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segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Objetos do desejo - Emerson Monteiro

Celulares, computadores, automóveis, televisores, casas, aviões, armas mortíferas, novelas e outros sonhos de consumo desta era de aço, plástico e substâncias poluentes, formam a dinâmica das horas cheias do frenesi impaciente de que quase ninguém consegue escapar, da ansiedade por novos equipamentos de uso contínuo a preços módicos, do despertar ao adormecer, viagem elétrica diária de uma antena a outra, quais voos de aranhas tontas, desencontradas. Serão máquinas incandescentes, unção dos metais com os nervos das orelhas, narinas, dos lábios, numa velocidade estonteante rumo do mesmo nada original das aventuras de antigamente.
Essa proximidade do homem com os objetos guardaria, por isso, ligação estreita do sujeito e suas vinculações junto ao mundo arredondado. Resumem os grandes filósofos tudo ser só energia em movimento, ainda que aspectos concretos imponham respeito e dúvidas, na relação com o alimento abstrato do pensamento de materialistas que querem ver ou pegar cada coisa.
A juventude, porém, questiona as cogitações simples dos filósofos. Os moços querem viver a todo custo experiências da civilização que herdaram, nos filmes, livros e máquinas reduzidas made in China. O Brasil chegou agora à marca de possuir celulares equivalentes ao tanto dos seus habitantes, em números absolutos.
Jamais a humanidade inteira atingiu tamanha capacidade física de se comunicar. No entanto o quadro preocupa o sossego e o falado progresso. Margem enorme de meios ainda representa pouco para aquietar o furor dos dramas individuais, pois as pessoas transferem às outras práticas e limitações senis do que haveremos de vencer depois, imposto do caminho da felicidade.
Nunca se fotografou tanto, se filmou tanto, gravou tanta música, quanto nesta época, e os frutos parecem não corresponder ao nível da tecnologia obtida pela raça humana.
O desejo peca na própria satisfação do enigma exigente dos consumidores, que, por mais busquem atender aos corações apaixonados, esbarram nas impossibilidades e angústias de um mundo vazio, atitudes desencontradas, guerras e traumas.
Contanto que forneçam esperanças novas, as tais maquininhas desta hora disseram muito pouco daquilo que se aguardava das matemáticas e pesquisas do homem civilizado. Há, sim, reservas maiores no desconhecido para serem aprimoradas que mostrarão o rosto de dominar os vícios e entrar na outra face da história, quando as marcas do egoísmo sumirão das telas, sombras apagadas pelas luzes da perfeição verdadeira.

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