Nós humanos buscamos um jeito bom para equilibrar os elementos da natureza, para achar nisso as fórmulas ideais de viver em harmonia, no mínimo face ao mundo que nos rodeia. Arrumamos defesas que facilitem passar os dias longe dos conflitos que engolem as pessoas. Aqueles mais sabidos rompem obstáculos intransponíveis, exercitando a capacidade que possuem de cruzar as situações e abrir margens e alternativas. E os alimentos que ingerimos também se enquadram nessa ginástica, nestes tempos industriais que desafiam pela propaganda, marcas oferecidas em cada esquina, por meios ardilosos de pouco critério. A luta é fugir das regras químicas de comer o que aparece na nossa tela sem qualquer chance de pensar de outro modo.
O resultado desse totalitarismo alimentar em que se transformaram as ofertas do que sobrou para comer implica, agora, numa aventura radical de saúde fragilizada, corredor lotado nas entradas de um sistema único de saúde assoberbado e filas intermináveis à porta dos consultórios médicos.
Há países de seculares tradições que mantêm a rigidez dos hábitos de alimentação como quem cultiva verdadeiras religiões de sobrevivência. São povos educados nas linhas rígidas e familiares impostas pelos ancestrais e pela comunidade. Veem os costumes quais peças-chave de preservação da natureza a partir da criança e do jovem, impondo respeito às leis das origens milenares, na intenção de uma medicina preventiva. Acreditam serem doenças os sintomas do desequilíbrio imposto ao sistema orgânico através de hábitos errados, guardando, com isso, a conservação da ordem química do corpo à medida que evitam cair em transformações equivocadas e fora de fundamentos conhecidos, inteligentes.
Na fase ocidental dos modos industriais, no entanto, o lucro prevalece acima de tudo, a todo custo, comer casca e nó, levando de eito o que surgir pela frente. As florestas que o digam, após a febre destruidora das reservas a pretexto de exercitar práticas de mercado da madeira e produção de carne, depois seguida dos agronegócios, da soja que domina a colonização amazônica.
Comer e beber hoje se tornam, a cada ano, em atividades de risco jamais imaginado pelos pessimistas. A mesa virou campo de prova de sobrevivência; os pratos, bombas-relógios de que não conhecemos os termos de finais para na saúde. Nossos avôs, às refeições, adotavam a expressão “peixe é que morre pela boca”. No entanto a humanidade parece haver se transformado num rumoroso cardume de variados peixes expostos aos caprichos das bolsas de mercadorias, vagando tontos na maré dos acontecimentos imprevisíveis da civilização.
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segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
A inteligência alimentar - Emerson Monteiro
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