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quinta-feira, 4 de novembro de 2010

A solidão vive no interior - Emerson Monteiro

Encontrar o jeito de viver chega às raias da impertinência, por causa da agitação de carros e multidões que lotam as capitais e cidades maiores, trazendo essa alternativa de permanecer no interior um jeito novo de organizar o mundo e encontrar a forma de sobreviver nos matos do sertão.
A década de 50 do século que passou existia no modelo econômico brasileiro que representava maior quantia habitando a zona rural. Depois, com a urbanização e a industrialização galopantes das duas décadas posteriores, 60 e 70, o bucolismo do interior para muitos perdeu o charme e o pêndulo trocou de lado, enchendo de gente as metrópoles que agora lutam sobrecarregadas e gritam por socorro a qualquer custo.
Os moradores dos lugares maiores, São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Recife, Salvador, rezam pelas saídas honrosas de não largar a história de suas famílias e seus portos de fixação, sabendo, no entanto, que iniciar noutros cantos significaria espécie de exílio territorial.
Há um surto de apreensão nesse sentido. Os governos penam ocupados diante dos graves problemas das megalópoles, cercados de argumentos do quanto o enigma urbanos supera a capacidade imediata das soluções. O trânsito reduziu-se a níveis aterrorizadores de velocidade, com horas e horas de retenção nas filas intermináveis de automóveis, observados pelos marginalizados do sistema e seus olhos de lince, com a segurança e os vícios pecaminosos além da monotonia das paisagens fumarentas e mórbidas. Quando há praias, os finais de semana ainda alimentam o sonho do infinito, na linha do horizonte e sóis monumentais, a falar esperança nos dias melhores que virão nas abas da natureza. Poetas de plantão, sonhadores, mergulham nas telas incendiadas dos televisores, da mídia e fnos computadores maternais, nas horas domésticas enclausuradas.
O interior dispõe, quem sabe até quando?, do sossego entre descampado e paredes, porém parecidos nos termos humanos e suas limitações de qualidade, ainda diante dos fluxos migratórios que despejam cultura industrial nos cérebros assustados.
Quer-se, no entanto, contar da solidão silenciosa possível quando inexistem vizinhos neuróticos e sons malucos a toda altura, nos bares, fundos de carros abertos, porres medievais das tardes vazias, impaciência das ruas que invade as horas nos becos escuros da velha saudade social.
Falar nisso enquanto é tempo, dos outros modelos permitidos pela criatividade. Espécies de retorno ao campo, vez que antenas existirão mesmo assim nos distantes lugares, telefones, transportes, escolas, energia elétrica, saúde. Estudar meios diferentes de fugir das cidades sem precisar viver os pesadelos de fora, nisso acham-se os caminhos administrativos da saída, já que se experimentaram os dois lados da moeda e sabe o peso de cada um.

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