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quarta-feira, 12 de novembro de 2008

SOFIA E O TEMPO

Tem Sofia trezentos e sessenta e cinco dias ou os dias tiveram Sofia? Certo que a segunda alternativa é verdadeira. Os dias, desde então, passaram a ser tantas coisas com a adição de Sofia. No cômputo geral do conteúdo dos dias há Sofia não como um domicílio ou como um membro apenas. Há Sofia como um acréscimo da qualidade do mundo. É inegável a presença de um novo sim entre todos os conteúdos afirmados pela existência. A singularidade que não se exprime totalmente apenas pelo número um e tampouco como primeira classe de uma ordem. Entre tanta preocupação de se eternizar, Sofia já é muito mais que um numeral, uma partícula ou mero arranjo. Sofia é a conjugação única e ao mesmo tempo plural com a qual se diz Sofia igual Borges dizia Aleph.

Entre os ritos sociais do aniversário de Sofia encontra-se o soprar a luz que uma vela emite. Ou dito de outra maneira, apagar o fogo que a cera derrete. Apagam-se tantas velas quantos os anos que tiveram alguém e em seguida cantos e gritos comemorativos. Mas um ano não se apagou, um ano inteiro teve Sofia. Quando se diz aniversário é que algo vem, que chega e que volta. Como a elipse da terra ao redor do sol. E claro, quando se comemora é justamente o que nos faz lembrar (memorar) dos tempos aditivados de Sofia.

Sem ali se encontrar é quase impossível se conceituar a expressão desta criança. Engatinhando para resolver a separação que o espaço promove entre os elementos presentes à sua cena. Encaixando objetos de tampa, apreendendo todas as ofertas que o rápido exame visual das coisas ela faz. O exame oral ainda é uma tendência marcante, mas agora a cabeça baixa, as bochechas estufadas e o olhar tão atento que parece destilar um outro olhar por trás de um segundo olhar. Se todos tivéssemos a intensidade com a qual Sofia examina os conteúdos e a mobilidade com a qual muda de objeto examinado, muito mais teríamos de tudo existente do que esta seletividade marrom chamada observação útil.

O mais impactante sobre esta emoção carregada em centenas de volts que existe em nossa dinâmica cotidiana é o sorriso aberto, com alguns dentes nascentes no centro do riso dela. Neste instante o mundo se articula imediatamente, tem eixo significante, esgalha-se em alteridades e multiplica-se em novidades. Todos nós, adicionados aos dias antes da adição de Sofia, sabemos sem que precisasse dizer o que disse, sobre a luminosidade desta expressão facial de Sofia.

E mais existe. Os sons. Algo como o início do mundo. O verbo que uma vez dito desencadeia criação e criaturas, derivados e conjugados. Outro dia uma cadela se aproximou e Sofia se alegrou com sua visão, nem bem um tempo passou e ela estava de língua para fora igual fazia o animal. Sofia repete as expressões do mundo. O mundo se encontra nela e ele só é assim por ter seu movimento como um substantivo adjetivado de Sofia.