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segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

Catador é exemplo de consciência ambiental



Na ponte sobre o Rio Salgado, em Juazeiro do Norte, o catador Francisco Alvino faz a sua pescaria. Uma limpeza de consciência, com a retirada do lixo atirado sobre as águas de um rio que agoniza. O esforço para tirar um saco de esponjas que um cidadão insiste em jogar nas águas. Assim, constrói banquinhos com garrafas pet. À frente do rio e na Serra do Horto, seu Alvino faz questão de mostrar os pontinhos verdes que surgem. São árvores que ele próprio e um grupo de 12 catadores decidiram plantar.

Não é organização não-governamental nem órgão público. É simplesmente o interesse de ver a sociedade acordar. “Quero contribuir com a minha parte para poder oferecer um mundo melhor para os meus netos”, diz o cidadão, que se declara um simples analfabeto. E que o seu grande momento de alegria foi ser o catador a dar uma palestra para cerca de 4 mil pessoas em São Paulo, no mês passado, quando foi convidado para receber uma homenagem, por várias empresas, pelos serviços que tem prestado ao meio ambiente.

Produção de vídeo

Seu Alvino, de 53 anos, já dedica 12 deles a causa. “Resolvi simplesmente viver de algo e também poder dar a minha contribuição”, diz ele. Lá em São Paulo, teve contato com representantes da Nestlé, que prometeram avaliar um vídeo produzido por um dos catadores, Ronaldo Barbosa. Já no primeiro ano do Ensino Médio, o cineasta amador sonha com o ensino da Língua Espanhola. Outro catador já está na faculdade, exalta seu Alvino.

Em Juazeiro, o dono do Engenho do Lixo — nome dado por seu Alvino ao centro de reciclagem, o qual escolheu por considerar forte —, há alguns anos, faz palestras em escolas e na Faculdade de Medicina. Começou tudo colhendo o lixo da faculdade e foi convidado pela professora de Educação Ambiental para falar de sua experiência de catador para os alunos da disciplina.

“A natureza está agonizando. Está com febre. Ou decidimos cuidar dela, ou sentiremos o seu efeito imediato. Veja o exemplo do desmatamento em Santa Catarina. Uma catástrofe para chamar a atenção de todo o Brasil”, alerta. São avisos que ele traz do quintal de casa.

Animais sem morada

No local, estão vários tipos de plantas, árvores e muitas aves vão procurar abrigo. Exemplo disso são rolinhas que vão lá cantar. “Acabaram com a morada delas. Aquele não é o seu espaço”, diz ele, ao lembrar de uma cobra verde, comum em áreas próximas a rios, que caiu de uma árvore de frente ao seu engenho. “É de admirar mesmo, mas é o desespero dos animais à procura de proteção”, lamenta.

A lama negra que se transformou o Rio Salgado, de onde o catador retira até lixo hospitalar, é onde ele, praticamente todos os meses, faz um mutirão de limpeza. Veste roupas de borracha, improvisadas e que não oferecem nenhuma proteção e se esforça em fazer sua parte, mesmo sendo um risco à saúde. “Saio me coçando e sei que nessa água tem muita doença”, testemunha.

O projeto para o plantio de árvores é feito em conjunto com os catadores, mas de forma diferente. Simples, até. A cada meia tonelada de material obtido pelo catador, ele terá o direito de plantar uma árvore no lugar que escolher. Um deles é seu Luiz, o campeão em árvores plantadas. Foram 12, até agora. Mas ao todo, já foram plantadas 1.400 árvores. Os frutos com certeza virão.

Além de defender a natureza, o catador se preocupa também com os colegas de profissão. “O meu sonho é lutar pela melhoria de vida dos catadores. Uma profissão muito digna e que deve ser reconhecida, como as outras”, defende. Seu Alvino relata as condições desumanas de quem vive no lixão de Juazeiro e destaca o exemplo dos catadores de Caxias do Sul, a 96km de Porto Alegre, no interior do Rio Grande do Sul. Na viagem a São Paulo, descobriu que os colegas sulistas são tratados com dignidade e respeito, diferente da realidade local. “É isso que espero que seja feito aqui”, completa.

SAIBA MAIS

Arte

A arte é adotada pelo Engenho do Lixo como forma de reciclar material. Do óleo vegetal de frituras, seu Alvino aproveita para fazer sabão. Plástico, latas, papel e outros produtos são transformados, por exemplo, em cartões de natal

Vantagens

Reciclagem é o termo genericamente utilizado para designar o reaproveitamento de materiais beneficiados como matéria-prima para um novo produto. Entre os mais comuns de serem reciclados estão o papel, o vidro, o metal e o plástico. As maiores vantagens da reciclagem são a menor utilização de fontes naturais, muitas vezes não renováveis, e a menor quantidade de resíduos que necessitam de tratamento final, como o aterramento

Diferença

O conceito de reciclagem serve apenas para os materiais que podem voltar ao estado original e serem transformados novamente em um produto igual em todas as suas características. O conceito de reciclagem é diferente do de reutilização. Esta consiste em transformar um determinado material já beneficiado em outro mais novo

Elisângela Santos
Repórter

Mais informações:

Engenho do Lixo
Avenida Leandro Bezerra, 458
Bairro Socorro
Juazeiro do Norte - Ceará
(88) 9203.3853

JOrnal Diário do Nordeste
www.diariodonordeste.com.br

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