Joaquim Mulato, decurião, ou chefe do grupo de penitente do sítio Cabeceiras
(Foto: Antônio Vicelmo)
Os moradores colocam a culpa na estrada que se encontra esburacada e sem acostamento.O sepultamento foi realizado ontem à tarde com grande número de pessoas acompanhando. Joaquim Mulato desceu ao túmulo debaixo do cantochão dos penitentes que entoaram benditos fúnebres. De acordo com o regulamento, o penitente é enterrado no cemitério da ordem, que foi construído pelo padre Ibiapina no século -18, no sitio Cabeceiras. Contudo, Mulato já tinha mandado fazer o seu túmulo no cemitério de Barbalha, onde foi enterrado.
Penitência
Joaquim Mulato faz parte de um grupo de agricultores que tem como penitência chicotear as próprias costas com lâminas de ferro até o sangue escorrer, na esperança de que, junto com o sangue, escorram também os pecados da própria alma e das almas alheias. Assim ter um mundo melhor. E uma presença melhor diante de Jesus Cristo na hora do julgamento, seja no Apocalipse, seja na hora da morte.Foi com esta concepção, que Joaquim Mulato viveu 77 dos seus 89 anos de vida.Joaquim conheceu a ordem dos penitentes com 12 anos, quando ouviu, numa noite de lua clara, vozes que cantavam o “ABC do Divino”. Achou bonito e perguntou à madrinha quem eram. A resposta foi de que se tratavam dos penitentes.
Quando seu pai morreu, ele, com dezesseis anos, pediu licença ao decurião José Francisco da Silva, o Mestre Biro, para fazer parte da Ordem. Quando o velho já não estava mais sabendo cantar os benditos, Joaquim assumiu o comando do grupo, que liderou até morrer.Com a morte de Joaquim Mulato, o cargo de decurião-chefe será exercido por Severino Rocha, 84 anos. Cabe a ele agora não deixar morrer o movimento, que já conheceu quatro decuriões. “Se tudo der certo, nada há de mudar, promete Severino, acrescentando que está pensando em passar o comando para um dos mais novos, uma vez que a maioria dos integrantes da ordem já está com mais de 70 anos”. Os penitentes defendem a idéia de que o espírito pede sacrifício para purificar. Na sua concepção, ´há de ter o dia do juízo final. Só que quando Nosso Senhor Jesus Cristo mandar o castigo, não vai avisar, não. Com a penitência fica mais fácil melhorar a conta lá em cima´, acredita Severino, advertindo que uma simples palavra errada pode estragar tudo.
ANTÔNIO VICELMO, Repórter
(Fonte: Diário do Nordeste, 25-02-2009)
Um comentário:
Gostaria de parabenizar a sagração de Severino Rocha a mestre decurião, que mesmo com a idade avançada seguirá os passos espirituais do fundador da Ordem, São Francisco de Assis, sempre na reconstrução e restauração, pois mesmo na diversidade de ritos no Ceará, dada à riqueza de grandes nomes, A ordem Santa Cruz-Penitentes, Santa Igreja de Roma, terá enfim ao repasse para a sociedade leiga trabalhos acadêmicos tão bem conduzidos pelos abalizados professores. Gilmar de Carvalho, Wellington Oliveira Júnior, Jornalista Dellano Rios, lotados na Universidade Federal do Ceará, ao brilho da luz acadêmica, com certeza a Ordem Santa Cruz conseguirá contornar os deslizes, que a imprensa, às vezes, repassa para o seio social, o estigma tão bem colocado pelo governo federal à época de Canudos, porém com a penitencia destes estudiosos cearenses uma nova história com certeza ressurgirá, e assim, todos ganham com o prumo histórico eclesiástico da minha querida ordem Santa Cruz, que com certeza a pena destes abnegados estudiosos, transformar-se-á no colírio de uma história enriquecedora, humanizadora, sem, é claro as pechas dos escritos repassados a floresta social baseada no senso comum, alheio, ao som de vida um olhar crítico humanístico científico na construção de uma epistemologia genética regional séria e coerente com a globalização aos olhos sedentos de conhecimentos do mundo on-line.
Luiz Domingos de Luna. Mestre de Ordem, Ordem Santa Cruz – Penitentes- Santa Igreja de Roma, forania de Aurora no Ceará aos 26 dias do mês de fevereiro, 2009.
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