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quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

UM PASSEIO INUSITADO

Pedro Esmeraldo



No segundo quartel do século XX, ano de 1944, meu pai foi obrigado a ir ao Rio de Janeiro com a intenção de submeter-se a tratamento de olhos com grande perito na medicina relativa à vista.

Meu pai havia sofrido um conjunto de perturbações causadas por uma forte pancada traumática que afetou a parte mais delicada de sua esfera do globo ocular (deslocamento de retina).

Naquela época, a medicina não era tão evoluída como agora, por isso teve que enfrentar um sério tratamento com rigidez, visto que teve que se submeter a uma cirurgia complicada a fim de não perder a sua parte mais sensível da vista.

Seu médico era muito afamado no Rio de Janeiro. Era um cearense de grande projeção nacional, visto que esse médico era um expert do tratamento de vista de grande valor, já que meu pai recuperou quase total parte da visão, que era o seu grande anseio em permanecer com o trabalho até o último dia de sua vida.

Considero meu pai um grande baluarte da agricultura, foi arrojado em suas predileções. Não deixava acumular serviços, pois mesmo doente considerava-o herói na execução de suas tarefas.

Antes disso passou vários meses no Rio obedecendo todas as ordens médicas que lhe eram atribuídas pelo médico. Sofreu um período de sacrifício, concentrando todo o seu pensamento na sua vida agrícola, já que teve de viajar após o seu tratamento, de navio até Fortaleza e de trem até o Crato, percorrendo uma estrada de ferro poeirenta e de construção precária.

Ao chegar ao Crato o médico recomendou seis meses de grande repouso, sendo proibido de viajar em veículos que não tivessem posições de conforto exigidas pelo seu médico.

Ao chegar em Crato o meu pai submeteu-se a todos os conselhos médicos e por isso obteve sucesso em sua cirurgia.

Um dia, em pleno três de junho daquele ano teve início a moagem de cana no engenho distante de sua residência. No mesmo dia partiu a pé, às duas horas da madrugada com um amigo e dois filhos mais velhos. Este próprio que escreve e o mais novo Antonio Alcides. Ficava com a distância de doze quilômetros de sua residência e deslocou-se vagarosamente cumprindo as exigências médicas. Foi uma viagem de sacrifício e de bons momentos, visto que tivemos um dia maravilhoso pois saboreamos puro mel de engenho e o apetitoso caldo de cana.

Quando a noite chegou, impetuosamente extasiado da canseira, tivemos que fazer o mesmo percurso, já cansados e enfadados e com a fadiga dos trabalhos do dia.



Crato-CE, 20/12/2011


Autor: Pedro Esmeraldo


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