Invés de sair às cegas catando mistérios e trombando caixas vazias largadas em estradas distantes, a gente simples se alimenta na fé com um propósito superior que lhe indica os passos de seres vivos pelas entranhas dos rochedos tortuosos dessa humanidade, livre de outras perguntas inventadas, braços abertos ao trabalho e aos deveres que a vida impõe.
Houvesse outro jeito de tocar o barco, os milhões de criaturas seguiriam nessa respiração bem sua, constante, ao ritmo dos elementos, nas tiradas dos mundos inevitáveis. Santos do povo falam disso, de uma força descomunal que move e agarra com persistência o seguir das criaturas aos lugares desconhecidos do universo, única alternativa do processo vida.
Os seres anônimos, heróis desconhecidos, agem assim, movidos na ânsia de manter sua respiração sob valores trazidos brutos nas cheias do presente às margens do amanhã, máquinas históricas de uma tradição que se mexe de dentro do peito da certeza, que tem de ser desse modo, e pronto. A religiosidade monumental das pessoas cala fundo o íntimo da alma dessa multidão silenciosa, produzindo certezas a todo instante, matéria prima do futuro, no fluir sem parar das eras e tradições inesquecíveis e satisfatórias da existência comum dos dias delas.
O bater do coração alimenta essa energia original que gira as engrenagens, por cima de pedra e pau, e, com isso, permite acontecer histórias pessoais a todo o momento, dadas dimensões maravilhosas e segredos de continuar a qualquer preço bom a experiência de se conduzir em frente e estabelecer as bases dos novos continentes, nas horas de toda sobrevivência, do menorzinho ao maior de todos nós. Uma ação se soma às outras ações, linha após linha, fio condutor de nomes, pessoas e objetos, fora e dentro das aparências, peças de um xadrez de luta e parto dos momentos que se sucedem.
Caminha a sociedade dos seres humanos como formigueiro de gente e produção, necessário ao calendário e aos relógios, estômago do tempo e dos lugares, luzes nessa escuridão que clareia as famílias e os destinos, até serem felizes para sempre. Santuários de orações fervorosas, eles alimentam o desejo de seguir os passos, na convicção de que existe um sentido maior que abre as portas do amor, nas intenções de quem deseja o bem para seu valor absoluto.
Desse modo, os simples vivem da fé, de olhos voltados à mesma Eternidade que os contempla e os criou, e lhes deixa soltos no ar, perante a estrada que abraça com os pés e rasga a cada passo. Um saber mais que perfeito da melhor sabedoria os orienta, pois conhecem o tecido com que tecem o manto da Eternidade. E só isso os torna suficientes ao justo querer de Deus.
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segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
O simples vive da fé - Emerson Monteiro
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