeiras das gerações que saem bem devagar à coxia do teatro. Nisso, umas nesgas de alegria ainda persistem a escorrer da ponta dos dedos aos cabelos macios dos inocentes, atitude instintiva, débeis carícias abandonadas aos que tanto ensinaram a amar.
De outras feitas, contudo, ali, assim, fecham o semblante e demonstram lances pessoais de uma luta interna que lhes joga poeira às redondezas do rosto. Quais testemunhas isoladas nas primeiras sessões dos tribunais que defrontarão no campo da Eternidade, envoltos na eloquência desses julgamentos de consciência, crescem ao sabor da chama das réplicas os olhos murchos de lágrimas secas.
Postos de face com a face do destino, o drama secular das irrealizações humanas chora, quase grita. Por isso, angustia com força quem andar por perto deles, nos respingos da tempestade, no mar imenso dos sentimentos e ações antigas. Sofrer, com eles, esses tais silêncios incontidos das crises terminais dos sonhos significa, também, sofrer dentro da gente o alerta de que se aproxima a transição das certezas. Pernas parecem quase não cumprir os trechos finais da estrada de volta para casa. Olho, contudo, assustado essa indiferença dos nossos heróis que, agora, desfazem gavetas e arrumam as malas. Aquela gravidade carrancuda virará o rosto nessa hora da verdade, impondo maior respeito. Monumentos de outrora, erguerão a riste o indicador e reclamarão coragem aos que permanecerem, quando vestirem o manto da despedida. Nessa hora, vencerão a batalha das quimeras morais e dores físicas, e repousarão, em paz, nos braços aconchegantes da ausência inevitável.
PEDRO, MEU PREZADO AMIGO
Tenho lido muitos dos seus escritos e, em quase todos você deixa transparecer o seu grande amor pelo Crato. Neles você fala das riquezas e belezas do município, mas clama a todos, segui-lo no seu intento de resolver os inúmeros problemas que ele tem e deixa à mostra o seu desapontamento por nada poder fazer sozinho. Há uma razão muito forte para esse amor tão grande; é que o Crato inspira e merece amor por parte dos seus filhos autênticos e você é um deles. Aliás o Crato, atualmente, está precisando muito do amor e da atitude dos seus filhos de verdade.
Eu, que não nasci aqui, mas como se filho fosse do Crato, quero bem ao município, à cidade, ao povo e, exatamente como um dos seus filhos mais fervorosos, vejo o quanto ele está lento em sua caminhada e o quanto realmente está precisando de todos os seus filhos.
Como você, eu não gosto quando vejo o descaso pela cidade, pelo município, quando vejo a cidade, como que esquecida, quando a vejo perder tanto do seu patrimônio, perder oportunidades, perder posições na corrida para o desenvolvimento, em todas as áreas, entre as cidades da região, perdendo assim até força econômica, não gosto quando vejo a cidade, a cada dia perder força política, quando vejo a cidade deixar de ser socorrida de imediato, quando se abatem sobre ela, catástrofes como a de há pouco, quando vejo o povo ser enganado por promessas, demagogia ou migalhas, como pequenas obras que são construídas apenas próximo às eleições, justamente para enganá-lo, e não gosto quando vejo a cidade, o município e o povo, perderem a sua autonomia.
Fico triste quando penso em certos assuntos que a meu ver, são da maior importância, são o ponto chave para quase tudo de bom que nos poderia acontecer, mas que, infelizmente, nunca são tratados. São de fato alguns, os tais assuntos, mas eu gostaria de me referir ao principal, aquele que, só muito bem pensado, se a sociedade o encarasse com muita seriedade, iria, certamente, resolver muitos problemas que nos atingem e atrofiam, além de nos beneficiar com o que precisamos e merecemos. Falo do assunto que diz respeito à política.
Acompanho, guardando uma certa distância, naturalmente, o que sempre acontece quando se aproximam as eleições. Percebo, logo de início, que tal assunto, dada a sua importância, não deveria ser tratado apenas quando se aproximam as eleições. Percebo, logo de início, que tal assunto, dada a sua importância, não deveria ser tratado apenas quando se aproximem as campanhas eleitorais, vejo que as pessoas mais ligadas ao assunto ficam aguardando providências de pessoas alheias ao município, como se não tivessem autonomia para tratá-lo, vejo as lideranças esfaceladas, engalfinhando-se em lutas que só dificultam o entendimento e trazem a divisão das forças e fico triste quando vejo, às vezes, o povo sendo utilizado como massa de manobra.
O que acontece aqui à época das campanhas, eu acho até de certo modo, vergonhoso. Vemos muitos dos nossos políticos em verdadeira peleja, cada um querendo mais exibir o seu potencial, sem a devida preocupação com o povo, pesando mais nos seus próprios interesses, fazendo inclusive acordos com políticos de outros municípios, numa manifestação muito potente de descaso pelos nossos próprios valores, vejo a cada dia, nosso prestígio, perante as autoridades superiores se esvaindo, somos carentes de lideranças, poderíamos contar com forças poderosas a nível municipal, estadual e federal, mas só desentendimento acontece, justo na época quando o entendimento deveria prevalecer.
Acho que por tudo que acontece, nós pagamos muito caro, pois o que resta, o que fica após o tudo que até parece uma orgia, é, exatamente o que aí está à mostra, nós e o Crato entregues ao “deus dará”.
As nossas lideranças, os nossos partidos políticos, nossas entidades de classe, associações, clubes de serviço, sindicatos, Câmara de Comércio, enfim a sociedade, todos, deveriam atentar para isso, dar outro rumo a tudo que acontece porque, assim, no futuro, iríamos com certeza, auferir vantagens com que há muito não contamos.
O Crato é considerado uma cidade culta, civilizada, mas será que a nossa cultura não nos permite entender que o prestígio de um povo depende muito da força política que ele tem? Será que a nossa cultura não nos faz entender que ao vermos nossos votos negociados, o comprador negociou, comprou, pagou, recebeu e por isso não terá mais nenhum compromisso conosco, e isso nos torna muito enfraquecidos e desprestigiados? Será que a nossa cultura não é suficiente para sabermos que precisamos votar em candidatos da terra ou absolutamente comprometidos com ela, para termos então, representantes legítimos e assim mais força política? Será que a nossa cultura não nos mostra uma maneira de mudarmos este tão triste estado de coisas?
Eu acho imprescindível que mudanças aconteçam e, sem quere ser pretensioso eu arriscaria a apontá-las, reunindo tudo na palavra união.
Seria necessário que, todos os envolvidos no processo se despojassem de todo e qualquer interesse, que não o de município e seu povo, com interesse euprapartidário, se organizassem, se unissem, discutissem os problemas, escolhessem nomes de pessoas idôneas, competentes, vinculadas ao povo para submetidos às eleições, viessem ocupar os diversos cargos de vereador, prefeito, deputado estadual e federal. Assim, teríamos quem defendesse com firmeza e legitimidade os nossos interesses, certamente, veríamos resgatados os nossos valores, resgatados todos os nossos valores, resgatado o nosso prestígio, resgatada a nossa condição de povo autônomo e assim, reconquistaríamos a nossa tão necessária força política.
Poderá até parecer visionária esta idéia, mas que outra nos levaria a mudar a situação em que nos encontramos atualmente? Acho que há esse caminho e caso não consigamos percorrê-lo, ficaremos marcando passo, vendo as “carruagens passando”, rumo a lugares onde a sociedade organizou-se, uniu-se e está pronta, tanto para defender-se de acontecimentos infaustos, como para receber, cada vez mais, benefícios para o seu progresso e sempre mais, bem estar para seu povo.
Eu acho Pedro que devemos abrir mais os olhos, devemos fazer valer os nossos direitos, devemos unir as nossas forças, cobrar dos nossos políticos mais dignidade e respeito, exigir deles a união pelo Crato e deveremos, com muita consciência, muito cuidado, muito respeito, muita seriedade, muito amor à terra, exercer o nosso direito de votar com liberdade, escolhendo os nossos próprios candidatos, porque, só assim, eu acho, nós conseguiremos mudar a nossa realidade.
Sei que você pensa como eu e, bom seria que muitos outros que usam jornais, blogs, meios de comunicação, também pensassem e levantassem juntos a mesma bandeira.
Quem sabe não se desencadearia um grande movimento em prol de tudo o que o Crato precisa para retomar o seu verdadeiro caminho?
Eu torcerei sempre por isso.
Meu abraço.
Hélder Macário de Brito
Nota: Hélder Macário de Brito foi prefeito do município de Campos Sales e é irmão do ex-prefeito do Crato, Dr. Humberto Macário de Brito. Atualmente reside em Crato.
Diante de alguns desses acontecimentos recentes que chegaram aos nossos pousos em forma de matérias televisivas, perguntas se misturam com desencantos. Onde antes havia segurança técnica e bonitas paisagens, cresceram ondas de gravetos sacudindo a tranquilidade relativa de populações inteiras. Mares e chãos reverteram ordens estabelecidas no país silencioso, pondo para vagar sem destino atônitos sobreviventes.
Espécie de susto parece tomar conta dos noticiários, numa sucessão de atividades naturais imprevistas, quando as indagações tradicionais ainda nem respondiam as nuvens de inocência das mentalidades, por isso dominando o espetáculo do momento. Chuvas, marés, tremores de terra, e, para completar a bizarrice dos medos atuais, usinas atômica expelem radioatividade no céu; além de queda, coice. Tudo o que os japoneses menos queriam, depois dos dramas medievais de Hiroshima e Nagasaki, aos fins da Segunda Guerra, seria lidar, outra vez, com aquela maldade tenebrosa das chagas invisíveis que intoxicam os ares.
Outro dia, no consultório do dentista, uma professora explicava, a propósito das mudanças do clima da Terra, avaliando existirem interesses secretos na divulgação das supostas transformações da natureza, na intenção de alarmar para o uso indiscriminado dos recursos originais. Grupos dominantes reservariam a si o domínio desses recursos, enquanto o restante da humanidade ignora seus frutos e benefícios. Enquanto isto, a mídia alimenta o pacto da ignorância das massas.
Paro e penso o quando seres humanos caminhariam distantes do controle desses fenômenos naturais. A casa comum do Planeta às vezes dá sinais de exaustão e indica sérias mudanças além das previsões oficiais. Gelo derrete nos polos, rios secam abaixo das médias conhecidas, tragédias impõem custos de vidas humanas, secas, deslizamentos e inundações trocam de lugar nas colinas quando menos esperados, uma série de ocorrências exóticas no clima que sacoleja as bases do eterno, forçando apreensões e ocasionando sustos.
Filosofar numa fase destas virou exercício de conformação, reconhecimento das urgentes necessidades dos aspectos religiosos da cultura. Há milênios, as civilizações impõem as suas normas aos fatores da Terra, sem, contudo, acreditar pudessem atingir os limites da tolerância. Porém nesse turno, quando impactos chegam quase em tempo real aos restaurantes, lares, supermercados, a cores de cristal líquido, no mínimo levam arrepios a percorrer espectadores desconfiados, nas tamanhas reviravoltas impacientes, tragédias anunciadas que afundam o palco de onde muitas verdades saíram para bem longe de grandes certezas agora abandonadas.