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terça-feira, 23 de dezembro de 2008

É Natal,tempo de comemorar o nascimento do Rei dos Reis




REI DOS REIS
Por Otávio Luiz Rodrigues Júnior (*)

É Natal, tempo de comemorar o nascimento do Rei dos Reis. E recordo dessas peculiaridades da língua para comentar um episódio que faz refletir sobre o que é ser cristão. O Grão-Ducado de Luxemburgo é governado por um monarca católico, Henrique de Nassau – parente do nosso Maurício de Nassau – governador holandês de Pernambuco. O Parlamento luxemburguês aprovou há poucos dias a lei que permite a morte de pacientes em estado terminal, a chamada eutanásia. Tida como uma morte misericordiosa,porque evita o sofrimento do doente irrecuperável, a eutanásia é fortemente objetada pela Igreja. Independentemente disso, o simples fato de ter sido uma prática comum dos nazistas já deveria inspirar toda a repulsa,assim como o aborto,a eugenia e outras barbaridades cometidas contra nossos irmãos judeus.
Pois bem, Henrique de Nassau (na foto ao lado,juntamente com sua esposa), um príncipe, aristocrata poderoso, acima dos comuns, resolveu colocar em risco seu trono e decidiu não sancionar a lei. Tal como no Brasil, em relação ao presidente da República, uma lei só vale se contiver a assinatura do soberano de Luxemburgo. Por objeções de consciência, o grão-duque, católico fervoroso,preferiu ser um humilde servo do Rei dos Reis e, em nome da fé, ameaça seu trono na terra.Ele seguiu o preceito bíblico e abandonou o cálculo político.O monarca optou em servir o carpinteiro da Galiléia e renunciar às glórias deste mundo.
A crise política em seu país é imensa. Os deputados que aprovaram a lei,muitos dos quais ditos cristãos,pretendem agora retirar os poderes do grão-duque e impedi-lo de participar do processo legislativo.Há movimentos pela proclamação da República.O episódio deixa três lições.
A primeira está na necessidade de que, até mesmo nas democracias, existam limites contra os abusos da maioria. Hitler chegou ao poder e aprovou todas as leis contra a Humanidade dentro da Constituição alemã e com voto popular. O grão-duque,ao agir como agiu,postou-se corajosamente contra a maioria.Um Chefe de Estado,por sua simples autoridade moral,pode transformar a realidade política.
A segunda é que torna perceptível o quanto “descristianizada” está a Europa, antigo farol do mundo na propagação da fé. A terceira lição é voltada para nossos corações. Quantas vezes renunciamos à verdade, à defesa de nossos amigos, quando caluniados em sua ausência, ou à ética,quando podemos enriquecer?
Quantas vezes escolhemos o caminho fácil da covardia e do não-enfrentamento, quando valores humanos são sacrificados em nome da comodidade de nossas vidas?A lição do humilde servidor de Deus, Henrique de Nassau, deve ser recordada. Ele como um rei, preferiu ser fiel ao Rei dos Reis. Quem de nós faria semelhante coisa?

(*) Otávio Luiz Rodrigues Júnior é Doutor em Direito Civil (USP), professor universitário (IDP, IESB, FA7), advogado da União e membro da Associación Iberoamericana de Derecho Romano-Oviedo.

O NATAL E AS EDIFICAÇÕES PERENES

O mito do natal é um dos mais curiosos deste mundo. Não se pode dizer que seja o mito fundador do cristianismo, mas com certeza é o do nascimento de quem o funda. E quem funda algo, fundamenta, constrói fundações, ergue um edifício permanente sobre tais alicerces. E o edifício, mesmo que um dia se vislumbre como arqueologia, não se desapega da humanidade errante, sob as intempéries do céu que recobre sua paisagem. Não se desapega, pois são arqueologia e símbolos gráficos prolongados além dos milênios.

A verdade é que somos eventos precários no reboliço do mundo. Tão precários que alguns minutos sem oxigênio é fatal, dias sem água e comida interrompe toda uma fisiologia que já existe há milhares de anos. Como indivíduos somos precários. Mas tal precariedade não reduz toda a ventura humana. É que a humanidade e suspeito que parte da vida no planeta terra, além de evento como ser, também guarda uma dimensão de estar no mundo. E quando falamos em mundo já estamos numa dimensão cósmica, muito além de tudo que sabemos como estoque, mas muito aquém do que não sabemos como possibilidade. Muito existe de futuro no cosmo.

Agora ao nascimento. É que no início chamei o natal de curioso, mas não expliquei. O natal como fundamento do cristianismo, portanto de uma teologia e de uma religião, é muito mais que princípios ou edificações da paz humana. A irmandade entre todos. Na verdade o nascimento é, em sua raiz, a dinâmica do movimento geral do planeta e de toda natureza de energia e matéria no cosmo. A edificação é um momento de sustentação, como um instantâneo da significância geral. Não se descola do movimento, mas tem uma estática que tenta representar todo ele.

Não concluo se consegue de fato representar todo ele. Esta dúvida não tem importância. Pois o que o natal mais quer dizer não são os presentes, as comidas, as imagens do norte em neve, é o que todas as pessoas sabem, num determinado dia, pelo menos, das possibilidades do futuro. O mundo é muito mais amplo e vasto do que as regras de uma sociedade ou de uma economia, desde que a simbologia do natal ofereça a visão além da bruma. Quando se nasce, é que o sopro agita a calmaria da superfície. Quando todos nascem, rochas intrusivas afloram à superfície.