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domingo, 26 de setembro de 2010

A Praça dos Oitizeiros - Por Magali de Figueiredo Esmeraldo

Quando chegamos à Praça da Sé, mesmo em qualquer hora do dia, temos para o nosso bem estar, uma agradável brisa que nos protege do calor. Tudo isso devido à preservação dos oitizeiros. Essas árvores estão ali há bastante tempo. Elas dão sombra para o transeunte que deseja sentar no banco dessa praça acolhedora, além de liberar o oxigênio necessário para purificar o ar que respiramos. Como todas as praças do Crato, a Praça da Sé é muito bonita e bem conservada.

Hoje só se fala na preservação do meio ambiente. Observamos que os governantes cratenses, ao longo dos anos, preservaram e ajudaram ao meio ambiente, deixando os oitizeiros fazerem o seu papel para tornar a vida das pessoas que se dirigem a praça, mais saudável, prazerosa e livre do calor do sol. Além do mais, é obrigação das pessoas que dirigem a nossa cidade e de todos nós, cuidarmos do futuro do nosso planeta, deixando as árvores vivas e nos beneficiando com o seu oxigênio.

A sombra dos oitizeiros abrange toda a praça. Se uma pessoa decidir fazer caminhada, poderá fazê-la em qualquer horário, pois as árvores formam um verdadeiro teto ao redor da praça. O Crato tem a vantagem de ter belas praças que embelezam a cidade e dão melhores condições de vida à sua população.

Lembro-me que na minha infância, a Praça a Sé era a praça das crianças, dos adolescentes, estudantes, namorados e de todos os cratenses. Houve época que tinha até um lago com jacaré para divertir as crianças, embora fosse assustador.

Na festa da Padroeira, todos freqüentavam a praça à tardinha e à noite para aproveitar o parque de diversões. Hoje também ainda continua sendo a praça dos cratenses.

Tenho boas lembranças do tempo que estudava no Colégio São João Bosco e, após as aulas, eu, meus colegas e minhas colegas, nos reuníamos abaixo da sombra de um oitizeiro para conversarmos. Mesmo sendo hora de sol quente, estávamos protegidos do calor pelas sombras das antigas árvores. Gostava tanto desses momentos que me esquecia do tempo e algumas vezes eu chegava em casa, atrasada para o almoço. Meu pai reclamava, pois ele queria a família reunida durante as refeições.

Muitos casais, há anos casados, namoraram nos bancos da Praça da Sé, às sombras dos oitizeiros. Eu e Carlos tivemos o privilégio de ter passado horas e horas nos bancos dessa praça no período de férias, conversando enquanto nos conhecíamos melhor. Nesses momentos matávamos a saudade do tempo de separação, quando ele tinha que viajar para Salvador, onde estudava. Por isso, um primo de Carlos até brincava com ele, dizendo que ele recebia a chave da praça do leiteiro e a entregava ao guarda noturno. A Praça da Sé era a praça dos namorados. E hoje, ainda é?

Por Magali de Figueiredo Esmeraldo

(RE) CONSTRUINDO A IDENTIDADE CARIRI



Brevemente, podemos dizer que identidade é aquilo que se é: “sou índio”, “sou branco”, “sou negro”. Dessa forma identidade parece ser algo positivo, (“aquilo que sou”), uma característica particular um fato autônomo. Esta, por sua vez, também, possui uma relação de dependência da diferença quando digo: “sou índio” estou diferenciando, negando; “não sou negro”, sob esse aspecto identidade é o ponto de origem que define a diferença; dizer o que sou implica dizer o que não sou.Podemos ainda, dizer que é o resultado de atos de criação, não são elementos da natureza, não são essências, ela é ativamente produzida, é uma produção cultural e social da cultura e dos sistemas simbólicos que a compõem.

A identidade “ser índio”, não pode ser vista, compreendida fora de um processo de produção simbólica, ela, só possui sentido em relação com uma cadeia de significados formados por outras identidades étnicas. A afirmação da identidade dos grupos sociais traduz o desejo desses grupos sociais, garantirem o acesso privilegiado aos bens sociais. A identidade está sempre ligada ao poder; incluir, excluir (esse pertence, esse não pertence), demarcar fronteiras (nós e eles), desenvolvidos e primitivos o que mostra a utilização de uma forma de classificação estruturada em torno de oposições binárias.

Há sempre nos grupos a busca de uma identidade como norma, a identidade normal é natural, desejável, única, essa possui tal força que nem é vista como uma identidade e, sim, como a identidade, por exemplo; numa sociedade de supremacia indígena “ser índio” não é considerado uma identidade.

No caso dos processos de reconstrução de identidades étnicas é comum o uso de mitos fundadores, a construção de símbolos étnicos: a língua e os mitos são elementos centrais nos processos de reconstrução identitária, pois, a memória coletiva é um fenômeno importante construído coletivamente e submetido a flutuações, transformações, mudanças constantes que muito contribuem com o sentimento de identidade, ou seja, o sentido da imagem de si, pra si e para os outros.

No processo de reconstrução de identidades étnicas há três elementos essências a serem observados: a unidade física, (fronteira de pertencimento ao grupo), a continuidade dentro do tempo, o sentimento de coerência (os diferentes elementos que formam um indivíduo são efetivamente unificados).A reconstrução da identidade coletiva dos remanescentes Cariris é, então, todos os esforços que o grupo tem feito longo do tempo, todo o trabalho necessário para dar a cada membro do grupo o sentimento de unidade, de continuidade e de coerência.

Após essa breve abordagem do resgate da identidade étnica Cariri, podemos dizer que; essa retomada esse resgate, se situa no campo da identidade coletiva resgatada uma vez que esta é percebida pelo contraste de um grupo ante outro grupo.

Contudo, é suficiente para entendermos o processo de retomada da identidade Cariri na comunidade de Monte Alverne em Crato, nos situarmos no campo da identidade considerando-a como um sistema de representações e símbolos que estão contidos em estórias, memórias, e imagens que servem de referência para esse grupo.

Francisco Filemon Souza Lopes
Aluno de Graduação do Curso de Ciências Sociais – URCA
Atuante na Pesquisa sobre Identidade Étnica Cariri

Oposição volta a desafiar chavismo nas eleições parlamentares da Venezuela

Após cinco anos, país renova neste domingo as 165 cadeiras de sua Assembleia Nacional

A Venezuela renova neste domingo, 26, as 165 cadeiras de sua Assembleia Nacional. A eleição marca o retorno da oposição partidária à cena política do país. Nas últimas eleições parlamentares, em 2005, os opositores boicotaram a votação, o que deu ao presidente Hugo Chávez o controle pleno do Legislativo.

Opositores trazem na camisa a frase 'Lute com seu voto

Unificado sob a Mesa de Unidade Democrática (MUD), o antichavismo lançou candidatos a 162 assentos do Parlamento (três são reservados a candidatos indígenas) e elegeu como bandeira o combate a criminalidade - um dos principais problemas do país.

Segundo analistas, o desafio do chavismo será o relacionamento com essa oposição, que deve ter no Congresso um foco de resistência. " A Venezuela não é uma democracia normal. Pelo histórico de Chávez, dificilmente ele negociaria com a oposição, como seria o correto. Mas também acho improvável que ele opte pela ditadura aberta", diz o professor Sadio Garavini di Turno, da Universidade Central da Venezuela (UCV).

O professor cita como exemplo o corte nas verbas federais para estados governados pela oposição e o fortalecimento das 'comunas' - assembleias populares comandadas por chavistas - como alternativas às ações da oposição no Congresso.

De acordo com as últimas pesquisas, no entanto, Chávez deve obter a maioria de 2/3 necessária para aprovar leis no Congresso. Graças a uma mudança nas regras eleitorais, que redesenhou distritos e deu mais deputados a regiões afeitas ao chavismo, deve haver uma diferença entre o número de deputados eleitos pelo governo e o voto popular.

Queda na popularidade
Segundo o analista da UCV, as regras foram alteradas por causa da queda na popularidade de Chávez. Em agosto, uma pesquisa da consultoria Keller e Associados estimou a aprovação do presidente em 37%, uma queda de 20 pontos percentuais em relação a 2009.

No referendo do ano passado, que permitiu ao líder venezuelano concorrer a um terceiro mandato em 2012, o "sim" ganhou - 54% contra 45%. Nas eleições presidenciais de 2006, Chávez obteve 62,8% dos votos, contra 36,9% do oposicionista Manuel Rosales.

De acordo com Garavini di Turno, a queda na popularidade do chavismo se deve essencialmente a três fatores: queda na receita obtida com petróleo, decorrente da crise mundial de 2009; colapso dos serviços públicos, inchados pelas estatizações; e aumento da violência urbana. Isso fez com que o presidente perdesse o apoio de moradores das áreas pobres das grandes cidades, principalmente na capital, Caracas.

"Chávez teve muito dinheiro. Mais do que ocorreu na ditadura. Mas, em vez de exigir uma contrapartida, como mandar o filho à escola, ele apenas estimulou o assistencialismo e o clientelismo", explica o professor. "Além disso, a ineficiência dos serviços públicos e a violência ajudaram a derrubar sua popularidade", completa.

Violência urbana
Em 2009, a Venezuela teve uma taxa de 75 homicídios por 100 mil habitantes, segundo pesquisa divulgada este mês. Em Caracas, o número chega a 200.

Para efeito de comparação, segundo dados Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2007 a taxa do homicídio no País era de 25,4 por 100 mil habitantes. Em Alagoas, o Estado mais violento, esse índice é de 58 por 10 mil. Em São Paulo, está em 15,4 por 100 mil.

Fonte: O Estado de S. Paulo

A imprensa no pós-Lula

O Estado de S.Paulo


O presidente Lula interrompeu a sucessão de pesados ataques aos meios de comunicação. Não que tenha mudado a sua peculiar visão do que seja a liberdade de imprensa - para ele, sinônimo de "informar corretamente", deixando implícito que se considera juiz, como governante, não como leitor, do que possa ser informação correta e o seu oposto. Mas mudou de tom. Numa longa entrevista ao portal Terra, divulgada na quinta-feira, Lula trocou a agressão pela crítica civilizada. Refutou as acusações de autoritarismo que se seguiram aos seus canhonaços e disse duvidar que exista um país com mais liberdade de comunicação do que o Brasil, "da parte do governo".

Esquece-se convenientemente de que o Planalto patrocinou em 2004 o projeto do Conselho Federal de Jornalismo que pretendia "orientar, fiscalizar e disciplinar" a atividade de informar. Diante da vigorosa reação da sociedade, o governo deixou a proposta morrer. De todo modo, a imprensa brasileira é hoje tão livre como era no primeiro dia de Lula presidente. Quando não é, como no caso da censura prévia imposta a este jornal, o problema se origina no Judiciário. A questão suscitada por algumas das afirmações de Lula na mencionada entrevista diz respeito ao futuro, dependendo de quem der as cartas nesse jogo, na hipótese de eleição da candidata Dilma Rousseff.

Disse o presidente que "duas ou três famílias são donas dos canais de televisão, e as mesmas são donas das rádios e donas dos jornais". (Nem por isso ele exprime desconforto com o fato de que o patriarca de uma dessas famílias é o seu dileto aliado José Sarney.) Disse também, embora não tivesse empregado o termo, que a propriedade cruzada dos meios de comunicação terá de ser revista no próximo governo, ou nos próximos governos, quando o Congresso deverá inexoravelmente estabelecer um novo marco regulatório do setor de telecomunicações. "Discutir isso", ressaltou, "é uma necessidade da nação brasileira." De pleno acordo. Não é de hoje que o Estado critica a concentração da propriedade na mídia e as facilidades para que um punhado de grupos econômicos controle, numa mesma praça, emissoras e publicações.

Ocorre que a exortação de Lula não pode ser dissociada das investidas petistas contra a autonomia da produção jornalística. Em circunstâncias normais, a preocupação manifestada pelo presidente seria salutar e merecedora de apoio. Mas ela pode ser tudo menos isso. É como na Argentina. Há pouco tempo, o governo da presidente Cristina Kirchner fez o Congresso aprovar uma Lei de Meios, a qual, tomada pelo valor de face, se destinaria a coibir a formação de conglomerados de comunicação, abrangendo, além das modalidades tradicionais, serviços de internet, TV a cabo e telefonia. Mas, ao dotar o governo de amplos poderes para intervir no setor, esse marco regulatório tem o claro propósito de dar à Casa Rosada poder para premiar a imprensa complacente e asfixiar aquela que ainda não desertou de suas funções de fiscalização e crítica.

Imaginem-se, portanto, os riscos de que um Congresso dominado pela coalizão lulista - e sob pressão dos "movimentos populares" atrelados ao PT - venha a impor uma legislação semelhante à do país vizinho, com o mesmo fim. Não se trata de fantasia. O ambiente para tal vem sendo laboriosamente construído pelos garroteadores em potencial da mídia. Entre um golpe de borduna e outro do presidente, por exemplo, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, cujas ambições partidárias no pós-Lula são amplamente conhecidas, aparece falando em "abuso do poder de informar" - uma óbvia senha para a companheirada. Seria o cúmulo da ingenuidade não ligar os pontos dessa urdidura.

O único dado alentador, no momento, foram as declarações de Dilma em defesa da liberdade de imprensa. A candidata não só tornou a repetir a boutade de que o único controle social da mídia que aprova é o controle remoto do televisor, como prometeu que, se eleita, não tentará impedir que a imprensa fale dela o que bem entender. "No máximo", antecipou, "vou dizer: está errado, por isso, por isso e por isso." É esperar que a sua posição prevaleça, se ela for a próxima presidente - que esperamos que não aconteça.

Em editoriais, Folha e Estadão se posicionam sobre sucessão

Em editoriais em suas edições deste domingo (26), os jornais Folha de S.Paulo e o Estado de S.Paulo se posicionaram a respeito da sucessão presidencial no País. A Folha e o Estadão reagiram às críticas à imprensa feitas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O Estadão declarou apoio ao candidato do PSDB à presidência da República, José Serra. A Folha criticou o presidente Lula e a "candidata oficial", Dilma Rousseff, do PT, e disse procurar manter uma orientação de "independência, pluralidade e apartidarismo editoriais".

Os dois jornais manifestaram oficialmente sua posição três dias depois de o presidente Lula afirmar, em entrevista exclusiva ao Terra, que a comunicação no País "é dominada por nove ou dez famílias" e que a imprensa "tem candidato e partido". Lula afirmou que os meios de comunicação deveriam manifestar claramente sua posição, em vez de defenderem "uma neutralidade disfarçada".

Estadão
Intitulado "O Mal a Evitar", o editorial do Estado de S. Paulo diz que "com todo o peso da responsabilidade (...), o Estado apoia a candidatura de José Serra à presidência da República". O jornal ressalta o "currículo exemplar de homem público e pelo que ele (Serra) pode representar para a recondução do País ao desenvolvimento econômico e social pautado por valores éticos". O jornal diz que Serra "é o que tem melhor possibilidade de evitar um grande mal para o País".

Com o apoio, o jornal rechaça a acusação do presidente Lula de que a imprensa "se comporta como um partido político". "Há uma enorme diferença entre se comportar como um partido político e tomar partido numa disputa eleitoral em que estão em jogo valores essenciais ao aprimoramento se não à própria sobrevivência da democracia neste País", afirma o editorial, que cita Lula como "chefe de uma facção que tanto mais sectária se torna quanto mais se apaixona pelo poder".

No editorial, o Estadão ainda diz que "Lula e seu entorno" escolhem os piores meios "para atingir seu fim precípuo: manter-se no poder" e cita as recentes denúncias de tráfico de influência na Casa Civil - o que culminou na demissão de ministra-chefe Erenice Guerra - e o "solapamento das instituições sobre as quais repousa a democracia - a começar pelo Congresso". Ao final do texto, o Estadão avalia que a idéia de que Lula "é o cara" hipnotiza os brasileiros e serve como "mau exemplo que permite a qualquer um se perguntar: 'Se ele pode ignorar as instituições a atropelar as leis, por que não eu?' Este é o mal a evitar".

Além de dizer que Dilma é uma "invenção" de Lula, o jornal pede uma reflexão aos eleitores. "O que estará em jogo, no dia 3 de outubro, não é apenas a continuidade de um projeto de crescimento econômico com a distribuição de dividendos sociais (...) o que o eleitor decidirá de mais importante é se deixará a máquina do Estado nas mãos de quem trata o governo e o seu partido político como se fossem uma coisa só".

O jornal pondera os lados positivos do governo Lula, "como no desenvolvimento econômico quanto na ampliação de programas sociais", mas considera que, ao mesmo tempo, houve a "desconstrução historicamente frágil no Brasil, mas indispensável para a consolidação, em qualquer parte, de qualquer processo de desenvolvimento de que o homem seja sujeito e não mero objeto".

Folha
A Folha não deu apoio a qualquer candidato e, em texto em sua primeira página intitulado "Todo poder tem limite", ressaltou que procura manter uma orientação de "independência, pluralidade e apartidarismo editoriais", o que redunda, segundo o jornal, "em questionamentos incisivos durante períodos de polarização eleitoral". O jornal critica duramente o presidente e a candidata Dilma Rousseff. Para a Folha, Lula e Dilma "têm-se limitado até aqui a vituperar a imprensa, exercendo seu próprio direito à livre expressão, embora em termos incompatíveis com a serenidade requerida no exercício do cargo que pretendem intercambiar".

Ao final do editorial, o jornal afirma que "tentativas de controle da imprensa" serão repudiadas: "Fiquem ambos advertidos, porém, de que tais bravatas somente redobram a confiança na utilidade pública do jornalismo livre. Fiquem advertidos de que tentativas de controle da imprensa serão repudiadas - e qualquer governo terá de violar cláusulas pétreas da Constituição na aventura temerária de implantá-lo".

A Folha diz que "vai longe o tempo" em que maiorias não seriam respeitadas no Brasil. "As eleições são livres e diretas, as apurações, confiáveis - e ninguém questiona que o vencedor toma posse e governa. Se existe risco à vista, é do enfraquecimento do sistema de freios e contrapesos que protege as liberdades públicas e o direito ao dissenso quando se formam ondas eleitorais avassaladoras, ainda que passageiras". E prossegue: "Nesses períodos, é a imprensa independente quem emite o primeiro alarme, não sendo outro o motivo do nervosismo presidencial em relação a jornais e revistas nesta altura da campanha eleitoral".

O jornal ressalta ainda ter sido a imprensa quem revelou ao País que uma agência da Receita Federal em Mauá, no ABC paulista, teria sido "convertida em órgão de espionagem clandestina contra adversários". Foi também a imprensa "quem mostrou que o principal gabinete do governo, a assessoria imediata de Lula e de sua candidata Dilma Rousseff, estava minado por espantosa infiltração de interesses particulares". E acrescenta: "É de calcular o grau de desleixo com o dinheiro e os direitos do contribuinte ao longo da vasta extensão do Estado federal".

Apesar das duras críticas, a Folha reconhece que "os altos índices de aprovação popular do presidente não são fortuitos". Para o jornal, os altos índices de popularidade de Lula refletem "o ambiente internacional favorável aos países em desenvolvimento, apesar da crise que atinge o mundo desenvolvido" e "os acertos do atual chefe do Estado".

Redação Terra

Consultor liga esquema da Casa Civil a contas no exterior

O esquema de favorecimento a empresas privadas que causou a demissão da ministra da Casa Civil, Erenice Guerra, contava com duas contas bancárias no exterior para receber o dinheiro arrecadado com contratos de intermediação de negócios com o governo federal. As contas estão em nome de empresas em Hong Kong, região administrativa especial da China. Segundo empresários de Campinas (SP), elas foram indicadas para o depósito de R$ 5 milhões para cobrir dívidas de campanha eleitoral.

A EDRB do Brasil diz que deveria pagar o valor para ter liberado um financiamento no BNDES. Como a Folha revelou no último dia 16, a Capital, consultoria de lobby dos filhos de Erenice, intermediou o contrato. O consultor Rubnei Quícoli, parceiro da EDRB num projeto de usina solar no Nordeste, e um dos dois donos da EDRB, Aldo Wagner, disseram à Folha que foram recebidos por Erenice em audiência na sede da Presidência da República para discutir o projeto --Erenice alegou que não foi à reunião, registrada na agenda oficial da Casa Civil.

A denúncia levou à queda da ministra no mesmo dia em que foi divulgada pela Folha. De acordo com os papeis, a Capital pediu R$ 240 mil em seis parcelas mais 5% sobre o total a ser liberado pelo banco. A EDRB pretendia obter R$ 9 bilhões do BNDES, em três parcelas.

A EDRB não fez os pagamentos, pedidos pela primeira vez em dezembro. Entre janeiro e fevereiro, o consultor enviou e-mails em tom ameaçador para a Capital e alertou a Casa Civil sobre a cobrança indevida. As conversas entre os dois lados, contudo, continuaram. Entre fevereiro e março, segundo o consultor, o ex-diretor dos Correios Marco Antônio Oliveira levantou a necessidade do pagamento de um bônus extra de R$ 5 milhões, que seriam usados para cobrir 'uma dívida' ligada à campanha da presidenciável Dilma Rousseff. O PT negou e ameaçou interpelar Quícoli.

Marco Antonio é tio de um dos sócios da Capital, Vinícius Castro, servidor da Casa Civil que também foi demitido neste mês. Num primeiro momento, como a Folha revelou em 16 de setembro, os lobistas da Capital sugeriram a Quícoli que o depósito dos R$ 5 milhões fosse feito na conta de outra consultoria de Brasília (a Synergy), no Banco do Brasil. Não houve acordo. O que não se sabia é que, em maio, as conversas foram retomadas. Quícoli disse que lhe foi sugerida uma segunda possibilidade: depósitos em duas contas registradas na agência do banco HSBC em Hong Kong.

A Folha apurou que as contas existem e que houve reuniões para discutir a remessa do dinheiro, embora ainda não esteja confirmado o uso eleitoral desse dinheiro.

Fonte: Folha.com

Jornal diz que depósito comprova pagamento a filho de Erenice

Do G1, em São Paulo


Reportagem do jornal "O Estado de S. Paulo" publicada neste sábado (25) afirma que documentos bancários em poder da Polícia Federal comprovariam o transferência de R$ 120 mil para a conta de empresa Capital Assessoria e Consultoria, que pertence aos filhos da ex-ministra chefe da Casa Civil, Erenice Guerra, e a um ex-assessor da pasta.

De acordo com o jornal, o depósito ocorreu seis dias após a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) conceder permissão de voo à Master Top Linhas Aéreas (MTA). A revista Veja divulgou no dia 11 que o contato entre Israel Guerra, filho da ex-ministra, e Baracat fazia parte de um suposto esquema de tráfico de influência. O objetivo seria fechar um contrato de prestação de serviços entre a empresa e os Correios.

Segundo a reportagem publicada pelo jornal neste sábado, os papéis foram entregues à Polícia Federal (PF) pelo empresário Fábio Baracat, que representava a MTA em Brasília. Ele depôs à PF na quinta-feira (23).

O comprovante bancário da transferência eletrônica é de 24 de dezembro de 2009. O jornal afirma que, em seu depoimento, Baracat disse que, dos R$ 120 mil, R$ 100 mil foram destinados ao pagamento do "lobby" realizado pela MTA na Anac para obter a licença de voo, enquanto o restante era parte da mensalidade que pagava à Capital.

Além dos comprovantes bancários, a reportagem afirma que entre os papéis haveria documentos que mostram que Israel Guerra e seus sócios intercederam para que a Infraero reduzisse em fevereiro deste ano uma multa de R$ 723 mil imposta à MTA. O valor para esse serviço seria de R$ 50 mil. De acordo com o jornal, Baracat qualificou essa cobrança, durante depoimento, como propina.

Presidente da OAB condena ataques contra a imprensa

Para Ophir Cavalcante, presidente nacional da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), ataques à liberdade de imprensa e de expressão - como têm feito o presidente Lula e entidades ligadas ao PT - não podem ser tolerados sob nenhum pretexto.

De acordo com Cavalcante, as críticas dirigidas à mídia não têm fundamento, já que "tudo o que foi noticiado tem tido crédito".

Em entrevista à Folha, o presidente da OAB ainda disse estranhar que aqueles que já se valeram da imprensa quando eram minoria agora resolvam se voltar contra ela.

Folha - O presidente Lula, a candidata Dilma Rousseff (PT) e entidades como MST e UNE têm feitos seguidos ataques à imprensa, dizendo por vezes que a mídia é "golpista". A OAB concorda com essas críticas?
Ophir Cavalcante - Não concorda. Para a OAB, não há democracia sem liberdade de expressão, princípio essencial sobre o qual se erige o Estado democrático.

Essas críticas vêm de setores e autoridades que sempre se valeram da liberdade de imprensa e de expressão quando eram minoria e estavam na oposição. Eles sempre usaram esses espaços democráticos para expor ideias e efetuar críticas.

É estranho que agora tenham esse posicionamento. Não sei se são atitudes eleitoreiras, mas não representam suas próprias histórias.

Há nesses ataques algum risco à democracia?
Não podemos por nenhum momento tolerar restrições à liberdade de imprensa e de expressão. As atitudes que vêm sendo adotadas pela mídia reafirmam o preceito democrático. A reação que está havendo pode até colocar em risco esse princípio maior.

Não podemos em nenhum momento transigir com a liberdade de expressão sob o argumento que seja, sob pena de haver um descaminho que não podemos tolerar.

Qual a sua opinião sobre o papel que a mídia tem exercido na atual disputa eleitoral? Há excesso da imprensa?
A meu ver, não há nada de novo no que a imprensa brasileira vem fazendo em termos de denúncias. Ela continua exercendo o mesmo papel que sempre exerceu.

É claro que, no processo eleitoral, a notícia toma dimensão maior e é aproveitada pelos envolvidos. Mas isso não pode retirar da imprensa a sua liberdade.

Eventuais exageros, que até agora não vi, se houver, devem ser combatidos dentro do processo judicial.

Até agora, tudo o que foi noticiado tem tido crédito, pois já provocou renúncia de ministra e exonerações de funcionários públicos. Se não fosse verdade, não haveria esse efeito.

Na quarta-feira foi lido um manifesto com a meta de "brecar a marcha para o autoritarismo". Com poucas exceções, as personalidades presentes no ato eram ligadas ao PSDB. O ato não pode ser visto como partidário?
Nesse momento, tudo que envolver pessoas engajadas em campanhas não deixa de ter um viés de influência política. Mas são atos válidos, que refletem a liberdade que se tem neste país.

A OAB sempre teve um posicionamento forte pela liberdade de imprensa. Não vamos abrir mão disso, mas não vamos nos confundir com partidos. O bem maior não é a candidatura de A ou B, mas a liberdade de expressão e de imprensa.

Esse clima de acirramento de parte a parte não é, ele próprio, ruim para a estabilidade institucional?
Temos que privilegiar e fortalecer as instituições, cada vez mais. Homens e pessoas não devem ter a mesma força que as instituições. Devem ser respeitados, claro, mas não há democracia que possa viver sem instituições fortes. Esse é um momento de esquecermos as paixões e pensarmos mais no Brasil.

Fonte: Folha.com

FHC admite que Dilma deve vencer e lamenta avanço lento

"Acho que ele será lembrado pelo crescimento e continuidade, e por ter dado mais ênfase nos gastos sociais. Eu fiz as reformas. Lula surfou na onda"

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso admitiu em entrevista ao jornal britânico Financial Times que a candidata do PT à Presidência, Dilma Roussef, deverá sair vitoriosa das eleições marcadas para o próximo dia 3 de outubro. FHC, porém, alertou que essa vitória representará um avanço mais lento do país: "Isso vai nos impedir de nos desenvolvermos mais rapidamente. Mas não vai levar o Brasil para trás. A sociedade é forte demais para isso".

O ex-presidente não escondeu sua frustração ao falar sobre as eleições, afirmando que a oposição ajudou a tornar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva um mito. "A oposição entendeu errado. Nós permitimos a mitificação de Lula. Mas Lula não é revolucionário. Ele surgiu da classe trabalhadora e se comporta como se fizesse parte da velha elite conservadora", avaliou FHC.

Para ele, Lula anestesiou o Brasil. "Nós nos esquecemos de que o país precisa continuar avançando. O que eu consegui fazer levou o país para a frente. Mas aí ele parou. Precisamos de uma nova onda de reformas", acrescentou o ex-presidente. "Como teremos um aumento de produtividade para ganhar competitividade? Com reforma fiscal, impostos menores e investimento em capital humano e infraestrutura."

FHC afirmou ainda que a grande questão que deveria ser debatida atualmente é a da "qualidade". "Nós gastamos toda a nossa vida nos preocupando sobre quantidade: se o PIB cresce ou não. Agora, a questão é qualidade. Que tipo de educação é essa? A principal razão para as crianças não irem à escola não é mais econômica. É porque elas perderam o interesse. A qualidade do ensino é péssima", lamentou.

Indagado sobre como Lula será lembrado na história, FHC respondeu: "Acho que ele será lembrado pelo crescimento e continuidade, e por ter dado mais ênfase nos gastos sociais". Sobre sua própria importância para a política brasileira, o ex-presidente resumiu: "Eu fiz as reformas. Lula surfou na onda".

(Com Agência Estado)

A onda vermelha

De cima a baixo no País, o eleitor apoia a continuidade e tende a garantir uma quase inédita maioria governista no Congresso

Octávio Costa e Sérgio Pardellas

SEM PARAR
Eleitores de todas as classes sociais mostram desejo de continuidade

Na esteira da candidatura de Dilma Rousseff à Presidência, uma onda vermelha está tomando conta do País. No início da corrida eleitoral, essa imagem foi cunhada pelos estrategistas da campanha do PT para motivar a militância. Mas, agora, tornou-se realidade. As pesquisas de opinião revelam a supremacia dos candidatos governistas na maioria dos Estados, o que poderá garantir a um eventual governo Dilma ampla maioria na Câmara e no Senado. Surfando numa maré mais favorável do que aquela que levou o ex-metalúrgico Lula ao Palácio do Planalto em 2002, os candidatos da base aliada aos governos estaduais lideram as eleições em 19 das 27 unidades da Federação. Na disputa pelas cadeiras do Senado, a onda vermelha é tão volumosa que deverá eleger 58 dos 81 representantes e deixar sem mandato quadros históricos da oposição. Na Câmara, os partidos governistas devem conquistar 401 dos 513 assentos.

“Acho que vamos assistir a uma vitória esmagadora dos partidos da coalizão do governo”, prevê o presidente do Instituto Brasileiro de Pesquisa Social, Geraldo Monteiro.

MAIORIA
Sólido apoio no Congresso pode facilitar a aprovação das reformas estruturais de que o País necessita

Não bastasse a liderança em 21 Estados, Dilma está na frente de José Serra (PSDB) em locais em que Lula foi derrotado pela oposição em 2006. Apesar da oscilação registrada na última semana, a ex-ministra está perto da vitória em antigos redutos oposicionistas como São Paulo, Santa Catarina e Paraná. Na maioria dos Estados em que ela lidera as pesquisas, os candidatos que apoia também estão na dianteira. Bons exemplos são o Rio de Janeiro e a Bahia, onde os governadores Sérgio Cabral (PMDB) e Jaques Wagner (PT) são favoritos para se reeleger no primeiro turno. Como exceções aparecem Minas Gerais, com Antonio Anastasia (PSDB) na liderança, e São Paulo, onde Geraldo Alckmin (PSDB) supera Aloizio Mercadante (PT). No Paraná, a onda vermelha já proporcionou uma grande virada. As últimas pesquisas mostram que o tucano Beto Richa, antes favorito ao governo, perdeu o primeiro lugar para Osmar Dias (PDT). Reviravoltas também têm ocorrido na disputa para o Senado. Até então cotado para uma das vagas do Rio, Cesar Maia (DEM) foi ultrapassado pelo ex-prefeito de Nova Iguaçu Lind­berg Farias (PT). No Amazonas, Arthur Virgílio perdeu o segundo lugar para Vanessa Grazziotin (PCdoB). Em Pernambuco, Marco Maciel (DEM), segundo colocado atrás de Humberto Costa (PT), foi ultrapassado por Armando Monteiro Neto (PTB).

A inédita sintonia fina entre Executivo e Legislativo, a partir de 2011, trará benefícios para o Brasil. Caso se confirme a sólida maioria no Congresso do possível futuro governo Dilma Rous­seff, o Brasil terá finalmente a chance de aprovar as mudanças estruturais que se fazem necessárias há anos, como as reformas política e tributária. “A agenda congressual a partir do ano que vem exigirá a votação das reformas. Com maioria no Legislativo e vontade política, será possível avançar nessas questões”, afirma David Fleischer, cientista político da UnB. Outro aspecto importante é a possibilidade da formação de uma concertação política, composta por partidos aliados chancelados pelo desejo popular. Desde a redemocratização do País, os governos construíram suas maiorias pelas artes do fisiologismo e das políticas do toma-lá-dá-cá, numa espécie de balcão de negócios em pleno Congresso. Nesse novo cenário, queiram ou não, deputados e senadores serão levados a participar de uma ação conjunta, na qual é de esperar que os objetivos políticos se sobreponham à visão patrimonialista do mandato.

 APOIO
Participação de Lula na campanha de Dilma incomodou a oposição

Há quem afirme que a concentração de poder nas mãos do Executivo, com o Legislativo dócil à vontade do Planalto, pode permitir uma recaída autoritária. O temor não se justifica. Não há ambiente no Brasil para esse tipo de surto. As instituições são sólidas e democráticas, e não há espaço para mudanças constitucionais em benefício de um partido, como aconteceu na história do México, onde o PRI controlou a vida política por 71 anos, graças ao domínio da máquina pública. “O que aconteceu no México foi muito diferente. O PRI chegou ao poder quando a economia mexicana, a sociedade e os políticos eram muito rudimentares e eles forjaram instituições para guiar o desenvolvimento em todas as áreas. Já o PT emergiu no momento em que a economia e as instituições já estavam consolidadas”, compara o brasilianista Peter Hakim, presidente do Interamerican Dialog.

MINORIA
No Largo de São Francisco (SP), menos de 100 pessoas lançam o manifesto

Contrariando todas as evidências, intelectuais e setores da elite, em São Paulo divulgaram, na semana passada, um manifesto em defesa da democracia e da liberdade de expressão. Um dia depois, o Clube Militar, no Rio de Janeiro, instituição marcada pelo apoio ao antigo regime de exceção que infernizou o País por 20 anos, promovia um inusitado painel de debates para discutir também supostos riscos à democracia no País. Tanto o documento do grupo de intelectuais quanto os debates dos militares ficaram a um passo de questionar a própria legitimidade da eleição de Dilma, em razão da participação do presidente Lula na campanha. Ambos não levaram em conta que a legitimidade brota das urnas. Embora o eleitor manifeste maciçamente sua intenção de votar pela continuidade das políticas oficiais, a opinião pública não vem sendo espelhada na ação de alguns agentes do processo político. O que parece ter sido esquecido no manifesto oposicionista de tendências golpistas é que a democracia é exercida pelo voto.

EQUÍVOCO
Um manifesto oportunista tentou passar a mensagem de que há uma ameaça à democracia. Esqueceu que a legitimidade vem pelo voto

O temor de uma vaga autoritária por parte do governo é deslocado da realidade. Não reflete o momento que o Brasil vive. Não há sinais concretos de que o presidente Lula tenha atentado contra a liberdade de imprensa. Ele vem fazendo apenas críticas pontuais, direito que não pode ser negado a qualquer cidadão, muito menos ao presidente. De resto, desde a luta contra a ditadura, Lula mostrou-se defensor intransigente das liberdades democráticas. “É incrível como as pessoas ficam empurrando o Lula para o chavismo, quando ele tem permanentemente se recusado a cruzar essa fronteira”, rebate o ex-ministro Delfim Netto, com a ironia de sempre. Delfim tem razão. A não ser que o observador da cena nacional, assustado com a onda vermelha, queira ver chifre em cabeça de cavalo.

Fonte: IstoÉ