Pedro Esmeraldo
Em uma cidade chamada Catolé da Serra,
pertencente ao maciço nordestino, havia uma horda de garotos com tendência a
serem marginais. Foi interrompida a sua vida de marginalidade pelo juiz da
comarca local, que teve a idéia, “após várias tentativas de controle”, de
melhorar a vida dessas crianças, doando aos fazendeiros locais para corroborar
com seus estudos a fim de se tornarem homens de bem.
O juiz muito rígido não teve
complacência com as mães e arrebatou-as entregando-as aos devidos fazendeiros. Por
esse motivo a população dessa cidade andava apavorada com o procedimento
educativo dessas crianças, vez que praticavam coisas absurdas com tendência a
roubos e a ociosidade.
Com insistência das mães das crianças,
visto que essas mães consideradas solteiras e muito pobres tiveram que aceitar
a medida austera desse juiz, conformando-se por que teriam um bom procedimento
no futuro.
Catolé da Serra era uma cidade pequena e
calma, agradável, mas muito bonita, situada no pé de Serra denominado de
macavi. Sua população era ordeira e muito bairrista. Rivalizava-se com a outra
cidade de nome Marmeleiro, briguenta, entopercente, cheia de pieguismo que dava
o que falar ao pessoal estranho à vida monástica. As duas brigavam entre si.
Cada qual queria ser melhor do que a outra, quando disputava partidas de
futebol era um Deus nos acuda, a briga troava que fazia medo a gente se colocar
de lado. Ninguém suportava tantos palavrões e era um povo fantasioso. Após a
partida de futebol havia muita gozação, todos ficavam bem entre si.
Um dia esse juiz convocou um senhor de
respeito e bem sucedido agricultor, proprietário de engenho e ofereceu um
desses meninos para acabar de criar com precisão.
Esse senhor não teve alternativa e
aceitou o menino por nome Francisco Brunelly, nome italiano, provavelmente de
seu pai, que era italiano.
Após a chegada desse garoto em sua casa,
entregue pelo soldado Miúdo, o dito menino foi entregue ao senhor do engenho
mandado pelo juiz. Antes, porém, o soldado Miúdo deu conselhos a Brunelly,
dizendo: “Tome cuidado e siga em frente. Esse senhor é muito bom e pode fazer
de você um bom cidadão”. Após passar alguns dias, Brunelly não atendeu o
conselho do soldado e fugiu de casa. Novamente o juiz tomando conhecimento,
mandou entregar o menino Brunelly na casa do fazendeiro. O soldado Miúdo deu
outra saraivada de conselhos a Brunelly, dizendo: “A coisa aqui é séria; o juiz
não tá de brincadeira não, ou você se ajeita ou vai parar em outro local muito
ruim, pior do que você quando vivia na rua, rabo de tatu, passando fome, sem
estudar, caminhando para a marginalidade e por isso você deve tomar jeito de
homem sério.”
Esse menino não deu para o estudo e o
senhor fez várias tentativas para prepará-lo e ser um cidadão de bem. Não
obedecia os rigores da escola e não passava de ano.
O patrão aborrecido mandou Brunelly ir
para a roça trabalhar com o pessoal destinado ao trabalho pesado.
Brunelly, já rapaz, passou a gostar de
uma moça muito bonita com o nome de Ceiça Tomazelly. Após o casamento de
Brunelly, deram a ele uma carroça de tração animal para a sua manutenção
permanente.
Brunelly teve vários filhos com Ceiça e
que se criaram juntos até a morte prematura da mãe.
Brunelly não se habituou a viver sozinho
com os filhos e arranjou outra moça para se casar. Depois do casamento,
Brunelly abandonou os filhos e foi viver com outra mulher chamada Nazareth e
constituiu vários filhos com essa digna moça.
Brunelly ainda vive no sítio,
aposentado, viúvo, vive solitário com os filhos de Nazareth, convém notar que
os filhos da primeira mulher se afastaram do pai, deixando arredio, dizendo
eles que o pai abandonou-lhes quando pequenos.
Crato-CE,
24/01/2012
Autor: Pedro Esmeraldo
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