Geralmente, no mês de fevereiro, quando aparece sem cair chuva, o homem do campo passa a se preocupar e começa a observar os astros, tentando descobrir algumas nuvens que provoquem chuvas e que venham satisfazer os anseios do bom agricultor que espera a chuva tentando dar continuidade ao seu plantio.
Por isso, quando o camponês não vê nenhuma manifestação que lhe favoreça um bom caminho, a fim de continuar o seu plantio que seria o produto de sua subsistência, tenta beneficiar com grande velocidade a recuperação dos plantios retardados, pois não vem dar oportunidade que lhe deseja (quando a chuva falta).
Por essa maneira, o camponês aparvalhado, perde o rumo técnico e passa a fazer movimentos agressivos vendo a hora de ser desprezado pelas autoridades do país. Há deles, que enfrenta a crise com coragem e apela para os governantes que lhe dêem serviços e que façam pequenas estruturas agrícolas (açudes, irrigação e orientação técnica). Daí então, com a falta de apoio das autoridades, o camponês recorre às igrejas, oram bastante, solicitam a Deus que lhe mande pelo menos algumas gotas de água para não cair no destempero social.
Certo dia, no ano de 1966, havia uma promessa de falta de chuva e toda a população campesina encontrava-se desolada devido a falta desse precioso líquido que ora estava atrasado, que arrasava toda a população, deixando cair no desespero total.
Nesse ano, estando meu pai enfermo, um dia apareceu por lá um senhor baixo, constituído de uma loquacidade que não parava de falar de jeito nenhum e a conversação prolongada ia até tarde, ficando todos os outros que estavam ao redor tristes, provocados pelo cansaço, deixava todo mundo desconsertado com tanta falação que ia até tarde da noite.
O assunto era chuva e seca. E não deixava ninguém falar. Só ele era o verdadeiro mentor de todas as conversas.
Seu nome completo era Pedro Figueiredo, natural da cidade de Milagres, Ceará. Veio para cá com o intuito de procurar trabalho em uma fazenda pertencente ao médico cratense Dr. Fábio Esmeraldo, para ser feitor desse senhor no sítio Cabeça da Vaca, no município de Juazeiro do Norte.
Pedrinho, como era conhecido na roda dos amigos, possuidor de uma palestra jocosa, vez por outra, dizia coisas engraçadas e inadequadas. Todo mundo ria de tantos efeitos malabaristas na palestra desse senhor.
Nesse tempo, como havia falta de chuva, a população campesina do Crato e da redondeza permanecia na expectativa. Todos sem rumo ficavam sem saber apelar, para quem se dirigir e por isso recorriam às igrejas pedindo a Deus graças de mandar chuva suficiente para o plantio.
O povo do Crato, muito católico, tinha o hábito de orar com intensidade e recorrer às igrejas. O assunto versado no momento era sobre as enchentes do Rio de Janeiro, devido a uma forte tromba d’água que deixou toda a população desanimada devido ao prejuízo.
Pedrinho, agnóstico e eloqüente, contava histórias ao pessoal que muitas vezes saia do rumo, dizendo: ora, que coisa tola: esse negócio de dizer: o pecado empata chuva e reza faz chover, isso é muito do lero-lero, pois observo que nem pecado empata chuva, nem reza faz chover. Haja vista, que aqui no Crato o povo reza demasiadamente e não chove, e no Rio de Janeiro o povo peca por brincadeira e chove tanto que deixa todo mundo arrasado com o prejuízo causado pela chuva. Concluiu: nem pecado empata chuva, nem reza faz chover.
Todos os que estavam presentes não tiveram outra alternativa senão rir.
Autor: Pedro Esmeraldo
Crato-CE, 24/10/2011
Nenhum comentário:
Postar um comentário