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sábado, 14 de março de 2009

ESTRADAS DO MEDO


Em uma viagem recente à Fortaleza, de ônibus, refleti mais uma vez sobre a triste realidade social à que estamos fadados e o quanto não fazemos nada, ou quase nada, para mudá-la. Na semana anterior à minha viagem, acompanhei na imprensa as notícias da nova onda de assaltos, num total de 04(quatro) em menos de 07(sete) dias, aos ônibus que fazem a linha Juazeiro do Norte - Fortaleza, pela estrada estadual CE-060, vulgo “estrada do algodão”. Todos ocorridos no mesmo local, nas proximidades de Iguatu numa localidade denominada “vinte”. Bandidos armados, e motorizados, fazem com que o motorista do ônibus se dirija a um local ermo, onde os comparsas aguardam para fazer o “arrastão”. Deprimente, horrorizante, e acima de tudo, inaceitável! Este crime se repete ano a ano, mês a mês, no mesmo lugar! Isso é um absurdo! Como pode? É incompetência das autoridades tidas competentes do legislativo, judiciário ou executivo? Deixo o julgamento por sua conta. Sugiro aqui uma abordagem diferente, de que somos vítimas de um crime bem maior, o de corrupção envolvendo parte da indústria automobilística e muitos políticos que governaram e governam este país. Encontro aqui a oportunidade para falar dos nossos transportes urbanos, ou de como a indústria dos transportes rodoviário e aéreo, no Brasil, foram favorecidos em detrimento do ferroviário.

Apesar do forte investimento na criação de aeroportos, desde o surgimento do transporte de passageiros, o setor aéreo tem passado por maus momentos, a exemplo dos “apagões”. Os usuários têm, muitas vezes, de esperar horas à fio por um vôo, e até mesmo conformar-se aos não raros cancelamentos. A outra possibilidade é contar com o transporte rodoviário. Milhões de carros, motos e caminhões, fabricados exclusivamente por empresas estrangeiras, que cruzam as estradas e vias brasileiras. Neste setor temos um sistema de ônibus municipal, inter-municipal e inter-estadual onde não é rara a formação de cartéis. Para atender a uma parcela da população privada destes serviços, inventaram por aqui dois arranjos os: “moto-taxi” e as “lotações”. Perigosos, e até hoje não regulamentados, põem em risco diariamente a vida de seus usuários e dos outros motoristas. Mas por que não temos trem? Países desenvolvidos estão trançados por trilhos repletos de linhas e paradas de trem. Carros e ônibus? Para ir trabalhar ou viajar? Como dizemos por aqui: ”Só se for o jeito!”. Transporte barato, pontual, rápido e confortável lá, são os TRENS!

Desde a implantação das primeiras malhas ferroviárias no Brasil, era clara a estratégia de fortalecimento da indústria automobilística. Propositadamente, as bitolas dos trilhos eram diferentes, de estado para estado, evitando assim a integração da rede. O comprometimento dos “governantes” com seus financiadores de campanha, fez com que, ininterruptamente, recursos dos orçamentos públicos fossem investidos na construção de estradas e no asfaltamento das vias, ao tempo em que impediam as ações de crescimento e modernização das nossas mal amadas ferrovias. E não me venham dizer que temos trem... dois vagões? Uma via entre duas cidades? É muito, muito, pouco! A menos de 50(cinqüenta) anos era possível viajar, de trem, de Crato à Fortaleza e de lá a diversas cidades do interior do Ceará. Regredimos! Precisamos interessarmo-nos em conhecer, um pouco mais, sobre este meio de transporte tão popular há décadas em todos os países mais desenvolvidos, por suas qualidades incontestáveis. Precisamos de soluções urgentes, para as graves questões dos transportes aéreo e rodoviário, a exemplo da insegurança nas estradas e da regulamentação dos transportes alternativos. Entendermos as vantagens e desvantagens de cada sistema, pode vir à ser o caminho para cobrarmos melhoramentos que refletirão positivamente na nossa qualidade de vida e na das gerações que nos seguirão.


Dimas de Castro e Silva Neto

Engenheiro Civil, Mestre em Gerenciamento da Construção
pela University of Birmingham e Professor do Curso de Engenharia Civil da UFC Cariri

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