República
impopular do Brasil
A sociedade ficou fora no regime que teve de imitar mitos, hinos, bandeiras e heróis
Cláudio Fragata Lopes (*)
A proclamação da República que em 15 de novembro próximo completará 119 anos, ainda é um capítulo equivocado na História do Brasil. Muita gente pensa no episódio como uma revolução popular, que pôs fim à monarquia e instalou no país um regime moderno e progressista. Mas não foi bem assim. O ato de implantação da República não teve participação popular. Foi fruto de uma elite, formada por militares, intelectuais e proprietários rurais, que, para legitimar o novo regime junto ao povo, tentou forjar mitos e símbolos.
Aprendemos na escola a ver a República como um movimento renovador e patriótico. Mas o episódio teve uma repercussão bem diferente daquela que está nos livros. A população carioca assistiu, no dia 15 de novembro de 1889, a uma parada militar liderada pelo marechal Deodoro da Fonseca, que até o último momento hesitou em desempenhar o papel de "proclamador”.
Testemunhos da época sustentam que o marechal deu um “viva ao imperador” ao fazer o famoso gesto que o pintor Henrique Bernadelli eternizou em quadro, e até hoje simboliza o ato da proclamação.
A descrição que o dramaturgo Arthur de Azevedo fez do episódio não é mais animadora: o cortejo passou em silêncio pelas ruas e o marechal parecia “um herói derrotado, mal se sustentando na sela, a cara fechada, de cor ferrosa puxando para o verde”.José Murilo de Carvalho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é um dos historiadores que vêem a República com outros olhos: “Deodoro nunca foi republicano, nem antes, nem depois de 15 de novembro”, afirma. O marechal aceitou a missão por razões corporativistas, em defesa da honra militar, e também táticas, já que os conspiradores eram muito jovens.
Alegorias republicanas
De todos os símbolos fabricados, só a bandeira vingou
O mito do herói
A atuação dos participantes de 15 de novembro não foi suficiente para transformá-los em heróis. O jeito foi promover Tiradentes ao panteão cívico da República. Durante o desfile, o pintor positivista Décio Villares distribuiu uma litogravura onde o inconfidente aparecia com ares de Cristo.
A mulher República
Todo o esforço de representar o novo regime por meio da figura feminina, como foi feito na França, fracassou. Nesta tentativa de Décio Villares, a República brasileira tem na cabeça o barrete frígio, tal como foi usado ao tempo da primeira república francesa. Mas ganhou um toque nacional, passando de vermelho a verde e amarelo.(*)
(*) Cláudio Fragata Lopes é jornalista
cfragata@edglobo.com.br
(continua)