Luiz Domingos de Luna*
Outro dia fui convidado
por um famoso pintor para visitar a Arcádia numa região da Grécia Antiga, onde
os poetas, dedicavam-se à poesia e ao pastoreio, vivendo em harmonia perfeita
com a natureza.
Chegando lá, um campo
florido cobria todo o horizonte, o pintor preparou logo o meu cavalete para
fazer o planejamento visual em Aquarela de uma cidade a ser planejada e
localizada no interior do cariri cearense.
Peguei o pincel e comecei
a pintar uma batina, uma batina bem comprida, ao que o pintor interrompeu, -
Não, uma batina não!!! Por que não ? –
Ora, uma batina irá lembrar o padre Antonio Leite de Oliveira o povo do lugar
irá dizer que a cidade foi fundada por um padre, outro seguimento mais liberal que
foi o Coronel Francisco Xavier de Souza, começará logo uma briga histórica
entre um padre e um coronel e a história irá toda de água abaixo.
Peguei o pincel novamente
e comecei a pintar uma capela bem linda, ao que o pintor interrompeu, - não uma
capela não!!! Por que não ? – Ora, uma capela irá lembrar o preto Benedito José
dos Santos, aí irão colocar o padroeiro como São Benedito, os discriminadores
de plantão irão logo chiar e começará logo uma briga de discriminação racial.
Calmamente, peguei o
pincel e comecei a pintar um litro, um litro belíssimo, ao que o pintor interrompeu,
- não um litro não!!! Por que não ? – Ora, um litro irá lembrar uma venda, daí a
pouco a venda terá uma proprietária, irão logo quer dar um nome a proprietária,
nasce venda e passa para a dona da venda, depois irão tirar a venda e a cidade
passa a ter o nome da dona da venda que nem mesmo nós, ainda sabemos.
Pacientemente peguei o
pincel e comecei a pintar uma banda do sol, somente uma banda, mais uma banda
lindíssima, ao que o pintor interrompeu não!!!! -Não, uma Banda do sol não!!!
Por que não ? – Ora, uma banda irá lembrar aurora!!! A turma irá chiar logo dizendo:
D. Aurora é a Dona da Venda!!! Os governistas dirão quem deu o nome foi à
princesa Isabel que libertou os escravos e o nosso trabalho irá todo de água abaixo.
Novamente peguei o pincel
e comecei a pintar um rio, na verdade um belíssimo rio, ao que o pintor interrompeu
– Não, um rio não!!! Por que não ? Ora o povo da terra irá dizer que a
localidade começou com um oratório e não com um rio, começará logo uma disputa
entre Ciência e Religião, e até os pintores irão dizer que a cidade surgiu de
uma Aquarela.
– E qual é o problema
afinal ?
O problema é que os poetas
irão insistir no rio, os religiosos num oratório, o povo em uma senhora chamado
Aurora e a confusão tenderá a aumentar.
- E o que fazer perguntou o pintor ?
-Bem é melhor deixar o rio,
pois se tudo der errado irá tudo de água abaixo, e a função do rio é levar
mesmo tudo de água abaixo, a cidade fica com o rio, mas perde a sua história.
– Isso é bom quis saber o
pintor ?
É melhor ficar com o rio e
perder a história.
-E se o rio ficar poluído,
quis saber o pintor
– Bem, se o rio ficar poluído
é porque a história já está poluída, afinal o rio é base para se medir a
civilidade de um povo. – Como assim ? Quis
saber o pintor - a historia pode estar poluída e o rio não, porém quando o rio
estiver poluído com certeza é porque a sua história já foi poluída.
(*) Professor da Escola de
Ensino Fundamental e Médio Monsenhor Vicente Bezerra
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