Vasculhar,compreender
e socializar as histórias de narrativas orais populares do Cariri cearense é um dos prazeres da
historiadora e pesquisadora cultural Ana Rosa Dias Borges. A Professora
reconhece que “ao preservarmos nosso patrimônio
cultural imaterial estamos contribuindo para o aprendizado da cidadania, tão
necessário em nossos dias”. Autora do livro “Narrativas Orais no Barro Vermelho” que é um exemplo da importância do resgate da história a partir das relações de pertencimento e identidade
Alexandre Lucas - Quem é Ana Rosa Dias
Borges?
Ana Rosa
Dias Borges - Cratense, contadora de historias para crianças, avó, historiadora, professora,
pesquisadora cultural, amante da arte literária, uma misturança só.
Alexandre Lucas – Você já vem desenvolvendo
há muitos anos um trabalho de incentivo a leitura. Fale sobre esse trabalho.
Ana Rosa
Dias Borges - Quando trabalhava com editoras
comecei a contar histórias para crianças na Rede de Ensino do Recife.
Encantei-me com o que vi e senti ao contar histórias. A necessidade de
aprofundamento no tema levou-me a cursar uma especialização em Literatura
Infanto- Juvenil, que versou sobre os contos orais, das comunidades narrativas
orais da Chapada do Araripe. E assim, de posse desse conhecimento teórico , que
empiricamente já me seduzia, intensifiquei as ações de incentivo a leitura,
publicando artigos em revistas especializadas em Literatura Infanto- Juvenil e
Educação, contando as histórias compiladas da Serra do Araripe em bibliotecas e
escolas em geral, oferecendo oficinas de formação para educadores em parceria
com secretarias municipais de educação e na rede privada de ensino, prestando
assessorias pedagógicas, ministrando palestras, sempre disseminando o
encantamento que os contos fantásticos provocam naqueles que estão em processos
construtivos literários.
Alexandre Lucas – Você é uma pessoa que busca a
partir das suas pesquisas sobre narrativas orais criar relações de identidade e
pertencimento com o povo. Qual o significado disso?
Ana Rosa
Dias Borges - O sentimento de
pertença e identitário inerente ao ser humano são compartilhados por um mesmo grupo
social, ou seja, o mesmo imaginário social. De forma que as idéias, os
costumes, as tradições e os mitos fundam uma realidade social e deveriam estar
presentes nos processos construtivos educacionais escolares, pois ao
preservarmos nosso patrimônio cultural imaterial estamos contribuindo para o
aprendizado da cidadania, tão necessário em nossos dias. E as narrativas
populares orais, tem esse poder. Elas carregam consigo toda essa gama de
simbolismo, valorizam no ser sua identidade cultural o que desencadeia os
questionamentos necessários relacionados àquilo que somos e o porque do que
somos.
Alexandre Lucas – Você lançou o livro “Narrativas
Orais no Barro Vermelho”. Como foi esse trabalho?
Ana Rosa
Dias Borges - A artesania do livro Narrativas Orais no Barro Vermelho teve início quando
o projeto que enviei ao MINC foi aprovado. Um programa denominado, Micro
Projetos Mais Cultura, que contempla iniciativas culturais de cunho popular e
abrangência comunitária.
Assim como eu já tinha desenvolvido a
pesquisa dos contos populares na Chapada do Araripe e encontrava-me
completamente envolvida com o tema narrativas orais populares, decidi dar
continuidade ao trabalho, agora na cidade do Crato. A escolha do Alto da Penha,
antes Barro Vermelho, se deu em função de ser essa uma comunidade emblemática, estigmatizada,
uma das primeiras áreas periféricas da cidade, com um imaginário coletivo
repleto de mitos, lendas, assombrações e também a formação de um tecido social
interligada a formação histórica do Crato. Ademais, na minha infância, morei
muito próximo e desenvolvi laços afetivos e identitários com o bairro.
Alexandre Lucas – Você desenvolveu um
trabalho de resgate da história dos Dramas na cidade do Crato. Conte
essa história.
Ana Rosa
Dias Borges - Quando criança, no Sitio Guaribas, localizado no Sopé da Capada do Araripe,
tive a alegria e o imenso prazer de viver toda a magia dos Dramas. As moças do
lugar, antes das festas natalinas, apresentavam os Dramas, que eram duetos
cantados, em um palco improvisado, ora em cima de um caminhão, ora em cima de
uma grande mesa, ora em uma calçada alta
Alexandre Lucas – Você acredita que a história
da nossa ancestralidade vem sendo perdida?
Ana Rosa
Dias Borges - Embora ocorram movimentos educativos e culturais com vistas a deter esse
processo, percebe-se que são iniciativas tímidas e de abrangência diminuta.
Muito da nossa ancestralidade histórica se perdeu. Entretanto, os
aprofundamentos e as discussões acadêmicas, as ações dos organismos não
governamentais nesse sentido e a implantação dessa temática no Sistema de
Ensino Regular, vislumbram a contra mão dessa constatação.
Alexandre Lucas – Quais os seus próximos
trabalhos?
Ana Rosa
Dias Borges - De certo estarei sempre envolvida em pesquisas que versam sobre as
temáticas populares em memória.
No momento estou amadurecendo a idéia de outra publicação.
Faltam apenas os recursos. Mas estamos na busca e a concretização dessa ideia
muito me fascina.
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