A coreografa e bailarina Daniele Esmeraldo a frente da Secretária da Cultura, Esporte e Juventude possibilitou uma nova dinâmica na gestão de políticas públicas e de eventos na cidade do Crato. Com apenas cinco anos ela conheceu o universo das artes e uma das pioneiras na dança contemporânea na Região do Cariri.
Alexandre Lucas - Quem é Daniele Esmeraldo ?
Daniele Esmeraldo - Cratense,orgulhosamente.Sagitariana,nascida em 03 de dezembro, mãe aos 14, de duas filhas encantadoras,filha de pais inigualáveis, descendente da Família Esmeraldo, da qual tenho muito orgulho. Não me considero nenhuma intelectual; Mas idealista, persistente, que gosta de criar e realizar; Tenho na minha essência o amor pela arte, pela dança,e a ela, minha gratidão por muito do que sou hoje. Muitos desafios e obstáculos vencidos, numa sucessão de acontecimentos, que engrandeceram minha forma de ver e viver a vida!!! Hoje tenho uma missão maior, de cuidar, e proporcionar o bem-estar material e espiritual de muitas pessoas; Bailarina, coreógrafa, diretora, produtora, pedagoga, professora, que disseminou a dança na região do cariri, e na educação, inovou com a Dança na Escola, através da arte-educação, utilizando a arte e o lúdico como meio facilitador da aprendizagem cognitiva.
Atualmente, gestora com muita honra e mais responsabilidade ainda, de uma pasta fascinante, que é a Secretaria da Cultura, Esporte e Juventude do Crato, que em muito me dá prazer em geri-la, mesmo que ainda com algumas limitações.... mas, quando a gente ama, a gente cuida!E eu amo a Arte, a cultura e a vida!
Sou uma pessoa que busca no dia-a-dia, o aprimoramento e a elevação espiritual, tendo sempre em mente, o princípio“ O Espírito é o principal, a Mente obedece e o Corpo acompanha, além de trazer para bem perto de mim, o treinamento da gratidão, humildade e obediência, buscando caminhar pelos trilhos e pelos caminhos que me levem a aproximar-me cada vez mais de Deus! Sou feliz, porque amo e me sinto amada!
Alexandre Lucas - Quando teve inicio seu trabalho artístico?
Daniele Esmeraldo - Enveredei pelo caminho da arte, aos cinco anos iniciando com aulas de acordeom. Um ano depois fiz aula de piano, canto coral, no tão mágico Pequeno Coral, da Sociedade de Cultura Artística do Crato. Paralelamente e felizmente, iniciei meus primeiros passos aos 6 anos, com aula de ballet, jazz e sapateado, na Academia de Danças Silvia, a Pioneira da região, minha grande mestra! Aos 13, assumi a direção de um espetáculo, no dia do ensaio geral, em substituição à minha diretora, Silvia, que saiu para cuidar de sua filha que estava prestes a dar a luz!! Aquela foi a minha primeira experiência em direção.... Imaginem, uma menina, dirigindo mais de 200 bailarinos entre crianças e adultos, iluminadores, cenógrafos, sonoplastas.... kkkkk, ainda bem que deu tudo certo! A minha primeira Academia foi criada aos meus 16, em Barbalha, e aos 17, A Corpo e Movimento se instalava no Crato, com o apoio incondicional dos meus queridos pais, que acreditou no meu trabalho. Durante mais de 11 anos, foram desenvolvidas atividades na área de dança, teatro, produções artísticas e culturais. Foi também, nessa época que se deu o início do Grupo de dança Corpus x Corpus.
Alexandre Lucas - Quais as influências do seu trabalho?
Daniele Esmeraldo - Os primeiros passos me foram ensinados pela Pioneira da dança no Cariri, Inês Silvia, na trajetória de 12 anos de aula, eu passei por vários mestres, como Vera Passos, Lucinha Machado, Cláudia Pires, Mário Nascimento, Valéria, hoje da Cia. Vatá( sapateado) e na pesquisa e inspiração, claro a magnífica Pina Baush,Rodolflaban, Débora Colker, Grupo Corpo, kaiser Cia. de Dança.
Alexandre Lucas - Fale da sua trajetória?
Daniele Esmeraldo - Como já citei acima, iniciei minhas primeiras experiências profissionais aos 15, em Barbalha, com a criação da Academia Som e Fantasia, durante um ano....esse foi um dos períodos que mais me esforcei para me especializar e profissionalizar. Há, mais antes disso, já dava aula na Academia que estudava, para alunas de Baby Class.Com 12 anos, já ganhava meus primeiros trocadinhos. Em 1988 inaugurei no Crato a Academia Corpo e Movimento, realizando 11 Festivais de Dança, nas categorias infantil e adulto, somando na verdade não 11, mas 22 espetáculos.... pois, eram 2 atos em 1. Ballet, Jazz,Dança Cigana, Mambo, anos 60, sapateado, Contemporâneo, foram ritmos que fizeram parte do nosso conteúdo e que se espalharam pela cidade, não só nos Festivais, mas em desfiles, aniversários, e eventos sociais, dançando inclusive na EXPOCRATO, num momento de intervenção inédita, quando a dança contemporânea, invadiu a maior festa popular, atraindo os olhares do público, que parou pra observar, aquela arte não muito conhecida ainda. Foi uma grande experiência. Passei mais ou menos, três anos para conquistar o reconhecimento do meu trabalho, por ser muito nova, as pessoas não acreditavam muito na minha capacidade. Dançávamos em chão batido, coreografava de graça, sem remuneração nenhuma... mas sempre lembrando ao grupo de bailarinos, que um dia poderíamos ser reconhecidos! Hoje, já posso me orgulhar dessa trajetória, e dizer que os conhecimentos adquiridos ao longo das experiências vividas, em sua maioria, me foram oportunizado pela dança. Todo o esforço sincero em contribuir para a cultura da minha cidade, talvez tenha repercutido na escolha do Prefeito Samuel Araripe e da primeira dama Mônica Araripe, em me confiar a gestão da Secretaria da Cultura, Esporte e Juventude, o que me enche de orgulho, pois, como filha do Crato, sei do grande potencial e celeiro cultural, que está sob nossa administração. É muita responsabilidade também!
Alexandre Lucas - Como você ver a relação entre arte e política?
Daniele Esmeraldo - Vendo política como um caminho para a idealização, construção e realização de ações para o bem comum de um povo, ou de um determinado grupo social, e vendo um politico como aquele que tem a vocação para cuidar de um coletivo, e fazendo um paralelo da política com a arte, vejo que através dela, se manifesta desejos, se busca o equilíbrio, se encanta a vida, ideias são externadas, vidas são mudadas. Por tudo, a arte também é um majestoso caminho para transformar, propor, insultar e até mesmo denunciar. A arte não pode ser mais tão subjetiva, creio que devemos usar os palcos, a música, as telas e telões, também como uma ferramenta de mudar e transformar o mundo. Como vejo ainda, o artista como um grande político, que acopla pessoas, através do seu talento, sendo o grande gestor de sua arte.
Alexandre Lucas - Hoje a dança contemporânea está bastante difundida. Você foi uma das pioneiras neste estilo de dança no Cariri. Fale deste trabalho.
Daniele Esmeraldo - Quando iniciei as aulas de ballet, me sentia presa, aos passos que só doíam, mas que foram estritamente necessários para a técnica e o aprimoramento dos movimentos da dança. Logo veio o jazz, que já era mais solto, mas o que me encantou mesmo foi poder aproveitar e utilizar a técnica do ballet, os passos soltos do jazz, juntamente com o início do trabalho de próprio de percepção e criatividade que a dança contemporânea nos remete. Inspirei-me e estudei as técnicas desse estilo inovador, tendo a grande Pina Baush, como responsável pela minha afinidade ao contemporâneo, estilo esse, que nos faz interagir consigo e com o nosso meio. E para estreitar ainda mais a grande relação com o contemporâneo, vale ressaltar, tive o grande privilégio e a grande honra, de dançar em terras cratenses, no auditório da URCA, para Ela, Pina Baush, a maior sumidade da dança contemporânea do mundo, em sua visita ao Cariri, é mole?. Um presente proporcionado por meu mestre, doutor, Fábio Rodrigues, à nossa Companhia o Grupo CorpusXCorpus, com o espetáculo Beatos. E hoje o contemporâneo invadiu o mundo, e como não o Crato, o Cariri.
Alexandre Lucas - A dança contemporânea exigi um estudo da realidade?
Daniele Esmeraldo - O contemporâneo busca aproximar o homem sim da sua realidade.Foi com a idéia de estreitar o relacionamento do homem com o mundo, de vivenciar, sentir e se autodescobrir, que se iniciou essa maravilhosa forma de dançar. A dança contemporânea não se define em técnicas ou movimentos específicos, pois o intérprete/bailarino ganha autonomia para construir suas próprias partituras coreográficas a partir de métodos e procedimentos de pesquisa como: Improvisação, Contato Improvisação, propriocepção, Método Laban, Técnica de Release. Esses métodos trazem instrumentos para que o intérprete crie suas composições a partir de temas relacionados a questões políticas, sociais, culturais, autobiográficas, comportamentais, cotidianas como também a fisiologia e anatomia do corpo. Cabe ao coreógrafo, como acontece com todo artista, descortinar sua criação, traduzindo através do movimento, os seus sentimentos e a sua visão de mundo.
Alexandre Lucas - Você costuma dizer que antes de ser Secretária é artista. Qual a importância de uma artista assumir uma Secretária da Cultura?
Daniele Esmeraldo - Lembro-me, ao me levantar para produzir meus Festivais, quando eu exercia quase todas as funções, de coreógrafa, professora, bailarina, diretora, produtora (divulgação, captação de recursos)o quanto eu sentia dificuldades para conseguir recursos. Muito chá de cadeira, muitos nãos.Todos os pingos de suor, se distribuíam pelas salas de ensaio e respingavam no interesse dos patrocinadores em apoiar os Festivais..... salve os empresários da época. Sempre tive o cuidado de me colocar na situação daquele que está ali do outro lado da mesa, que tanto foi e será o lugar no qual estive e estarei. Valorizar cada arte, dar a real importância que merece nossos artistas, e saber que nós somos pessoas perseverantes e que batalhamos muito ainda para realizar uma determinada obra, são sentimentos que me norteiam na forma de conduzir o meu trabalho como gestora da Cultura.
E é com esse sentimento de reconhecer o grau de valor que tem a nossa cultura, em toda sua diversidade, que tento, juntamente com o nosso gestor maior, atender às necessidades dos nossos artistas e da nossa Capital da Cultura, fazendo jus ao seu nome, e me esforçando para dar não o mínimo para o artista, mas o nosso máximo em apoio, estrutura, atenção e valorização. Creio que a nossa sensibilidade e vontade de acertar é maior do que os obstáculos enfrentados!
Alexandre Lucas - Quais os principais desafios a frente da Secretaria?
Daniele Esmeraldo - A resposta não é de se surpreender, recursos, recursos e recursos. Existe uma previsão orçamentária, pelo fundo geral do Município, que não quer dizer, que necessariamente existe o recurso. Somente, com os recursos da Prefeitura, fica inviável promover a cultura, em todos os seus segmentos. Precisamos de muita criatividade e muita dança, para conseguir executar os projetos. Apesar de ter um gestor, que valoriza e acredita no valor e na importância da nossa Cultura, ainda assim, é muito difícil!
Alexandre Lucas - Quais os avanços?
Daniele Esmeraldo - Bom, em princípio, não existia no Crato uma pasta específica de Secretaria da Cultura, bem como Conselho de Cultura, nem Lei Municipal de Incentivo á Cultura, nem Fundo Municipal. Hoje o Sistema Municipal (Secretaria, Conselho, Fundo Municipal) já está legalizado e em pleno funcionamento. Realizamos duas Conferências Municipais, acreditando plenamente no valor de uma gestão participativa, cujo resultado se deu com a elaboração do nosso Plano Municipal de Cultura. Pensando em promover,dar continuidade e fortalecer, vários projetos de políticas públicas foram criados e desenvolvidos, como a EMMA (Escola de Música maestro Azul), cujos frutos já se podem ser reconhecidos, através da Banda Mirim do Crato. A Casa Harmônica (Núcleo de Projetos Sócio-Culturais), idealizados pela Primeira Dama Mônica Araripe,que desenvolve projetos de inclusão e formação cultural, com a participação de mais de 500 crianças, nas áreas de Dança e Teatro, culminando estas na criação da EMCART( Escola Municipal de Cultura e Arte), realizadas no Teatro Municipal, e aulas de Artes Plásticas, Incentivo á leitura e ao desporto. O Festival Cariri da Canção, hoje a maior festa da música que acontece na Região do Cariri. O apoio incondicional à Cultura Popular, que é o que a gente tem de mais rico nessa terrinha cratense. Vários eventos com cunho educacional, histórico, pesquisa, inclusivo e de tradição, são realizados anualmente, como o Desfile das Virgens,Chapada Viva do Araripe,O Abriu Pra Juventude,Cariri Cangaço, Festival Folclórico e Doce Natal,todos eles acontecem com o intuito de aprimorar conhecimentos, difundir, divulgar, valorizar, fazer intercâmbio entre atores, artistas, mestres, músicos, historiadores, crianças e adolescentes. No setor de Museus, foram restauradas as valiosas obras sacras e uma grande parte das Obras de arte, no Museu Histórico e de Arte Vicente Leite. Além de termos o Centro Cultural do Araripe, com a Budega Cultural, O Café Maria Fumaça, A Biblioteca Municipal, e a Galeria de Artes, formando o maior complexo cultural da região, sendo este, nossa casa, nosso palco, nosso chão, nosso teto, onde tudo acontece, um lugar onde se respira a mais pura arte. Alexandre Lucas - O que ainda precisar ser feito para avançar nas políticas públicas para a cultura?
Daniele Esmeraldo - Algo muito importante, creio que a implantação de uma política de Edital própria do Município para que possamos democratizar o acesso aos recursos. Realizar Fóruns, para sensibilizar as pessoas Físicas e Jurídicas para se tornarem amigos da Cultura, fazendo suas doações, patrocínios, para o Fundo Municipal de Cultura. É de extrema importância também, realizarmos ações , ampliarmos e fortalecermos os projetos já desenvolvidos pela Secretaria, descentralizando-os, atingindo não somente na Sede, mas nos bairros mais distantes e nos distritos do Crato, apesar, de já realizarmos algumas ações neles. Ah! Vamos lutar também por nossa sala de Cinema.
Alexandre Lucas - O Ministério da Cultura avançou em termos de ampliar, consolidar e descentralizar recursos públicos para cultura. Você acredita que isso repercute nos Municípios?
Daniele Esmeraldo - Claro que sim. Gilberto Gil, Juca Ferreira, ambos Nordestinos, foram nossos grandes defensores, no que diz respeito á descentralização dos recursos federais, tendo em vista que a fatia maior ou quase todo o bolo de recursos sempre ficavam lá pras bandas do sul. Espero que essa política democrática, com a nossa nova Ministra Ana Buarque, possa dar continuidade e avançar mais ainda. E agora temos mais uma esperança de tempos melhores. Com a aprovação do Sistema Nacional de Cultura, que prevê o repasse de recursos de 2% União –1,5% Estado – 1%Município, que com certeza nos assegurará uma condição maior para a execução de Projetos e Políticas Públicas na nossa Cidade.
Alexandre Lucas - Quais os próximos trabalhos da Secretária?
Daniele Esmeraldo - A nossa prioridade hoje, além de dar continuidade e melhorar todos os projetos já desenvolvidos por essa Administração, é a modernização e aquisição de equipamentos para os Espaços Culturais. Teatro Municipal, Biblioteca Municipal, Auditório do Centro Cultural do Araripe e Museus. Estamos formatando um projeto para trazer o Museu de Arte para a galeria do Centro Cultural da Araripe. E logo, logo, estaremos inaugurando a nossa Rádio Cultural do Araripe, que funcionará no Bairro Alto da Penha, com o programa Alô Rabo da Gata, que será conduzido por crianças e adolescentes daquela localidade. É imprescindível, termos esses espaços em pleno funcionamento, até porque, eu também quero usufruí-los, durante e quando não mais estiver ocupando o cargo de Secretária.
Alexandre Lucas - Quais os seus próximos trabalhos artísticos?
Daniele Esmeraldo - Muitas pessoas me param na rua e me indagam a volta dos meus Festivais, talvez elas não estejam acompanhando de perto, e o quanto eles ainda estão acontecendo, e estão muito mais vivos, com o Doce Natal, que é um espetáculo de Arena, a céu aberto, com mais de 200 crianças a cantar, dançar e interpretar. Esse momento ímpar, é também uma grande oportunidade de praticar e propagar a minha dança, junto á crianças dos quatro canto da nossa cidade. Se amar é viver, eu danço a vida. Não consigo sem a dança. Estamos voltando, através da Cia. Municipal Crato de Dança, Cia. Cultural do Cariri e Cia. Mi de Dança, com a produção de alguns espetáculos que já estão em fase de elaboração e criação... Pra materializar, espero que sua entrevista dê sorte Alex (Alexandre Lucas), gostaria de ter condições de estrear ainda esse ano, o Bárbara Mulher (Espetáculo Solo), Caldeirão (Espetáculo de Arena in loco), Mi- (Duo), e aindaRFFSA e Cia.
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