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sábado, 6 de novembro de 2010

Jornada nas Estrelas - José do Vale Pinheiro Feitosa

O século XX, os historiadores sabem, foi o século das ideologias. Assim como o XVIII foi das revoluções. Usando nova moda de linguagem aqui no Rio: “o quê acontece?...” Então o quê acontece? Quem pergunta responde: foi um modo de resolver atrasos relativos de desenvolvimento social e econômico. Aparentemente opondo capitalismo e socialismo, mas a rigor era uma dependência do mercado mundial de comércio. Ou seja, eram partes de um todo.

Os grandes movimentos ideológicos foram superados. Quando se diz a frase, “O Muro de Berlim Caiu”, o fim da União Soviética, na verdade se quer dizer caíram as ideologias como condutoras da humanidade. E sem vencedores. A sobrevivência de um neoliberalismo ligado à expansão do capitalismo financeiro globalizado ainda é o fim das ideologias. Não da história.

Como as marcas do tempo no pensamento humano, especialmente na sua semântica, permanecem por longos tempos, ainda ouvimos muitos termos que relembram aquele passado. Particularmente objeto do pensamento conservador aqui nas Américas. Parece que a Guerra Fria continua com suas categorias. Quando um sistema de saúde público para alguns americanos significa um “monstro socialista”.

Interessante dizer que vivemos com algumas relevâncias da velha geopolítica. Vide Nelson Jobim marcando o território do Atlântico Sul na sua palestra em Portugal. Há quinze dias o ex-dirigente russo Mikhail Gorbachev relevou à BBC que Margareth Thatcher e Mitterrand pediram para ele fazer um ataque militar à Alemanha Oriental para evitar a reunificação.

Aquelas sofisticadas ideologias do século XX, que metodologicamente produziu um conhecimento vasto em várias áreas das preocupações humanas não foram simplesmente esquecidos. Os conhecimentos não desaparecem com o fim da importância política das ideologias. Explicarão o futuro do mesmo modo que servia quando elaborada. O pensamento socialista e o liberal de mercado continuam produzindo conhecimento o tempo todo.

A questão agora é que a contradições estão noutro patamar, inclusive a depender dos países e continentes. Uma questão bem diferente da luta do passado entre socialismo e liberal de mercado é a luta política atual, que parece muito mais estratégica: qual a forma mais racional de produzir melhores efeitos com o sistema de produção, circulação e consumo das mercadorias? É pelo Estado ou pela livre fruição dos mercados livres a disputarem espaço comercial?

Efetivamente são estas as questões do momento. Não há destaque no pensamento doutros sistemas de propriedade da produção, noutro modo de organizar o acesso a bens e materiais essenciais à vida. Esclareço: claro que continuam imaginando, quero dizer que não é esta a luta principal agora. Poderá ser no futuro? Sem dúvida alguma a depender, inclusive das crises atuais do sistema financeiro dos países mais desenvolvidos.

Um último parágrafo a este texto já longo. Todos recordam a série de televisão e filmes chamados Jornada nas Estrelas. Que se passava essencialmente no micro-cosmo de uma nave espacial indo até onde ninguém jamais fora. Examinem a visão de futuro daquela geração dos anos 60 nos EUA e do seu pensador principal nos roteiros: Gene Roddenberry. Era uma sociedade racional, com formação militar hierarquizada (claro era uma nave), planejada, estratégica, que representava uma federação, voltada para a ética, os direitos humanos, a liberdade cultural e o bem estar das pessoas. Tudo isso num estado de produção com todos dedicados a grandes missões no espaço e no futuro.

O flagelo das drogas - Emerson Monteiro

Há poucos dias, ouvi algumas palavras de uma amiga que sofre o calvário de ter um filho viciado em crack, essa droga de consequências danosas para o futuro do usuário, formada a partir da mistura de cocaína e bicarbonato de sódio. Em depoimento dos mais sinceros, narrou o transtorno gerado na família por conta de hábito que vitima expressiva margem da juventude nos dias atuais. A agressividade e o instinto liberados na abstinência do produto ocasionam cenas de profundo sofrimento a todos, dentro de casa, reações impetuosas apenas contidas na reutilização da substância, causando nisso gastos imprevistos e situações de desânimo e infelicidade.
O testemunho presenciado faz coro com as centenas, milhares, de outras histórias espalhadas no mundo inteiro. A faixa dos atingidos pelo mal se prende às classes de menor poder aquisitivo e que provem de outros grupos de dependência do álcool e outras drogas, desajustados sociais, moradores de rua e ex-sentenciados.
Nota trágica dos tempos industrializados e cidades massificadas, a droga invade o âmbito por vezes despreparado de órgãos responsáveis pela saúde pública em graus jamais previstos, neste modelo de civilização hoje adotado. Calamidade perversa, destrói a autoestima de populações inteiras do exército de reposição da mão-de-obra do sistema, ocasionando surpresa e impossibilidades.
Por causa dos estalidos que as pedras provocam quando acesas, parecido com coisa sendo fragmentada, recebeu o nome de crack, que significa quebrar, em inglês. A fumaça desprendida pela queima atinge o sistema nervoso central em dez segundos, absorvida pelos pulmões, para gerar efeito de três a dez minutos de duração. Forte euforia, seguida de profunda depressão, condiciona quem dele se utiliza a repetir o processo, querendo, com isso, neutralizar, a duras penas, o desgaste orgânico, daí a rigorosa dependência que constrange suas vítimas escravizadas. De comum, gera também alucinações e ilusões de perseguição, ou paranóia, conforme diz a ciência.
Desenvolvido nos Estados Unidos, nas classes menos favorecidas, o crack apresenta o menor índice de recuperação de viciados entre todos os entorpecentes, enquanto que o usuário é considerado enfermo de uma doença adquirida. Além disso, em geral os familiares não possuem condições financeiras de custear tratamentos mais sofisticados em clínicas particulares, e os países ainda se debatem sob o despreparo no atendimento oficial daqueles que se submetem à química destruidora.
A propósito dessa mãe com que conversei sobre o assunto, em face da dor que no momento lhe constrange, ela recorre à força poderosa da religiosidade para encontrar conforto em meio do martírio. Isso fez com que eu apenas silenciasse, em respeito ao mistério que a isso tudo envolve nesta vida.

Nudoc recebe doação de telegramas de Padre Cícero e realiza debate sobre o tema - por Régis Lopes (Diretor do Nudoc - UFC)

O Núcleo de Documentação Cultural (Nudoc) da UFC realiza no próximo dia 12 de novembro (sexta-feira) solenidade para receber doação de 12 livros contendo telegramas recebidos e enviados pelo padre Cícero Romão Batista, entre 1912 e 1934. A doação será feita pelo pesquisador e professor aposentado da UFC, Renato Casimiro, ao diretor do Nudoc.

O evento acontece às 9h30, no auditório do Departamento de História da UFC, seguido pelo debate: “Os arquivos do padre Cícero”. Participam da discussão o professor Renato Casimiro, o administrador do arquivo da Diocese de Crato, padre Roserlândio de Sousa, e a psicóloga e teóloga Maria do Carmo Forti, autora de estudos sobre o milagre em Juazeiro do Norte.

A instituição já possuía três livros de telegramas do padre Cícero, que atualmente é objeto de um dos mais expressivos cultos populares do Brasil. Assim, a coleção original de 15 volumes dos telegramas volta a se juntar, e por meio do Nudoc ficará à disposição para um maior número de pesquisadores, gerando assim novos estudos sobre o tema.

CRATO, CIDADE ESQUECIDA – POR PEDRO ESMERALDO

Às vezes, tenho medo de falar à toa, mas não posso deixar de glorificar a minha cidade.

Desde tenra idade, fiz um ajuste comigo mesmo que foi defender o meu torrão natal até a última hora. Ocorre, porém, que não encontro apoio firme entre os cratenses para debater de sã consciência os problemas da cidade. Note que há uma camada constituída por homens de pensamento negativo, que se acomodam e ficam esperando as conseqüências desagradáveis para depois agir, quando a situação não é mais favorável.

Nesse caso, aguardam o desenrolar dos acontecimentos, posto que ficam na expectativa para ver se conseguem algumas migalhas e quando as conseguem, é por meio de esforços de terceiros, é aí, então, que aparece um como sendo o pai da criança.

Lembro-me muito bem de um melhoramento que o Crato perdeu, que com toda certeza, vinha diretamente para cá e os políticos se acomodaram, pois engavetaram o projeto, não se sabendo porque razão, fizeram corpo mole, pensando que estavam solucionando os acontecimentos, pois por causa da demora, acontecem as maiores dores de cabeça da história da cidade do Crato; deixaram que os artistas de mão ligeira levassem sorrateiramente esse benefício para outro município. Por isso o Crato foi para o canto do desespero, provocado pelo engano de alguns políticos acomodados e o cratense ficou sem vivacidade, pois os próprios políticos responsáveis pelo logro empurraram o barco imundo contra a correnteza de desengano total, que quase a cidade não arrebatava algum quinhão desse projeto.

Esses políticos cratenses alegavam que não havia representação no congresso nacional. Ora essa, senhores representantes da política cratense, se não conhecem as representações políticas cratenses, é o próprio povo, através de movimentos, saindo às ruas, que deve reclamar com altivez o desprezo da cidade.

De fato, essa representação que o Crato não possui é causada pelos próprios políticos, já que vivem entregando o município aos inimigos, deixam de lado os bons costumes e não apóiam os filhos da cidade para exercerem cargos eletivos. Ficam vendendo seus préstimos aos políticos de outras plagas, inimigos da cidade, deixando ao léu os mais agudos apoios morais e financeiros, como faziam os políticos de outrora. Também recordo que esses tais políticos desprezam a juventude, não dão nenhum apoio e ficam atolados com os velhos viciados, que não tem jeito algum de trabalhar.

Antigamente, a juventude cratense era atuante, vibrante e arrojada. Hoje, vê-se a juventude apática, doentia e viciada.

Por essa razão, os políticos têm de reagir, deixar de lado o comodismo, caprichos e mudar o rumo da história.

Crato, 03.11.2010

Obs.: Refere-se esta crônica à perda do Campus da UFC. Crato perdeu por falta de atividade dos políticos fracos, indolentes e sem visão.

Artigo de autoria de Pedro Esmeraldo

A Aquarela e Sofia - José do Vale Pinheiro Feitosa

Sabem que ela é tão brasileirinha. Com três anos daqui a dois dias e carrega o diminutivo com tanto carinho que me lembra Vinícius de Moraes. E deixa quem ao lado se encontra em estado confuso: se o infinito o é, como imaginar um olhar que o contemple? Mas Sofia consegue.

Quando pronuncia é “quinininho” a palavra pequeno reduzida ao seu mínimo carrega a imagem do infinito. Ela põe o espírito além do infinito que afinal é a sede do pensamento e do conhecimento. Esta menininha tão “quinininha” tem amplitude de raio muito mais ampla que as jornadas vincadas destes anos vividos. Vividos como chama a esgotar seu combustível no recipiente a si dedicado.

E não chega até este vídeo de computador sem que diga: eu quelo quelela! Bota quelela vovô! Quelela! Quelela! Vovô já aprendeu a falar, já compreende a linguagem da emoção daquele ser tão amplo: busca nas pastas e aponta a seta para a música Aquarela de Toquinho e Vinícius.

E pode ficar a eternidade que ela repetirá a mesma tantas vezes quanto no mundo permanecer. Desenhando sóis amarelos e com cinco ou seis retas um castelo. Os olhos brilhando como estrelas duplas e o rosto coletando néctar como uma borboleta de meiguice. Atenta ao lápis em torno da mão que lhe dá uma luva e os dois riscos com os quais tem um guarda-chuva.

Sofia não tem um olhar para os lados, toda a sua atenção é como um pinguinho de tinta no azul do papel e a linda gaivota a voar no céu. E o avô também apenas para ela e vai voando, contornando a imensa curva norte e sul, entre o rosto imerso no mundo maior que as necessidades materiais e a tradução desse pequeno barco a vela, brando, navegando tanto céu e mar.

A mão “quininha” dela se levanta como o poderoso superar da gravidade de uma massa imensa de metais e vida. Entre as nuvens vem surgindo um lindo avião, tudo em volta colorindo com suas luzes a piscar. E o avô embarca nesta viagem, basta imaginar, e com ela partindo, serena e linda e se ela quiser volta a pousar. Sofia parece compreender o poeta criança com seus sonhos de adulto, num navio de partida, com alguns bons amigos, bebendo de bem com a vida...De bem com a vida....

A aquarela continua a criar situações e com ela Sofia. Pulando de uma América a outra num segundo e num simples giro, que ela repete com o rostinho virado para o alto e para baixo, num círculo que faz o seu mundo. Ela ainda não entende o muro que nos separa do futuro, ela é um contínuo sem qualificativos. Mas abre um sorriso para quando Vinícius disse que o futuro é uma astronave, ela gosta do foguete e do fogo que o impulsiona e não especula. Não pergunta sobre aquilo que angustiava o poeta: o que não tem tempo, nem piedade, nem tem hora de chegar, sem pedir licença.

Sofria está no curso do pleno que a vida social nos tira. Gosta da imagem da estrada infinita, mas não imagina o fim dela. Sobretudo imagina uma linda passarela de uma aquarela que não descolorirá. E diz: de novo! Quelela, vovô!